Policial e rapper, Thiago Afonso une os dois universos com arte
O agente da Polícia Civil, conhecido artisticamente como TR, faz críticas ao sistema e busca o entreter com o rap
atualizado
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Historicamente, as batalhas de rima e o rap são movimentos contra o sistema, com críticas ao abuso da violência do Estado nas comunidades. Por vezes, grandes nomes do gênero como Racionais MC’s e Orochi entraram em rota de colisão com policiais, mostrando o clima tenso entre as partes. No Distrito Federal, Thiago Afonso, policial civil de 29 anos de idade, é rapper e participante das batalhas de rima, é um exemplo de que é possível conciliar a atividade policial e o rap. Conhecido artisticamente como TR, o artista iniciou a caminhada ainda na escola, inspirado por Emicida.
Em 2013, quando realizou o concurso da Polícia Civil do Distrito Federal, Thiago já estava envolvido com o meio artístico. Tomou posse em 2016 e decidiu seguir com o rap e as batalhas de rima em paralelo com a nova profissão. A rotina, entretanto, não é fácil.
“É bem complicado e me exige muito, mas tenho conciliado bem. Nos tempos de folga estou sempre compondo, gravando, criando e participando das batalhas. Hoje, tento reservar uma parte do meu dia ao rap, da mesma maneira que faço para a polícia. A diferença é que no rap eu sou meu próprio chefe”, conta.
Nas músicas que compõe com o grupo de rap Bronx Hip Hop, ele busca o entretenimento. Quando está nas batalhas de rima, onde dois ou mais adversários se confrontam, tenta levar tudo em um clima de descontração, sem deixar de lado a propagação da cultura. Como referência, Thiago cita Gabriel Pensador, mas faz questão de ressaltar os nomes de Biro Ribeiro, Marinho, Heitor Valente e Dejah, artistas do Distrito Federal.
Na polícia
Ser policial e estar no ambiente do rap pode parecer controverso em um primeiro momento. As críticas do movimento musical ao militarismo estão presentes desde o fim da década de 1980, quando os primeiros grupos do estilo falavam sobre a realidade nas periferias do Brasil.
Em outros estados do Brasil, a criminalidade e o ambiente hostil fazem com que os policiais não se associem com o rap e as batalhas de rima, por conta do perigo. No Distrito Federal, o policial Thiago Afonso acredita que a situação é confortável para viver a vida dupla.
“Entendo que a criminalidade no DF existe, assim como em qualquer lugar do Brasil, mas em um nível controlado, graças ao bom serviço prestado pela polícias Civil e Militar. Estamos na capital federal, em uma cidade em que um policial consegue ir para o trabalho de metrô e fardado, algo que não acontece em outras grandes capitais do país. Na minha visão, esse bom trabalho das forças de segurança pública torna possível conciliar as profissões sem maiores problemas”, pondera.
Mesmo com letras e composições do rap direcionadas para a corporação em que trabalha, Thiago não se sente atingido e respeita a expressão dos outros artistas. “As batalhas de rima trazem críticas aos policiais corruptos, arbitrários, que abusam de sua autoridade, razão pela qual não me sinto atingido, tendo em vista que eu também faço duras críticas a esse tipo de ‘profissional'”, afirmou.
Ele também faz questão de desassociar a imagem do policial das pessoas opressoras: “Quando o rap transmite críticas ao sistema – que por vezes oprime, restringe acesso à direitos, é machista, homofóbico e racista –, eu entendo que as críticas são justas, dignas e motivadas. Em resumo, esse ambiente não vai de encontro aos meus princípios e muito menos ao fato de ser policial”.
Batalhas de rima
TR está na ativa e participa de disputas pelo Distrito Federal. No dia 28 de outubro, esteve na Batalha da Santinha, em Santa Maria, e foi o campeão. Com realização mensal, o evento é disponibilizada no YouTube. Na gravação, o rapper está de camisa vermelha, com o símbolo da Nike, e boné preto.
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