Disco de estreia do Maskavo Roots é relançado em vinil
Edição original vendeu apenas 14 mil cópias, mas se tornou um clássico do rock brasiliense dos anos 1990 e influenciou grupos que surgiram à época
atualizado
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Clássico do rock brasiliense dos anos 1990, o álbum “Maskavo Roots” completa duas décadas. Para celebrar a data, e atestar a qualidade do hoje cultuado trabalho, a bolachinha recebe uma bem-cuidada prensagem em vinil, com 500 cópias. O relançamento é produto de parceria da loja Dom Pedro Discos (412 Norte) com o selo pernambucano Assustado Discos.
Lançado em agosto de 1995, o álbum de estreia do Maskavo Roots saiu originalmente pelo Banguela, selo de breve e lapidar existência, e pegou a mesma onda de Raimundos e Little Quail, bandas conterrâneas e muito próximas. Vendeu calculadas 14 mil cópias, segundo os números oficiais da gravadora Warner, a responsável pelo Banguela.Se tal desempenho não chega a ser notável, vale dizer que o hepteto Maskavo Roots tinha público cativo aqui na cidade e, graças à sua mistura de rock, ska e reggae, exerceu influência marcante sobre outros artistas que logo surgiriam — dos Bois de Gerião aos Móveis Coloniais de Acaju, passando pelo então Nativus e por boa parte da cena local de reggae.
Éramos uma banda cover de Bob Marley que, lentamente, começou a trabalhar com nossas próprias composições. Apesar de todos termos outras influências e trazermos músicas de outros gêneros, nunca deixamos de ser uma banda de reggae, porque esse era o nosso idioma em comum
Carlos Pinduca, ex-guitarrista do Maskavo Roots
Contrato
Entre o fim de 1992 e maio de 1993, quando entraram no estúdio para registrar a primeira fita demo, os sete músicos do Maskavo Roots viveram meses intensos. Seus amigos dos Raimundos e do Little Quail estavam se profissionalizando e descolando contratos com gravadoras. Na perspectiva de algo semelhante, o grupo gravou uma fitinha cassete com “Far Away”, “Blond Problem” e “DDP”, todas em inglês, além de “Yo no Quiero Trabajar”, em espanhol.
Os Raimundos já tinham fechado com a Banguela, gravadora dos músicos dos Titãs e do jornalista e agitador cultural Carlos Eduardo Miranda, com verba da Warner. Fred Raimundo, baterista da banda amiga, levou a fita para ser ouvida em São Paulo e voltou com o recado: os Titãs gostariam de ouvir o Maskavo Roots em português.
Diariamente, os sete maskavos pegavam a estrada até Sobradinho para ensaiar na chácara da Vovó Ofélia, a avó do então baixista Ricardo Marrara. Nesse regime de trabalho, saíram todas as músicas que viriam a formar seu primeiro disco ao lado daquelas quatro da primeira fita cassete.
Gravação
Atendendo à encomenda dos Titãs, a safra de composições revelou uma trinca de músicas que comprovaram a versatilidade da banda: um reggae preguiçoso (“Quinta”), um ska neurótico (“Besta Mole”) e uma canção pop perfeita (“Tempestade”). Essa última virou o primeiro vídeo do grupo para a MTV, foi regravada pelo Pato Fu e frequentou os shows do Skank.
Todas foram gravadas novamente no estúdio BeBop, no bairro paulistano de Pinheiros, entre outubro e novembro de 1994. Depois de meses ensaiando com a Vovó Ofélia, o Maskavo Roots fechou contrato com o Banguela e chegou tinindo às sessões comandadas por Carlos Eduardo Miranda e Nando Reis (então baixista dos Titãs).
A participação de Nando foi pequena. Sugeriu apenas mudanças bem específicas. Tipo um fraseado de guitarra em “Gravidade” (acatada) e a linha de baixo de “Don Genaro” (não acatada). Miranda assumiu a mesa de som e, na prática, o engenheiro Beto Machado ditaria o ritmo das sessões. Os instrumentos foram gravados em períodos das 13h à 1h da manhã, seguindo a ordem consagrada na música pop. Primeiro bateria, depois baixo. Então teclados e guitarras. Por fim, os vocais.
Altas expectativas
“A nossa vida continuou a mesma, simplesmente a mesma. Voltamos para as nossas faculdades e nossos amigos ainda eram os mesmos”, define o tecladista Quim, 20 anos mais tarde, lembrando-se daquele momento de expectativa geral. A noite de lançamento do disco, essa sim, foi bem marcante, deu para encher a Asbac e engarrafar um trecho da Avenida das Nações.
Mas, aqui em Brasília, o Maskavo Roots já tinha um bom público desde a época do Cravo Rastafari. A ansiedade dos músicos era por algo maior. “Por muito tempo a gente ficou ouvindo que vai estourar, vai estourar, vai estourar”, conta o ex-baterista Rodrigo Txotxa. “O disco levou meses para ser lançado e enquanto isso, todo mundo do Banguela dizia que ia estourar.”
O disco recebeu resenhas positivas na imprensa. “Tempestade” teve boa rotação na MTV. O Maskavo abriu um show de Jorge Ben no Parque do Ibirapuera com transmissão ao vivo da MTV. Mais tarde, “Escotilha” entraria na trilha da novelinha “Malhação”, da Rede Globo. A banda assinou um contrato de representação com Manoel Poladian, o então poderoso empresário dos Titãs, mas…
Por muito tempo a gente ficou ouvindo que vai estourar, vai estourar, vai estourar. O disco levou meses para ser lançado e enquanto isso, todo mundo do Banguela dizia que ia estourar.
Txotxa, baterista
“Não aconteceu muito mais que isso”, explica Carlos Pinduca. “A gente continuou morando em Brasília, porque não tinha muito razão para se mudar. E por muito tempo eu tive uma sensação de ter sido loser com esse disco.”
Loser, diz Carlos Pinduca, de “perdedor”. A redenção viria com o tempo. Seu status de cult hoje oferece ao LP presença frequente em listas de melhores discos nacionais da década de 1990 e entre os melhores do rock brasiliense. Nesse clima, a formação original do Maskavo Rooots fez um show de celebração como convidada especial no Porão do Rock de 2009. E agora, este ano, apresentou-se no festival Bananada, em Goiânia, e deu um par de shows em Brasília para o relançamento do primeiro disco.
Sucesso comercial mesmo, a banda atingiria somente na entrada dos anos 2000. Mas só restavam ali dois integrantes dos sete originais: o guitarrista Prata e o agora baterista Quim. Atendendo apenas como Maskavo, o grupo passou a fazer um som mais pop e lançou dois discos – “Já” (2000) e “Asas” (2002) — que consolidaram sua carreira.
“Maskavo Roots”. Treze faixas, com produção de Carlos Eduardo Miranda e Nando Reis. Relançamento Assustado Discos/Dom Pedro Discos/Banguela Records. Apenas em vinil. R$ 70,00. À venda na Dom Pedro Discos (412 Norte.).