Ludmilla a Chappell Roan: o impacto do pop sáfico na música
A popularização de músicas sáficas ajuda no processo de aceitação da sexualidade e na quebra de preconceitos e esteriótipos
atualizado
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Não é raro que o relacionamento entre mulheres seja representado na cultura pop com um olhar hipersexualizado, focado no prazer masculino. Esse cenário vem mudando aos poucos, impulsionado pelo protagonismo de artistas sáficas que abraçam a sexualidade em letras e contam as próprias histórias em músicas romanticas, tristes, sensuais, raivosas e emocionantes.
A popularização e amplificação de músicas pop com teor sáfico podem contribuir para a luta de lésbicas, pansexuais e bissexuais na quebra de estereótipos e preconceitos, assim como na aceitação de mulheres que ainda estão se descobrindo.
Representatividade lésbica: entenda a origem e o que é o termo sáfico
No mês da visibilidade lésbica, a 8ª música mais popular do mundo, de acordo com a lista Billboard Hot 100, é Good Luck, Baby!, da cantora queer Chappell Roan, em que ela aborda o fim de um relacionamento com uma mulher que não aceita a sexualidade.
Além dela, várias outras artistas nacionais – como Ludmilla e Ana Carolina – e internacionais – Billie Eilish e Renné Rapp, por exemplo – estão falando sobre os relacionamentos amorosos com outras mulheres em músicas.
“Acho importante os temas sáficos tomarem ainda mais visibilidade e se naturalizarem na sociedade. Quando a gente se enxerga nos lugares e encontra as possibilidades de existir abre-se caminho para desatar esses nós da vergonha, culpa e negação”, pontua a cantora baiana Josyara, que vem fazendo sucesso no cenário nacional.
Para a artista, que integra a comunidade LGBTQIA+, é positivo que artistas jovens estejam expressando a sexualidade. “Música é fio condutor do tempo. Carrega a mensagem do momento registrando o que é preciso contar. E como uma ponte de duas vias, quanto mais jovens manifestam sua sexualidade com mais segurança isso aparece e reverbera nas criações e performances artísticas”.
No álbum Mandinga Multiplicação – Josyara canta Timbalada, lançado este ano, a artista gravou Tá Na Mulher, do grupo baiano, e deu um novo tom, propositalmente para a letra, já que ela é uma mulher lésbica. “Acho que canta-lá, pintou um novo quadro e trouxe novos símbolos, novo sentido”, afirma.
No entando, a cantora lembra que, apesar das conquistas, ainda é preciso desconstruir esteriótipos e preconceitos sobre mulheres sáficas. “Falo para além de canções também. Filmes, narrativas de outras culturas e raças, as sáficas e transsexuais. Enfim, há muito ainda pra desconstruir e vencer o machismo e a misoginia quando se trata ser lésbica nesse mundo”.
Pop sáfico nacional
Na realidade brasileira, Ludmilla se declarou para a esposa Bruna na música Maldivas, que é apresentada nos sets de Numanice, com direito a beijinho entre as artistas na coreografia.
Apesar do destaque recente, a influência sáfica na música não é necessariamente nova. No MPB, cantoras como Adriana Calcanhotto, Ana Carolina, Angela Ro Ro, Daniela Mercury, Maria Bethânia, Mart’nália, Maria Gadú e Cássia Eller já falavam sobre relacionamentos em entre mulheres em grandes sucessos comerciais, que tocam até hoje nas rádios.
Na nova geração de artistas da música brasileira há nomes como Carol Biazin, que fez um dueto romântico, em Deixa Rolar, com a ex-namorada Day, e os de AnaVitória, que falam de ter coração partido por uma mulher em Cecília.
Popularização do pop sáfico
Prova da popularização do pop sáfico é o sucesso da cantora Chappell Roan, o novo destaque da música pop norte-americana, que conquistou o público com músicas sobre mulheres que amam mulheres.
Ou Billie Eilish, em Lunch, que canta sobre a atração por outra mulher. “Eu poderia comer essa garota no almoço // Parece que ela pode ser a pessoa certa”, canta Elish, que soma mais de 407 milhões de plays no Spotify.
Também vale menção a banda boygenius, composta por três artistas sáficas, Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker, que se beijam no videoclipe de True Blue, dirigido pela atriz queer Kristen Stewart.
Na gringa, ainda há talentos como a norueguesa Girl in Red, as norte-americanas Hayley Kiyoko, Fletcher, Halsey, Kehlani, Raveena, 070 Shake, Phoebe Bridgers, Janelle Monáe e King Princess, além da musicista filipino-britânica Towa Bird, que namora a estrela Renné Rapp (Garotas Malvadas: O Musical).
É um caminho longo para quebrar preconceitos
Apesar do sucesso dessas músicas e artistas, Josyara pontua que ainda há muita luta de desconstrução. “Vejo que a temática lésbica ainda é vista com muito esteriótipos e mesmo que tenhamos grandes conquistas e representatividade crescente, nossos assuntos não alcançam o mesmo tamanho de que homens cis gays”, comenta.
“Ainda há muito que percorrer para alcançar o ideal, mas seguimos nessa luta por justiça das que se foram pelas violências diárias da homofobia. Que os direitos civis alcancem a todas”
Josyara