Lucq Albano apresenta as novas canções da banda Suíte Super Luxo
O cantor e compositor fala ao “Metrópoles” sobre sua nova safra de músicas e sobre a trajetória de uma das mais importantes formações do rock brasiliense. Ouça aqui os seus três discos.
atualizado
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Na miúda, sem muito alarde, Lucq Albano soltou uma nova safra de músicas da Suíte Super Luxo. As sete canções do álbum “Interdimensional” já podem ser ouvidas no YouTube (e aqui nesta página também). De lá chegam, em breve, para outras plataformas online como Soundcloud, Spotify e Deezer. Mais tarde, elas devem receber uma pequena tiragem em formato de compact disc. Essa movimentação pode ser acompanhada pelo Facebook oficial da banda.
“Interdimensional” chega com uma certa surpresa, neste finalzinho de dezembro, para quem vem acompanhando a Suíte Super Luxo ao longo de quase 15 anos de uma rica porém lenta e sinuosa trajetória na cena de rock de Brasília — especificamente numa cena de rock alternativo que, em larga escala, já não há.
Mais rápido
“Entre a Piscina e o Trampolim”, o trabalho anterior da Suíte Super Luxo, tinha saído em julho de 2014. Agora, apenas um aninho e meio depois, chega “Interdimensional”. Nada mal para uma banda que levou uma longa década entre lançar seu primeiro e já clássico disco, “El Toro!”, e apresentar “Trampolim”…
“Pois então”, admite Lucq Albano, “este é o indicativo de que podemos fazer as coisas um pouco mais rápido”. Ele ri um pouco de si mesmo, sabedor da dimensão quase anedótica que a ausência de discos da Suíte Super Luxo tomou dentro de sua geração roqueira.
“Tem a ver com ritmo pessoal meu e da banda. Tivemos mudanças significativas na formação, mas nos mantivemos atuantes em gravações, ensaios e principalmente shows. Eu tinha vontade, mas não tinha preocupação ou obrigação de gravar. Acho mais relevante compor e fazer shows”, defende Lucq Albano. “Estou um pouco mais pilhado agora de gravar, com a nova formação, porque já tem muito material. A gravação é a consequência desse processo, e não um fim pretendido. Para gravar, tem que ter um processo e um barato, tem que ter também critério, não vale fazer qualquer coisa.”
A nona formação
Não vale fazer qualquer coisa. E mais rápido não significa menos burilado. A minúcia de Lucq Albano para suas gravações se reflete no material ouvido aqui em “Interdimensional”. Este disco, na verdade, pode ser entendido com uma espécie de compilação dos últimos anos da Suíte Super Luxo.
Tinham sido feitas 18 músicas na época de “Trampolim”, das quais 13 chegaram àquele disco. As cinco restantes entram agora em “Interdimensional”, acompanhadas por duas novinhas: “Continente” e “Estrada Sob Órion”. Ambas foram compostas, ensaiadas, arranjadas e gravadas já sob uma nova formação da SSL. Sua nona formação ao longo do tempo.
A saber, Lucq Albano, guitarra e voz, há um ano tem a companhia do guitarrista Tharsis Campos, ex-Prot(o), do baixista Tiago França, ex-Sestine, e do baterista Alexandre Áli.
Um pouco do que se ouve em “Interdimensional” remonta a gravações feitas até seis anos atrás no Orbis, estúdio de Taguatinga. Outro tanto veio de sessões no Capital Records (209 Norte), em 2014, e por fim duas tórridas semanas de outubro, no Sinal Music (707 Norte). Que tudo isso soe coeso e orgânico, sem dúvida, é uma das virtudes da Suíte Super Luxo.
O processo coletivo
Lucq Albano ergueu a Suíte Super Luxo das cinzas da banda Megafone, que cumpriu breve trajetória na cena brasiliense da virada para a década de 2000. Acompanhado pelo baterista Beto Cavani, ele criou a SSL sob o impacto das guitar bands dos anos 1980 e 1990.
Único remanescente desse primeiro momento e único sobrevivente das formações que dali se sucederam, o cantor e compositor Lucq Albano é frequentemente entendido com o centro da Suíte Super Luxo. Ele não foge à responsabilidade. Mas valoriza abertamente a contribuição de seus músicos, chamando a atenção para o trabalho coletivo da banda em estúdio.
Uma boa relação entre os integrantes de um conjunto também se faz necessária para se manter o “mojo” funcionando, como ele diz, para se manter aquela tesão/tensão própria ao rock and roll. Afinal, ninguém ali é mais garotinho – e as atribulações da vida adulta, profissional e familiar são um estorvo constante.
O sentido do rock
Ter uma banda de rock aos 42 anos, por óbvio, não é a mesma coisa que ter uma banda de rock aos 22 anos. “Olha, o rock não pode virar hobby, virar terapia em grupo. Se é rock, então tem que ser foda. Tem que fazer sentido, tem que romper, se não vira piada, vira cover de si mesmo.”
Para manter a cabeça funcionando, Lucq Albano ouve música frequentemente, seja em casa, seja no trabalho, no Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Ele conta ter ouvido esta semana as bandas de rock Brian Jonestown Massacre e Animal Collective, mas também a coleção “Ethiopiques”, com canções populares da Etiópia e da Eritréia.
E Lucq Albano sempre volta, nos discos e nas conversas, a bandas de sua predileção: Big Star, The Jesus & Mary Chain, The Stooges, Sonic Youth. Eis aqui quatro referências cristalinas para o som da Suíte Super Luxo, que concilia melodia com perigo, une uma pegada pop à distorção própria do rock de garagem.
O culto a “El Toro!”
Primeiro disco da Suíte Super Luxo, “El Toro!” foi lançado em 2004 pelo selo Prótons e desde então se tornou um objeto de culto, uma pequena joia pop barulhenta estimada por aqueles que tiveram a sorte de ouvi-la.
O álbum frequenta as listas dos melhores trabalhos do rock nacional daquela década e músicas como “Heartcore (Merthiolate Hamlet)”, “A Fantástica Praia dos Leões” e “Máquinas Passionais” garantem ainda hoje, mais de dez anos depois, o frescor e a vitalidade deste conjunto rebimbante de noise pop. Sua faixa de abertura, “Ad Hoc”, com aqueles versos provocantes de que “isso não é rock, isso não é rock and roll”, virou um mantra geracional.
Beto Só, colega de geração brasiliense de Albano, está neste momento gravando uma versão pessoal para “Segundo Grau”, cançoneta à Big Star que reluz entre seus pares. Cantor e compositor, Beto está fechando um disco inteiro com temas alheios, revisitando bandas quentes daquele período, como Prot(o), Watson e, claro, a SSL.
“Trabalhamos muito duro nesse disco, muito tempo no estúdio, madrugadas viradas para tirar o timbre perfeito, com muito cuidado na técnica, na execução”, recorda Lucq Albano. Naquela época, ele tinha a companhia de Beto Cavani, do guitarrista Fábio Pop e da baixista Laura Fake. “É bacana saber que esse disco reverbera até hoje. Sinto que as pessoas ainda voltam a ele. Não imaginávamos uma aura cult, naquele momento, mas trabalhávamos para que saísse o melhor possível.”
A arejada do “Trampolim”
“El Toro!” foi um trabalho de controle total para Lucq Albano. “Entre a Piscina e o Trampolim” teve outra onda. De certa forma, ele deu uma relaxada, se preocupou menos com a técnica perfeita. Esse pensamento permitiu uma lufada de ar fresco, uma arejada — talvez até literal — para o som que se ouve nesse segundo disco.
Durante um concerto dos Stooges de Iggy Pop, em São Paulo, Albano notou a microfonagem da bateria, um único microfone over all, localizado acima do instrumento, numa distância um pouco maior que o habitual… E teve um estalo. Já estava pensando nesses termos e ali teve a convicção da melhor maneira para captar o som da batera dentro de um ambiente controlado do estúdio.
Essa pequena e relevante questão do posicionamento de um microfone hoje soa como uma imagem exata para o que se ouve “Entre a Piscina e o Trampolim”. Um som mais aberto que o de “El Toro!”, mais arejado. E esse é o som que bate agora nas novas canções de “Interdimensional”.