Pancadão, 150bpm, brega e rave: veja todas as vertentes do funk
Do funk melody ao brega, do 150bpm ao rave, o gênero tipicamente carioca rompeu barreiras nacionais e internacionais
atualizado
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Inspirado no gênero americano e nas batidas conhecidas como Miami Bass, o funk chegou com tudo ao Brasil em meados da década de 1980, e mesmo com as polêmicas que o cercam, tornou-se um dos gêneros musicais mais característicos e populares do país.
Através de nomes como Anitta, Kevinho e Ludmilla, que mesmo apostando num som mais pop, não deixam de lado o “batidão” em suas músicas, o gênero quebra as fronteiras do Brasil e leva o estilo para o restante do mundo.
Dos primeiros bailes no Rio de Janeiro, com os tradicionais “Mêlos”, passando pelas mixagens do Dj Marlboro, até o mais novo Rave funk, os pancadões passaram e ainda passam por várias modificações, criando ramificações no gênero, que fazem o estilo se popularizar ainda mais e ter música “para todos os gostos”.
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Segundo gênero mais escutado no país em 2019, de acordo com levantamento do Spotify, (ficando atrás apenas do Sertanejo), o funk ganhou duas vertentes nos últimos anos que rapidamente tomaram conta dos streamings, rádios e fez muita gente dançar os passinhos: o Brega Funk e o mais recente Rave Funk.
Com tantas opções e novas vertentes surgindo a cada dia, o Metrópoles te ajuda a entender um pouco mais de cada uma dessas tendências e os principais nomes de cada uma delas.
Mêlos
Inspirado inicialmente no groove do funk americano e no remix em cima das batidas da lenda do hip-hop, Afrika Bambaataa, o funk se estabeleceu no país e deu seus primeiros passos através dos chamados Mêlos.
Foi nesse período que surgiu o Mêlo da Mulher Feia e o Dj Marlboro, um dos personagens chaves para popularização do estilo e da tentativa de quebra do preconceito sobre o som. Com a coletânea disco Funk Brasil, que teria vendido mais de 200 mil cópias, ele levou o funk pela primeira vez para fora cenário underground, integrando o elenco fixo do programa da Xuxa.
Artistas: Dj Marlboro, Furacão 2000, Grandmaster Raphael.
Músicas: Mêlo da Mulher Feia (Dj Marlboro), Mêlo da Funebem, Mêlo do Eco e do Peixe
Melody
Com o início da década de 1990, um novo estilo de funk passa a dominar as paradas e fazer parte do gosto popular: o melody. Através de nomes como Claudinho e Buchecha, com as músicas Só Love e Conquista, o gênero passa a ter um estilo mais suave, dominado por letras românticas e uma batida melódica.
Nesse período, nomes como MC Marcinho, dono dos sucessos Glamourosa e Rap do Solitário, MC Leozinho e Robinho da Prata, com a música Copo de Vinho, também fizeram com que o ritmo ganhasse popularidade e entregasse clássicos do funk brasileiro, que volta e meia são relembrados em festas.
Artistas: Claudinho e Buchecha, MC Marcinho, MC Leozinho, Robinho da Prata.
Músicas: Só Love, Conquista, Copo de Vinho, Glamourosa, Rap do Solitário, Se Ela Dança Eu Danço.
Político
Em paralelo ao funk mais apaixonado, surgia uma vertente com batidas mais agressivas e letras que buscavam retratar a realidade das favelas do Rio de Janeiro, seguindo mais ou menos os passos do rap americano de grupos como N.W.A. Era a vez do rap funk ou funk político.
O som que servia de diversão nos bailes passou a ser meio de protesto e voz para as comunidades. Através de artistas com a dupla MC Cidinho & Doca, que em 1994 lançam o clássico Rap da Felicidade, e Mc Bob Rum, com o funk do Silva, o rap funk se firma e vira mais um grito vindo das favelas.
Artistas: MC Cidinho & Doca, MC Bob Rum.
Músicas: Rap da Felicidade, Rap das Armas, Rap do Silva.
Batidão
Com a chegada dos anos 2000, surge o batidão, um estilo mais animado e dançante. A partir da mudança da letra e dos beats, o funk vive o início da quebra do underground e passa a se tornar popular nos demais setores da sociedade. Período também que é auge de um dos maiores eventos do gênero: O Furacão 2000.
Nomes como Bonde do Tigrão, donos do sucesso Cerol na Mão, MC Serginho e Lacraia, com Eguinha Pocotó, ajudaram na popularização do estilo. Esse período também foi marcado pela ascensão das mulheres no gênero, através de nomes como Tati Quebra-Barraco.
Artistas: Bonde do Tigrão, Naldinho e Bela, MC Serginho e Lacraia, Os Hawaianos.
Músicas: Tapinha Não Dói, Eguinha Pocotó, Cerol na Mão, É o Pente.
Ostentação
Bastante ligado aos bailes cariocas, o estilo viveu um de seus maiores auges recentes em São Paulo, através do funk ostentação. No começo dos anos 2010, cantores paulistas usavam letras que se referiam ao luxo, dinheiro e consumo, com batidas mais eletrônicas para conquistar o público. Período também que artistas como Anitta e Kevinho começam a dar seus primeiros sucessos
Nessa época, funkeiros como MC Guimê, MC Lon e MC Daleste, que morreu precocemente ao ser baleado em um show, rapidamente ascenderam e se tornaram bastante famosos no Brasil e no exterior, firmando o funk no mainstream.
Outro fator importante para essa quebra foi a massificação da internet e de serviços de streaming como o YouTube, que fizeram com que as músicas fossem consumidas por um número bem maior de pessoas. É aí, que o canal Kondzilla começa a fazer sucesso com seus clipes e se tornar uma das grandes vitrines para os funkeiros paulistas. Atualmente, o canal do produtor Konrad tem o maior números de inscritos do Brasil.
Artistas: MC Guimê, MC Lon, MC Daleste, MC João, Mc Livinho.
Músicas: Baile de Favela, Plaque de 100, Novinha Vem que Tem, Eu sou Daleste Os Mlk é Liso.
150bpm
Depois do sucesso da versão paulista, o gênero voltou a terras cariocas em meados de 2018 e se reinventou com as batidas aceleradas do 150bpm. Os beats frenéticos tomaram conta do país com artistas como Kevin O Chris, FP do Trem Bala e Rennan da Penha, que em um ano colocaram o funk carioca novamente no topo.
Ligado aos bailes cariocas, como o da Gaiola, que serviu de nome para o sucesso de Kevin O Chris, o 150bpm, emprestando a frase popular entre os flamenguistas, levou o funk para outro patamar. A vertente, que aposta no beat acelerado, letras mais curtas e que não saem da cabeça, fez com que o gênero alcançasse seu maior momento mainstream, chamando inclusive a atenção de artista internacionais como o rapper canadense Drake, que regravou o sucesso Ela é do Tipo, e a grande estrela Anitta que também apostou no estilo.
Artistas: Kevin O Chris,FP do Trem Bala, Rennan da Penha, Pedro Sampaio.
Músicas: Evoluiu, Eu Vou Para Gaiola, Agora é Tudo Meu, Fica à Vontade
Brega
Em paralelo, o funk também viu uma nova vertente de sucesso estourar nas paradas nordestinas. Uma mistura do cancioneiro popular nordestino com o ritmo dançante dos morros cariocas. O brega funk traz os diversos sotaques do Nordeste – representados por gêneros contemporâneos como o arrocha e o pagodão baiano – unidos ao pancadão do Rio de Janeiro.
Em 2018, o segmento ganhou repercussão nacional com o hit Envolvimento, da pernambucana Paloma Roberta Santos, a MC Loma. O sucesso foi tamanho que a jovem acabou abrindo portas para vários de seus conterrâneos, entre eles, Aldair PlayBoy, MC Bruninho e MC Troia.
Pesquisa revelada pelo Spotify Brasil, mostra que a procura pela playlist de brega funk cresceu 145% neste ano na plataforma. A música Surtada, de Dadá Boladão, Tati Zaqui e OIK, por exemplo, entrou para o ranking das mais tocadas do serviço de streaming.
Artistas: MC Loma, Aldair PlayBoy, MC Bruninho, Shevchenko e Ell Loko, Dadá Boladão.
Músicas: Hit Contagiante, Envolvimento, Baile da Colômbia, Surtada e Chapuletei
Rave
Por fim, a mais agitada e mais recente das vertentes: o rave-funk. O estilo usa dos beats em 170bpm, para fazer uma mescla entre o funk e o techno e trance das festas rave. Artistas como Dj GBR já utilizam da variação em suas músicas há aproximadamente dois anos, mas o rave-funk só veio a estourar após a cantora Anitta lançar a música Rave de Favela, em parceria com Major Lazer e Mc Lan.
A faixa foi alvo de polêmicas nas redes sociais, após a poderosa afirmar que era pioneira no gênero. O Dj GBR inclusive reivindicou o pioneirismo no post de Anitta, mas disse “ser grato por ver o estilo que criou fazendo sucesso”. Ele é conhecido por remixar conhecidas músicas eletrônicas, com faixas e letras do funk.
Artistas: DJ GBR e Anitta.
Músicas: Rave de Quando Você se Foi Chorei, Rave de Favela, Especial Som dos Fluxos.