Lana Del Rey é melancólica e saudosista em Norman Fucking Rockwell
A cantora pop revisita um mundo idealizado na tentativa de compreender sua atualidade
atualizado
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Num cenário marcado por versões e mais versões da tendência do momento (o que, em si, não é algo negativo, mas reflexo da própria dinâmica da indústria cultural), artistas que buscam criar uma identidade própria são uma aposta interessante. Esse é o caso de Lana Del Rey, que, sem sombra de dúvidas, desenvolveu um estilo único – alimentado, na maior parte do tempo, por uma salada de referências contemporâneas e releituras vintage. Em seu sexto disco de estúdio, Norman Fucking Rockwell, a cantora reforça suas escolhas estéticas e oferece um pop melancólico e agradável.
Tradicionalmente, a prateleira usada para colocar os trabalhos de Lana Del Rey é o indie pop. Como efeito de organização, é justo, mas a arte da cantora norte-americana é essencialmente pop, com altas doses de nostalgia. Como apontou Jem Aswad, da Variety, a artista compartilha essa vibe com outro grande nome da indústria, Quentin Tarantino. A cantora não tem, em seu ramo, o status que o cineasta adquiriu nas telonas – a semelhança entre eles está no olhar idealizado de um passado musical ou cinematográfico.
Em Norman Fucking Rockwell, Lana não propõe reflexões de seu estado de espírito. Ela busca retratar sua visão do zeitgeist dos anos 1960, assim, a cantora debate a glória norte-americana, a melancolia, a Califórnia e o apogeu dos ídolos do rock. Assim, seria reducionista acreditar que a popstar anda olhando o passado pelo retrovisor. Lana bebe na fonte (real ou imaginária) de um mundo que não viveu para tentar explicar o seu próprio tempo. É dai que surge a boa The Greatest.
A faixa, em meio a áurea saudosista, discute os Estados Unidos contemporâneo: “L.A. está em chamas, está ficando quente, Kanye West está loiro e se foi”. A letra é uma referência as queimadas na Califórnia (política ambiental) e ao surpreendente apoio de West a Donald Trump.
Amor e sexo
Mas Lana também fala de amor e sexo, em uma pegada triste. Essa é Venice Bitch, na qual a cantora consegue criar uma faixa de quase 10 minutos para falar do mundo da fama. “Você escreve, eu saio em turnê, podemos fazer isso acontecer. Você é lindo, e eu, insana. Nós somos feitos da maneira americana”, canta a artista.
Ao longo do disco, Lana não se nega às baladas. Com um piano marcante, Bartender incorpora o som triste da voz da norte-americana. E, como bem dizem, tristeza não é depressão, menos ainda algo ruim. Como sabemos, nós, os millennials, é algo do qual não se deve fugir, mas viver.
Doin’ Time, que virou clipe recentemente, é um dos melhores momentos do disco. Em meio a batidas sintetizadas, Lana traz algo de suingue e até uma batida bossa-nova. É a mais radiofônica do setlist, mesmo que emplacar nas rádios não pareça uma preocupação evidente em Norman Fucking Rockwell.
Lana Del Rey é alguém que olha o passado – com certa dose grande de admiração – para encontrar uma narrativa do presente e de seus dilemas. É injusto aprisioná-la na melancolia, ela vai além. E o atual disco mostra isso: ao ouvir os primeiros acordes, dá para saber que é algo de Lana Del Rey, goste ou não.
Avaliação: Bom