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Sertanejo ainda naturaliza o machismo apesar do feminejo, aponta pesquisa

Ao todo, foram analisadas as 300 músicas do segmento nas rádios de todo o país, entre elas, as 100 líderes do ranking

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Marília Mendonça
1 de 1 Marília Mendonça - Foto: Instagram/Reprodução

É impossível não reconhecer que a música sertaneja é, atualmente, o ritmo mais ouvido do país. Sempre no topo dos rankings de rádios e serviços de streaming, o segmento tem sido responsável por nacionalizar o gosto musical do brasileiro. Pensando nisso, pesquisadoras da Universidade de Brasília decidiram mostrar como as letras que retratam romances bem e mal-sucedidos têm construído ideais desiguais de relacionamentos amorosos no inconsciente de homens e mulheres, em uma pesquisa inédita.

Ao todo, foram analisadas 300 hits, entre eles, os 100 mais tocados nos três últimos anos. Nomes importantes da indústria fonográfica como Gusttavo Lima, Felipe Araújo, Henrique & Juliano e Marília Mendonça tiveram seus sucessos destrinchados pela aluna, feminista e pesquisadora da Universidade de Brasília, Mariah Gama, e pela professora Valeska Zanello. E o resultado é preocupante: na pedagogia do amor, as músicas sertanejas, em sua maioria, ainda naturalizam aspectos machistas da sociedade.

Um dos mais românticos e conhecidos refrões entoados por Gusttavo Lima, de Homem de Família — hoje com mais de 236 milhões de visualizações no YouTube — é carregado de mensagens que reforçam as relações de desigualdade. De acordo com Mariah Gama, os versos criam um ideal de mulher, tão única e incrível, que é capaz de transformar o baladeiro em homem de família, o pegador, em fiel.

“É uma ideia muito difundida no senso comum, essa de que a mulher é responsável por mudar hábitos ruins dos homens. É um peso muito forte que muitas carregam e que as mantém em relacionamentos abusivos, na esperança de que, a partir do seu sacrifício, o parceiro vá melhorar”, ressalta Mariah.

Violência psicológica

Para Mariah Gama, um exemplo de romantização da violência psicológica está em A Mala é Falsa, parceria entre Felipe Araújo e a dupla Henrique & Juliano, também com mais de 260 milhões de visualizações. “A mala é falsa amor/ Engole o choro, embora eu não vou/ Agora vê se aprende a dar valor/ Mata a minha sede de fazer amor”, diz trecho da canção que, segundo a pesquisadora, retrata uma situação de sexo forçado durante o casamento, quando o homem usa de chantagem emocional para que a mulher mantenha relações, mesmo sem vontade.

Mariah sinaliza que esse tipo de pesquisa não costuma ser rapidamente bem-recebidos pela população. “A gente está vivendo um momento de ofensiva antigênero e antifeminista, então é comum que esses apontamentos sobre as sutilezas do machismo e da misoginia na cultura popular, nas piadas, nas músicas ou nos filmes, sejam interpretados como ‘mimimi’, desqualificados e ignorados”, ressalta.

Contudo, a pesquisadora afirma que, o intuito da análise é mostrar que as sutilezas são, justamente, aquelas com um maior potencial de manutenção das hierarquias e das  relações de poder. “Pois têm a capacidade de serem naturalizadas e cristalizadas no imaginário coletivo, produzindo e reproduzindo subjetividades, modos de ser, de agir, de se relacionar e de amar”, completa.

Novas perspectivas

É esperado que, com cada vez mais mulheres ocupando espaços dentro do segmento sertanejo, que as mulheres proponham novas perspectivas em suas canções.  Embora seja possível encontrar músicas, que buscam romper com a lógica sexista, como Supera, de Marília Mendonça — onde uma mulher alerta outra sobre um relacionamento abusivo —, a maioria ainda continua reforçando relações de gênero desiguais nas relações amorosas.

Mesmo a Rainha do Feminejo possui no repertório canções que vão na contramão do empoderamento feminino. É o caso de Infiel, sucesso que despontou a goiana para a cena nacional, Amante Não Tem Lar, do segundo DVD da artista. De acordo com Mariah, nas duas canções é possível identificar a disputa e antagonismo entre a “mulher oficial” e a “amante”, ideias que agregam valor à uma e depreciam outra.

“Existem músicas ondes as cantoras romperam com essas narrativas machistas. Mas, a maioria, mesmo cantadas por elas, reproduzem essas ideias de rivalidade feminina, do amor e do marido como a grande missão de vida e algo que deva ser perseguido, e, ainda, a mulher como responsável pelo fracasso do relacionamento”, considera  Mariah Gama.

Por fim, a pesquisadora salienta que todas essas conclusões e resultados do estudo dizem respeito às dinâmicas heterossexuais de relacionamento, já que em nenhuma das 300 composições ouvidas, foi encontrada representações homoafetivas, seja de relacionamentos entre duas mulheres, ou entre dois homens. “É importante alertar para essa lacuna dentro da música sertaneja, um gênero que ignora a diversidade dos romances”, conclui. Para mais informações, palestras e dúvidas sobre a pesquisa, entre em contato com Mariah Gama.

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