Kayblack, Kawe e BIN: nova geração consolida trapfunk no Brasil
Da mescla com funk às batidas românticas, novos rappers buscam se firmar no hall dos grandes nomes da cena nacional em 2021
atualizado
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Desde que chegou ao Brasil, principalmente por conta de nomes como Racionais MC’s e Sabotage, o rap nacional já passou por diversos momentos marcantes e que contaram com uma diversidade incrível de artistas e vertentes musicais. Nas últimas duas décadas particularmente, o país viveu o auge do som boom bap, passando pela fase dos grupos paulistas até a ascensão do trap, que dominava as paradas internacionais e aterrissou em terras tupiniquins principalmente através de artistas de São Paulo.
No entanto, a vertente “gringa”, que influenciou bastante as letras, beats e moda dos artistas locais nos últimos anos, misturou-se a um dos mais populares gêneros brasileiros: o funk. O batidão clássico se juntou ao som pesado do trap e uniu a vivência característica das quebradas brasileiras ao estilo gringo de superação e ostentação – que fazem parte do famoso hype. Assim nasceu o trapfunk, nova vertente do rap nacional que começa a dominar as paradas das principais plataformas de streaming do país.
Nomes como Borges, Kawe, Kyan e Kayblack começam a despontar como representantes da nova geração do rap nacional. Da zona Leste de São Paulo, Kawe recentemente desbancou nomes como Anitta e Wesley Safadão e colocou a música MDS, feat. com Lele JP, como a mais ouvida do Spotify Brasil. Aos 21 anos, o músico passou a ser o rapper mais escutado do país, ultrapassado nada mais que Hungria Hip-Hop – dono da posição por quatro anos consecutivos.
“Eu estou em êxtase. Não consigo processar muito bem o que está acontecendo, a felicidade está a milhão. Ainda não tenho uma noção real disso tudo, sei que conseguimos alcançar o topo e muitas coisas, mas processar isso tudo vai demorar um bom tempo. Por enquanto estou só vivendo”, conta Kawe, em entrevista ao Metrópoles.
Para o trapper, a nova vertente desponta como o novo sucesso da música nacional e pode se manter no patamar de mainstream que o funk alcançou. “Essa é uma das paradas mais fodas que está tendo. Muito funkeiro está fazendo trap agora, estão vendo que o pessoal está curtindo o estilo. O futuro é o trap, daqui um ano ou dois anos vamos ser o nº1 do Brasil. O funk e o trap caminham na mesma linhagem, andam juntos”, acredita.
Assim como o funk, que quebrou a desconfiança do público principalmente após a popularização das redes sociais, o trapfunk tem como um de seus “facilitadores” as plataformas on-line, por exemplo, o Tik Tok. O hit MDS, de Kawe, ganhou as paradas após viralizar em um desafio na rede social chinesa.
“Eu nunca imaginei que o Tik Tok poderia ajudar tanto nessa parte de alcance das músicas. Nas próximas músicas, eu não penso em fazer algo específico, mas como foi uma coisa natural que aconteceu, eu acredito que as próximas podem bombar naturalmente”, ressalta Kawe.
Sangue rapper
Quem também começa a aparecer como um dos bons nomes da nova geração do rap nacional é Kayblack. O trapper, que é irmão de MC Caverinha, surgiu para a cena no ano passado e rapidamente emplacou alguns sucessos em sequência, como Jacaré que Dorme, Ak Forty Seven, A Cunhada e Bvlgari – parceria com Kawe.
“É muito gratificante para mim, porque eu via de perto as coisas acontecendo com meu irmão e isso sempre foi meu sonho de moleque. Na verdade, para mim ainda não caiu a ficha. Ainda é um bagulho que parece que não é realidade. Sempre com pé no chão, mas 2021 tem muita coisa boa vindo por aí, muito feat que a gente já gravou e que vai vir bombando. E 2021 pode ficar de olho, porque vai ser o dobro, o triplo de 2020″, comemora Kayblack.
Em entrevista ao Metrópoles, Kay falou sobre o momento do trapfunk – que também bombou nas paradas com o especial Homenagem aos Relíquias, do DJ Matt-D. “É que traz mais a nossa linguagem. Fala de roupas que são mais acessíveis para gente, uns carros que são mais acessíveis. Antes, não que seja errado, todo mundo fazia algo muito ‘gringo’ e começamos a vir com uma pegada mais brasileira”, analisa.
“A vivência deles não é muito diferente da nossa, mas tem que saber misturar. Eu venho com bastante coisa de trap, com bastante coisa de funk. Eu via muita gente querendo criar rivalidade entre o funk e o rap, mas eu acreditava que não tinha que ser assim, porque tudo é cultura do gueto, vem do mesmo lugar”, complementa.
Pegada romântica
Se em São Paulo o trapfunk tem ganhado as ruas, no Rio de Janeiro, uma nova leva de artistas do hip-hop tem ganhado espaço com o novo rap romântico. As batidas lentas e com letras que falam sobre paixão e amor de artistas como BIN e L7nnon conquistaram até mesmo nomes gigantes do mercado, como Anitta e Papatinho.
Dono de sucessos como Freestyle para a Faixa Rosa, Marília Mendonça e mais recentemente Saturno, BIN soma mais de 136 milhões de visualizações em seu canal no YouTube e mais de 2 milhões de ouvintes mensais no Spotify. O sucesso do jovem rapper chamou atenção até mesmo da MTV, que o escolheu como primeira aposta da nova versão do Prestatenção da MTV Brasil – atração que exibe clipes e curiosidades de nomes em ascensão.
Para também ficar de olho
Além de representantes das “novas vertentes”, outros rappers como Teto, aposta de Matuê e sua gravadora 30praum para o trap nacional e Leall, conhecido pelo hardtrap, são bons nomes para ficar de olho.
Da cena do rap de Brasília, a NovinMob é um dos representantes. O grupo recentemente lançou seu segundo álbum, Vaiouñ?!, que conta com participações de rappers como Froid, Santzu, Predella e Duzz.