“Rap pode ser caminho para luz”, diz Fabio Brazza sobre depressão
Cantor paulista conta como o rap ajudou no período com depressão e sobre o trabalho Isso Não É um Disco de Rap, previsto para 2020
atualizado
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O rapper Fabio Brazza, de 29 anos, lançou na última quarta-feira (04/12/2019) o single Boto Fé, uma das faixas do álbum Isso Não É um Disco de Rap, previsto para ser lançado no primeiro trimestre de 2020. Como um grito de esperança, o artista prepara seu novo disco em meio a uma depressão que o atingiu esse ano.
Cria das batalhas de rima de São Paulo e conhecido pelas improvisações envolvendo futebol, onde já homenageou com seus versos nomes como Zico, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno, Brazza prepara o lançamento do seu quinto disco, na busca por se estabelecer entre os principais nomes da cena do hip-hop nacional.
Mas em meio a esse processo, o artista se encontrou em um momento difícil. Este ano, Fabio foi diagnosticado com depressão, mas na arte e no rap encontrou forças para se recuperar e poder dar continuidade ao novo disco.
“Acho que a matéria-prima da arte são os sentimentos. É muito forte e transformador esse olhar pra dentro. Esse olhar é a desconstrução necessária em uma depressão, onde você precisa se revisitar e renascer e a arte constrói esse caminho. É como no Mito da Caverna, de Platão. A arte e o rap podem ser esse caminho para luz, para sair dessa caverna”, explica Brazza.
“A dor é a casca do conhecimento se quebrando. Tem um conhecimento que posso tirar daí!”
Fabio Brazza
Em entrevista ao Metrópoles, o cantor falou também sobre o processo de criação da faixa Boto Fé. De acordo com Brazza, a música surgiu da necessidade de expressar uma esperança. Para ele, falta no rap uma mensagem que motive os jovens a seguirem seus sonhos e ainda mais força para aqueles que passam por situações como a vivenciada por ele.
“No rap, a gente bate muito na tecla de ser ‘sombrio’, de sempre questionar. Esse ano foi muito assim, as pessoas passaram muito por isso. Eu acho que falta no rap essa força da mensagem, de questionar, mas também ‘dar’ uma luz no fim do túnel”, conta Brazza.
Trajetória e futuro
Após um ano do lançamento de Colírio da Cólera, disco acústico com participações de Negra Li e Cynthia Luz, Brazza retorna às batidas tradicionais do rap e aposta na mescla de estilos para conquistar o público mais jovem. Na faixa Preço do Papel (feat. com Nog), por exemplo, o artista rima sob beats de funk. Uma música em parceria com o pagodeiro Péricles tem previsão de lançamento para o início de 2020.
“Colírio era um acústico, eram músicas mais serenas, para escutar em casa. Quando terminei, não aguentava mais acústico (risos). Queria batida, rima, um rap mais pesado, senti essa necessidade e tentei trazer nesse, apesar de o nome ser meio contraditório. Mas também já enjoei, quero outras coisas. Mas um álbum é assim, é escutar o que você quer falar e transmitir sua verdade naquele momento, traduzir o que está sentindo”, compara.
Com produção de Paiva, Isso Não É um Disco de Rap tem previsão de estreia para o período entre março e abril do ano que vem. Até agora, foram lançados quatro singles: Centauros, feat. com Sant, Tattoo, com Lucas Carlos, e os dois mais recentes, Preço do Papel, com Nog, e Boto Fé. O rapper adianta que, além das faixas já divulgadas, o álbum deve ser composto por mais quatro músicas inéditas.
Outra novidade, antes do lançamento do álbum, é uma música inédita com Péricles. De acordo com Brazza, a produção da faixa é bem curiosa e deve surpreender, pois colocou o pagodeiro para cantar em um beat de boom bap. Mas o encontro reacendeu uma vontade antiga do rapper: fazer um álbum inteiramente de samba.
“Sou muito fã de samba, tanto que tenho algumas músicas nesse estilo. Eu queria muito lançar um álbum de samba, mas antes, preciso me consolidar mais no rap, se não vai confundir o público”, disse. Ele ressalta, ainda, que o custo de produção dos shows de samba é mais elevado que os de rap, o que seria outro empecilho para o projeto sair do papel.
Para o futuro, Brazza afirma que pretende se dedicar mais à música. Além de cantor, ele também é escritor (lançou seu segundo livro em agosto deste ano) e trabalha em eventos de futebol. “Pretendo no ano que vem me aproximar mais da música em geral, não ficar preso só no rap. Sinto que tem algumas barreiras que posso quebrar e ainda não quebrei”, encerra.