Larissa Umaytá: conheça a musicista do DF que é referência nacional
Nascida e criada em Sobradinho, no Distrito Federal, Larissa Umaytá é referência no cenário nacional quando o assunto é música e percussão
atualizado
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A música brasileira é um celeiro de talentos, e o Distrito Federal, com sua efervescente cena cultural, tem exportado artistas que conquistam palcos em todo o país. Larissa Umaytá, nascida e criada em Sobradinho, é um desses talentos. A percussionista vem ganhando destaque nacional, tocando ao lado de grandes nomes da música, como Chico César e Xande de Pilares.
Em entrevista ao Metrópoles, Larissa compartilhou detalhes sobre sua trajetória, inspirações e os desafios de ser mulher em um meio predominantemente masculino.
A sambista cresceu imersa na música e na cultura popular. Sua paixão pela percussão começou na infância, influenciada pelo avô Teodoro Freire, um visionário que trouxe a tradição do Bumba Meu Boi do Maranhão para Brasília. “Meu avô sempre esteve envolvido com manifestações culturais maranhenses, como Tambor de Crioula e Cacuriá. Desde pequena, eu me encantava com os instrumentos de percussão, ficava fascinada quando via os tambores sendo preparados na fogueira”, relembra Larissa.
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Além do avô, Larissa teve outros músicos na família que contribuíram para seu desenvolvimento musical. “Meus tios e meu pai tocavam na noite, faziam parte de um grupo de pagode que abria shows de artistas renomados nos anos 1980 e 1990. Cresci em um ambiente onde a música estava sempre presente, seja nos eventos familiares ou nas rodas de samba”, conta.
Teodoro Freire não foi apenas uma influência musical para Larissa, mas também uma figura inspiradora em sua vida. “Meu avô é um exemplo de perseverança e visão. Ele saiu do Maranhão sem terminar o ensino fundamental, calçou o primeiro sapato aos 8 anos e deixou a casa aos 15 para buscar uma vida melhor. Ele me ensinou a acreditar que as coisas podem dar certo e a importância do trabalho duro e da dedicação”, diz Larissa.
Apesar da forte influência musical, Larissa não viu a música como uma profissão desde o início. “Eu sempre amei tocar, mas não tinha referências de músicos que viviam exclusivamente da música. Para mim, era um hobby”, explica. Foi somente na juventude que Larissa começou a considerar essa possibilidade.
“Levei um tempo para acreditar que a música poderia ser minha carreira. Trabalhei em várias áreas, fiz faculdade de artes plásticas e outras três que não terminei. Foi apenas por volta dos 22 anos, enquanto trabalhava em um banco, que comecei a enxergar a música como uma fonte de renda e decidi seguir esse caminho”, relata.
A decisão de deixar o emprego estável para viver da música não foi fácil. “Foi uma escolha assustadora. Minha mãe estava preocupada, mas eu sabia que era isso que queria. Em 2014, saí do banco para me dedicar totalmente à música. Foi um momento de medo e incerteza, mas também de determinação”, lembra Larissa.
Duas escolas: a rua e a academia
Uma etapa crucial na formação de Larissa foi a Escola de Choro Raphael Rabello, tradicional em Brasília. A artista destaca que sua vivência com a música dentro de casa e entre amigos a ensinou muito, porém, foi na academia que ela pôde se profissionalizar e se aprofundar na música.
Larissa não acredita que uma vivência seja mais importante que a outra. “Quando eu entrei na escola, já tinha uma bagagem, uma história com a música da rua, dentro do Bumba, dentro de casa, nos espaços, nos bares e tal, tocando com os amigos. E a escola, a academia e as instituições, elas vêm para complementar também esse aprendizado”, explica.
“Quando eu toco, eles me escutam”
Ser mulher em um campo predominantemente masculino não é fácil, mas Larissa encara os desafios com sua maior arma: a música.
“O samba, a música popular brasileira de forma geral, é um ambiente extremamente masculino, majoritariamente masculino, e isso é histórico. Isso é uma coisa que vem da vida, da história do Brasil. O Brasil é um país majoritariamente masculino, né? Se você for pensar assim, em todas as profissões, nas empresas, a mulher realmente é uma minoria nesse espaço e na música não seria diferente, mais ainda na percussão”, reflete a musicista.
Larissa acredita que há uma transformação em curso, embora ela ainda esteja começo. “Ainda há preconceito e resistência, mas acredito que estamos mudando esse cenário. As mulheres estão ganhando mais espaço e reconhecimento na música, e eu me sinto parte dessa mudança”, afirma.
“Eu sempre me apoiei muito na minha música. Se nesses espaços eu não tenho a oportunidade de falar com essas pessoas, eu toco percussão e penso: ‘eu vou tocar que aí eles vão falar comigo'”.
De Sobradinho para o mundo
Questionada sobre quando percebeu que havia se tornado um expoente na música brasileira, Larissa compartilhou um momento de reflexão pessoal: “Muitas vezes é difícil entender que esse momento está acontecendo. Quando a gente olha e fala: ‘caraca, olha isso, tô aqui com essa pessoa, trabalhei com essa pessoa, construí essa história com essa pessoa’.”
Para Larissa, cada conquista é um reflexo do trabalho árduo e das noites mal dormidas. A musicista ressalta que não foi fácil chegar até o sucesso e destaca a sensação de gratidão que acompanha suas conquistas. “Eu olho para o passado, para história, para trás e lembro nitidamente… passa um filme na minha cabeça de cada bar que eu toquei, de cada palco que eu pisei”.
“Pisar num palco com um grande nome do samba, com um grande produtor do samba, que é uma grande referência… é tipo sonho,” descreve. Esse reconhecimento, no entanto, vem acompanhado de uma realidade ainda surreal: “Ainda é uma coisa meio fora da realidade.”