Samba e pagode conquistam espaço em lives e rivalizam com o sertanejo
O Metrópoles entrevistou grandes nomes dos gêneros e mostrou como o ritmo tem bombando falando de romance durante a pandemia
atualizado
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As novelas e filmes brasileiros costumam retratar um momento feliz com um samba, ou o começo de um relacionamento com um pagode romântico. Mesmo assim, nos últimos anos, o sertanejo tornou-se o gênero mais popular do país. A prova disso são as lives com show, que se tornaram comuns em meio à pandemia do coronavírus, e o sucesso das transmissões sertanejas.
O pagode e o samba, porém, provaram seu valor e se mostram bastante vivos nesta briga – contando com o impulso dado pelo clima de nostalgia que domina a quarentena. Pagodeiros e sambistas aderiram a onda das lives com show e conseguiram números expressivos de visualizações. Entre as mais bombadas, estão as apresentações do Péricles (13,7 milhões), Pixote (9,7 milhões), Thiaguinho (9,2 milhões), Ferrugem (8 milhões), Turma do Pagode (6,9 milhões) e Jeito Moleque (1,4 milhões).
Diferentemente das transmissões sertanejas, as lives do gênero contam com um clima leve, sem grandes produções, com receitas culinárias e muita intimidade entre o cantor e os fãs. A live de Sorriso Maroto que aconteceu em 25 de abril, por exemplo, serviu para que Bruno Cardoso, vocalista do grupo, colocasse em leilão uma camisa que ele usou em um dos primeiros DVDs do grupo. O valor arrecadado foi doado ao combate ao coronavírus.
Tanto o samba quanto o pagode colecionam músicas que retratam com muita clareza o momento de isolamento social que estamos vivendo e o turbilhão de sentimentos que precisam ser enfrentados todos os dias. Amor, companheirismo, solidão, saudade, reconciliação, carinho, afeto… o Metrópoles entrevistou o grupo Sorriso Maroto e os cantores Ferrugem, Mumuzinho e Péricles. Os artistas comentaram sobre o espaço que os ritmos tomaram em meio à pandemia.
“O pagode é um gênero que agrega as pessoas, integra um ambiente de amigos, família, sem ser uma música específica de balada, por exemplo. Para curtir um samba, não precisa estar necessariamente num bar, ou numa casa de show, na pegação etc. Nesta fase de pandemia, acredito que as pessoas querem se desligar do mundo, relaxar”, considerou Bruno Cardoso, do Sorriso Maroto.
Já Péricles comentou que o samba tem cumprido o papel de mandar boas mensagens, enquanto Mumuzinho, que foi vítima do coronavírus e precisou adiar sua live, afirmou que uma de suas músicas, intitulada Mantra, foi apoio para si mesmo e outras pessoas durante o isolamento.
“Foi uma espécie de mantra mesmo: ‘Eu quero, eu posso, eu luto/ Eu vou na fé sem desistir/ E eu vou conseguir’. E, assim como me fortaleceu, tenho certeza que ajuda milhares de outras pessoas. A música, independentemente do gênero, tem a força de tocar as pessoas. Basta se identificar”, considera Mumuzinho.
Vale lembrar que o samba e o pagode fazem parte dos gêneros musicais mais antigos do país. Há registros do samba de roda em 1860, enquanto o pagode, originário do samba, começou entre as décadas de 1970 e 1980. Por isso, repertório nostálgico é o que não falta!
A boa música não tem tempo, nem idade, muito menos prazo de validade. Um artista, que no decorrer dos anos conseguiu reunir um ótimo repertório, em um momento como esse das lives, terá sempre suas canções lembradas
Péricles
Vida na estrada
Assim como os outros gêneros musicais, os sambistas e pagodeiros são donos de uma agenda de shows cheia por todo o Brasil. Por isso, passam mais tempo em aviões e ônibus do que em casa. Essa regra, porém, mudou radicalmente com a pandemia e o cancelamento de todos os eventos com aglomerações. Apesar de prejudicar o artista no quesito econômico, eles podem agora fazer algo que há muito não se permitiam: curtir um tempo no lar!
Mesmo assim, todos os músicos entrevistados comentaram sobre a saudade dos palcos. “Com as lives podemos fazer o movimento econômico, artístico, continuar girando. E o mais legal é com tudo isso ainda ajudar quem precisa. Isso é fantástico. Mas mesmo assim, não nos completa como artistas. Gostamos do show, da galera cantando na nossa frente, da aglomeração”, avalia Bruno Cardoso.
Já Ferrugem comentou que as lives vieram para ficar e poderão ser usadas como artifício em um cenário pós-pandemia: “É algo novo para todos os artistas e vai se tornar uma modalidade após a quarentena. Mas claro, nada substitui a magia do show, de estar no palco trocando energia com as pessoas. Cada show é único e isso é fascinante. Não vejo a hora de retomar a agenda”.
Lives intimistas
Na live de Diogo Nogueira, por exemplo, além do repertório com muito samba, o auge da transmissão foi uma receita de moqueca que o artista ensinou enquanto cantava. Apenas com o cenário de sua casa, o cantor conseguiu atrair um público que mostrou estar interessado em vê-lo na cozinha. O Metrópoles mostrou que os fãs movimentam os chats das transmissões ao vivo e pediram muito por dicas de petiscos no show do sambista.
Assim como a de Diogo, as transmissões de Péricles e Mumuzinho contaram com um clima bem intimista. Os artistas provaram que não é necessário uma superprodução para conquistar seu espaço entre os queridinhos da internet.
“Diminuímos ao máximo o número de profissionais no set, até porque eu faço as minhas lives dentro de casa. Como não saio para nada, eu procuro também controlar o número de pessoas que circulam em casa durante as transmissões. Desde a nossa produção até a equipe de filmagem, é pouca gente. E o contato entre nós também é bem restrito”, contou Péricles.
“Inicialmente, a minha live seria na varanda da minha casa, mas depois do meu tratamento [de coronavírus] resolvi que gostaria de um lugar a céu aberto, que pudesse levar boa energias as pessoas e que tivesse algum significado na minha vida. Por isso, acabei escolhendo a Galeria Jardim, que foi onde eu casei há praticamente um ano”, revelou Mumuzinho.