Nova geração do samba renova repertório para fidelizar público jovem
No Dia do Samba, cantores comentam sobre o poder do gênero e o que ele representa para pessoas de todos os gêneros e idades no Brasil
atualizado
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O gênero musical mais conectado com o Brasil é o samba, presente no DNA do país. O ritmo é tão importante para a história nacional, que ganhou um dia próprio: comemorado nesta quinta-feira (2/12), o Dia do Samba é uma homenagem a um dos maiores nomes da música brasileira e sambista de Minas Gerais, Ary Barroso, que no final da década de 1930 compôs Na Baixa do Sapateiro, canção que expressava seu amor e admiração pela Bahia.
Nomes como Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, Cartola, Jorge Aragão e mais são os responsáveis por tornar o gênero popular no país, com músicas que costumam falar sobre amor, amizade e companheirismo. Não importa a idade, o gênero ou de onde a pessoa veio, em algum momento ela escutou o hino Não Deixe o Samba Morrer, de Alcione, ou Deixe a Vida me Levar, de Zeca Pagodinho.
Mesmo que neste momento o Carnaval, principal manifestação do samba brasileiro, esteja ameaçado pela pandemia da Covid-19 e o surgimento de uma nova variante, nomes da nova geração da música trabalham para manter vivo o legado dos precursores do gênero.
O cantor Tiee, filho do sambista Maninho da Cuíca, afirmou que acompanha as alterações das gerações, com ajuda do filho de 18 anos, para fidelizar tanto o público mais velho como os jovens. “Eu tento me manter antenado. Tenho um filho de 18 anos, estou sempre ligado no que ele está ouvindo, na linguagem”, disse, em entrevista ao Metrópoles.
“Mas o samba é um gênero musical que não sofre muito com essas transformações, já que a galera que iniciou tudo isso deixou pronto para a gente. A gente muda a linguagem, mexe um pouco nas letras. Mas o samba é atemporal, não tem essa de modernizar muito. Música boa arrebata qualquer coração”, completou.
Em concordância com Tiee, o grupo do Distrito Federal 7 na Roda relembrou uma frase do sambista Nelson Sargento: “O samba agoniza, mas não morre”. De acordo com eles, é necessário fazer um “passeio” no repertório musical desde grandes clássicos até musicas atuais para, dessa forma, incluir todas as idades.
“O samba nunca sai do cartaz, continua sendo uma identificação do Brasil lá fora, porque não tem nada parecido. [Mas] é fato que nós perdemos boa parte da velha guarda, e infelizmente não temos artistas que consigam ocupar esses lugares. A gente continua cantando nossos mestres, mas também compondo músicas que procurem dialogar com esse público mais novo”, garante.
Nas minhas apresentações eu passeio pelos sambas mais antigos e não sinto que os jovens não gostem, eles cantam muito. Eu sinto hoje que a pandemia afastou a galera do samba da rua, porque é a galera mais velha, e esse medo, mesmo com a vacina, ainda não cessou. A galera mais velha ainda está com medo de sair na rua
Tiee
Assista a entrevista completa com o cantor Tiee:
Samba X pagode
Uma dúvida constante entre os amantes do gênero é a diferença entre o samba e o pagode. Um surgiu do outro? Como diferenciar um ritmo do outro? Qual é melhor? Essa rixa, inclusive, é tema de discussões entre a velha guarda do gênero, que garantem que o pagode é apenas uma variação do samba, popularizada entre pessoas mais jovens, enquanto o samba fica por conta dos mais velhos.
Para explicar a diferença entre os dois gêneros, Tiee e o grupo 7 Na Roda citaram a mesma frase de Zeca Pagodinho: “É igual, mas é diferente, é diferente, mas é igual”. De acordo com os sambistas, artistas de ambos os gêneros se respeitam, mas a forma de cantar pagode se difere do samba por conta do seu conteúdo.
“Os artistas aprenderam a se respeitar e o própria sambista entendeu que o samba se transforma. O pagode é uma transformação do samba. São poucas as diferenças. A diferença está na forma de escrever, de cantar. O pagode é mais sobre o cotidiano, a vida das pessoas, enquanto o samba fala mais de amor e de uma forma mais latente, mais forte, e de fácil entendimento. Os dois se fortalecem”, comenta o 7 Na Roda.
A prova de que o gênero está se renovando, inclusive, é a chegada de novos cantores cada vez mais jovens. Marvvila, de 22 anos, vem desbravando o terreno e lança seu primeiro DVD da carreira, com a faixa de estreia chamada A Pagodeira, em parceria com PK e MC Don Juan.
Em A Pagodeira, Marvvila se aventura num pagofunk cheio de referências de outros artistas – desde os sucessos Quando a vontade bater e Oh Novinha, de PK e Don Juan, até Deixa Acontecer do Revelação e Caraca, Muleke! de Thiaguinho.
Samba no DF
Principal grupo de representatividade do samba em Brasília, o 7 Na Roda ainda aproveitou para comentar sobre a força do gênero na capital federal. De acordo com eles, a ideia é sempre mostrar o verdadeiro panorama do cotidiano brasiliense.
“O nosso foco é mostrar a potencialidade do samba brasiliense, do nosso cotidiano. As pessoas que consomem o nosso som percebem que a gente faz o possível para mostrar um panorama do samba brasiliense. A diferença do publico do DF é que em outras cidades talvez existam um número maior de público que consuma o samba, até por conta da história da nossa cidade”, finaliza o grupo.
Amante do samba é amante do samba em qualquer lugar. Quem consome samba se manifesta da mesma forma, com felicidade, entoando alto.
7 Na Roda