Onda noventista e dance music são as novas tendências da música pop em 2020
Dua Lipa, Lady Gaga, The Weeknd e Jessie Ware lançaram discos com essa pegada sonora: produtores avaliam a estratégia
atualizado
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O mundo da música pop, mesmo em meio à pandemia de Covid-19, manteve o circuito de lançamentos ativos em 2020. Lady Gaga, Dua Lipa, The Weeknd, Miley Cyrus e outros nomes entregaram singles e discos com algo em comum: o resgate de sonoridades dos anos 1990.
Dua Lipa, que virou fenômeno no Brasil graças ao BBB20, trouxe Future Nostalgia. Como o próprio nome revela, o álbum busca fontes sonoras na disco music e na eurodance – sucesso na década de 1990 e começo dos anos 2000.
Lady Gaga, em Chromatica, traz a mesma inspiração sonora: recuperando e modernizando as batidas eletrônicas das pistas de dança. As batidas seguem as mesmas tendências dos colegas The Weeknd, em After Hours, e de Jessie Ware, no ótimo What’s Your Pleasure.
A mais recente a aderir às sonoridades noventistas foi Miley Cyrus, no single Midnight Sky.
O DJ e produtor Filipe Guerra, que assinou trabalhos com Lorena Simpson, acredita que essa nova tendência da música pop é parte de uma característica da indústria. Segundo o especialista, há um histórico de se buscar referências em décadas anteriores.
“A dance music e a disco foram marcadas como a sonoridade de libertação. Principalmente a disco music, que surgiu no período efervescente na cultura pop e nos costumes. A música é um reflexo da sociedade e, como estamos vivendo um momento conservador, funciona também como um otimismo e a lembrança de uma era libertária”, contou Filipe Guerra ao Metrópoles.
A britânica Jessie Ware, por exemplo, traz uma modernização da dance, principalmente, nos singles Soul Control e Save a Kiss. A releitura desses artistas, também, resgatam o “pop de boate”, que vinha perdendo espaço para o hip-hop e o eletrônico.
“Hoje em dia, creio que a disco e a dance sofreram um tipo de ‘modernização’, um resgate do antigo e fundi-lo com o
novo”, conta o produtor Loov-U.
Familiaridade
Utilizar, mesmo que de maneira reciclada, beats e sonoridades de décadas anteriores tem uma outra função: gerar familiaridade nos ouvintes.
Ouvir sons já conhecidos é uma forma de transformar canções em hits de sucesso.
“A memória afetiva ajuda muito na composição de um hit. Sejam nos acordes, nos instrumentos, nos momentos melódicos. Reviver timbres e sons de uma era traz a sensação de conforto. Não é a toa que agora na pandemia as pessoas estão ouvindo muito mais músicas que marcaram seus momentos felizes”, argumenta Filipe Guerra.
Loov-U reconhece o uso da estratégia, no entanto, faz ressalvas à prática. Para o DJ e produtor, buscar beats conhecidos, mas não é garantia de sucesso.
“Quando se cria uma música, não existe uma fórmula secreta que a faça virar um hit. Neste caso em específico, mesmo usando a disco e a dance, isso não assegura que a faixa será um grande sucesso, é um fator a mais. Porém, usar do artifício da nostalgia pode causar um impacto maior”, conclui o produtor Loov-U.