Perfil viral revela como samples são usados em músicas famosas
A técnica de samples, que é usar elementos já gravados em um novo material, é polêmica por envolver autenticidade e direitos autorais
atualizado
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“Modernizar o passado é uma evolução musical”. Este trecho de Monólogo ao Pé do Ouvido, do cantor e compositor brasileiro Chico Science define, de forma abstrata, o que é a técnica musical de uso de samples.
O método é bem polêmico, já que consiste em reutilizar uma parte de uma gravação sonora em outra. Ou seja: pegar um ritmo, melodia, fala ou efeitos sonoros gravados e usar em uma produção nova.
“O sample precisa ser necessariamente um trecho gravado – e não uma definição. Sample é ‘amostra’ em inglês. Então, é como se fosse uma amostra de uma música que já existe. É usar esse fragmento para criar uma nova música”, explica o músico e produtor de conteúdo digital Eduardo Camargo Meneghel.
Na página do Instagram Samples Assim (@samplesassim), o músico desvenda samples em canções nacionais e internacionais. Como o sucesso Mania de Você, da rainha do Rock, Rita Lee, que faz referência a Riders on the Storm, da banda The Doors. Ou o clássico da Bossa Nova, Ele e Ela, de Marcos Valle, que foi usado na canção Thank You, do rapper norte-americano Jay Z.
Incentivado por amigos, Eduardo abriu a página em janeiro deste ano e já acumula mais de 157 mil seguidores. Além do perfil no Instagram e do canal no YouTube, Eduardo participa de dois projetos musicais Canacut e Retalho, de música eletrônica.
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Artistas internacionais Vs. Música brasileira
Vários artistas internacionais usam samples de músicas brasileiras. Muitas vezes, o uso é tão discreto, que o público não percebe. Mas, em outros casos, pode ser uma forma de divulgar o material brasileiro para outros países.
“Vários produtores americanos garimpam mesmo. Nessa fase pré internet, eles vinham, pegavam muitos discos e iam ouvindo, ouvindo, ouvindo, até achar um sample que ninguém iria descobrir. Seja porque é um artista dos anos 70, às vezes underground. Agora que a gente tem a internet é muito mais fácil descobrir”, afirma Eduardo.
“Todo mundo está conectado, todo mundo pode fazer, falar, fazer um vídeo citando. A intenção da página é meio que valorizar a música brasileira, porque a gente mostra que esse som pode ter vindo do Brasil ou o brasileiro já fez antes”
Sample é arte ou não?
Apesar de alguns criticarem que não há autenticidade no uso de sample, Eduardo discorda, já que é uma reciclagem de elementos que se tornam algo novo.
“O que você consegue fazer de diferente a partir de um sample que é um super batido? Todo mundo já se sampleou, mas você dá a sua cara pra ele. Todo artista tem uma referência agora, o quanto ele consegue disfarçar isso?”, afirma Eduardo, pontuando o diferencial dos samples.
“Às vezes, o artista mascara tão bem que a gente não sabe qual é o ponto de partida. E a página consegue mostrar isso”
“Uma das coisas que eu até tento mostrar na página [do Instagram] é que toda música tem um ponto de partida, que é que não é algo que veio do nada na cabeça da pessoa. Eu também sou músico, então tenho uma noção disso. Ou seja, às vezes você está com uma melodia na cabeça ou ouvindo muito um estilo de música, e isso serve de inspiração para você”, explica.
Eduardo começa o processo de pesquisa por samples quando escuta um elemento musical familiar. “Tenta pegar alguma referência de qual ritmo pode ser, ou a década. Esse som tem cara dos anos 70, por exemplo. Você vai tentando refinar…”, comenta.
Direitos autorais
Na teoria, um artista precisa da autorização da gravadora ou do detentor dos direitos autorais de uma gravação para usar um sample. Mas, nem sempre é assim que a banda toca.
“E é uma discussão um pouco eterna. Eu acredito que tenha que pedir a devida autorização”, pontua Eduardo. No entanto, como um sample precisa ser gravado, há exceções sobre os direitos autorais.
Por exemplo, usar a melodia de Parabéns para Você, não é um sample, já que não tem uma gravação original dos acordes. Mas, usar um trecho de Parabéns Para Você tocado pelo Slash, é sample, já que, o que está sendo usado, são elementos de uma versão gravada da canção.
E vale destacar: há há consequências de não creditar o uso de um sample. No caso do hit Somebody That I Used To Know, o cantor australiano Gotye foi processado após usar um trecho de Seville, de Luiz Bonfá, sem autorização e precisou pagar mais em US$ 1 milhão em royalties a família do brasileiro, de acordo com o jornal Courier Mail.
História do sample
Apesar de ser uma técnica muito antiga, os samples se popularizaram com o rap. Isso porque os rappers precisavam de uma batida para rimar e pegavam este trecho de outros artista.
“No final dos anos 1970, o cara tinha rima, mas às vezes ele não tinha a base. Então, colocavam um trecho no disco de vinil em loop, ou seja, terminava o compasso, voltava, terminava e voltava… Então, o rapper conseguia rimar em cima e o pessoal começou a usar isso pra fazer música”