Série de shows reúne poemas musicados de Fernando Pessoa
Trio Os Bandarra, liderado pelo cineasta André Luiz Oliveira (foto, no centro), apresenta o espetáculo “Mensagem” a partir desta sexta (23/10), no Museu dos Correios
atualizado
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Radicado em Brasília desde o início dos anos 1990, André Luiz Oliveira gosta de brincar dizendo que não é “nem músico nem cineasta de carreira”. Na verdade, ele desenvolve as duas faces artísticas em paralelo.
Diretor de “Meteorango Kid – O Herói Intergaláctico” (1969), um clássico do cinema marginal, o instrumentista encerra um projeto que lhe consumiu três décadas: musicar os 44 poemas do livro “Mensagem” (1934), de Fernando Pessoa. A partir desta sexta (23/10) e até 14 de novembro, uma série de oito shows gratuitos no Museu dos Correios dá notas finais ao trabalho.
A obra nasceu por pura paixão pela obra do poeta português. “Me encharquei de leituras, me embriaguei com a questão lusitana, a mítica da origem do povo português, as navegações, o misticismo messiânico”, enumera o compositor de 67 anos.
Ouça trechos da trilogia “Mensagem”
Entre poesias e melodias
Cercado por nomes populares, Oliveira iniciou o trabalho em 1985, com a gravação do primeiro CD. Nas doze faixas ali presentes, há participações de Caetano Veloso, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Gal Costa e Belchior, entre outros artistas. Músicos de calibre também interpretaram os poemas no segundo, lançado em 2003, e no derradeiro “Mensagem 3”, nas lojas a partir de terça (27/10). O material completo do projeto também rendeu um box de tiragem limitada, disponível na mesma data.
Em 1991, o projeto assumiu formato de banda quando Oliveira (voz e violão) montou o trio Os Bandarras com Cláudio Vinícius (viola caipira e teclado) e Ocelo Mendonça (violoncelo e flauta). Na turnê atual, o grupo terá reforço do percussionista Leander Motta.
A própria trajetória musical de Oliveira nasceu em solo lusitano. Com dois longas no currículo, “Meteorango” e “A Lenda de Ubirajara” (1975), ele se reinventou como violonista em Lisboa, cidade que adotou na década de 1970. Circulou em casas noturnas e só voltou a filmar em 1994, com “Louco por Cinema”, vencedor do Festival de Brasília.
“Mensagem” em documentário
A trilogia ganha acordes finais somente em disco. Assim que cumprir as apresentações no Museu dos Correios, Oliveira volta-se para o documentário “Mensagem, Mito e Música”. “Nele, exploro a figura de Pessoa no contexto da modernidade da língua portuguesa e a postura dele diante da literatura mundial”, adianta. O cineasta planeja inscrever o filme em editais de finalização e levantar recursos para terminar a produção.
O trabalho cinematográfico mais recente de Oliveira é “Ziriguidum Brasília – A Arte e o Sonho de Renato Matos”, seu quinto longa, lançado em agosto no Cine Brasília. Além de “Mensagem”, ele concentra energias em outros dois projetos: um longa sobre a não realização de um filme, “Viva o Povo Brasileiro – Por Que Não?”, em parceria com o produtor Márcio Curi (“A Última Estação”), e “Ecos do Silêncio”, ficção ainda em fase de roteiro sobre autismo.
Programação:
23/10 e 24/10 – “Brasão” (primeira parte, seções I e II)
30/10 e 31/10 – “Brasão” (primeira parte, seções III a V)
6/11 e 7/11 – “Mar Português” (segunda parte)
13/11 e 14/11 – “O Encoberto” (terceira parte)
Dias 23/10, 24/10, 30/10, 31/10, 6/11, 7/11, 13/11 e 14/11, às 20h, no Museu dos Correios (Setor Comercial Sul, Quadra 4, Bloco A, 3213-5076). Entrada franca. Classificação indicativa livre.