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Jukebox Sentimental: trajetória de Quincy Jones é filme da Netflix

Documentário sobre lenda da música ainda na ativa é destaque no serviço de streaming

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Quincy Jones
1 de 1 Quincy Jones - Foto: Divulgação

Em meados dos anos 1960, Frank Sinatra peitou sozinho a máfia de Las Vegas para combater o racismo. Foi quando percebeu que seus amigos negros Sammy Davis Jr., Count Basie, Harry Belafone, Lena Horne, Quincy Jones e tantos outros, também grandes atrações na cidade dos pecados, tinham que jantar escondidos na cozinha após uma noite de apresentação. Indignado com a segregação e a hipocrisia local, sapateou como uma bailarina espanhola.

“Se eles têm que morar do outro lado da rua, então, vocês não precisam de mim”, disse dando um ultimato. “Temos que dar um jeito nessa merda”, sentenciou, resolvendo a situação.

Talvez por essas e outras que Quincy Jones não tira do dedo mindinho da mão direita um anel ganhado de um amigo há quarenta anos. Ele conta isso no documentário em sua homenagem lançado em outubro no Netflix. No portal, é possível conferir ainda filmes sobre Michael Jackson, Chet Baker, Nat King Cole e Frank Sinatra.

Dirigido por Alan Hicks e Rashida Jones, um dos sete filhos de Quincy, o filme, apesar de simples, intercala trajetória do artista de 85 anos com flashes de sua rotina doméstica nos dias atuais – reuniões de família, agendas sociais e apresentações mundo afora, além das agruras do peso da idade. O fio condutor da narrativa são os bastidores da inauguração do museu afro-americano em Washington, em 2016, que contou com sua participação.

O produtor número 1 do Pop
Quincy Jones é um dos grandes da música ainda em atividade, apesar da idade avançada. Enérgico, dentro de seus limites, claro, o velhinho não para. O filme mostra de forma metódica essa escalada do artista rumo ao estrelato e ao reconhecimento.

Nascido na década de 1930, no Sul de Chicago, aos 7 anos perdeu a mãe para a esquizofrenia e até os 11 nunca tinha visto um branco na vida. Criado pela avó paterna, uma ex-escrava, cogitou em ser gangster, mas um piano de armário jogado num depósito que ele arrombou lhe salvou a vida. “Eu toquei nele por um momento e soube que aquilo seria para sempre”, lembra em depoimento à filha no filme.

Aos 14 conheceu Ray Charles, um irmão para a vida toda. A trajetória como músico começo para valer ao assumir o posto de trompetista na banda do músico de jazz Lionel Hampton, naqueles tempos, a mais irada da América. Nos anos 50, a carreira de arranjador de discos do gênero ganhou forma em Nova York com a cantora Dinah Washington, que comprou sua briga. Foi quando os donos da gravadora disseram que só aceitariam “alguém de nome”.

“Então, pegue esse nome: ‘Dinah Washington e Quincy Jones é o meu arranjador’”, disse ela, ganhando o páreo, para satisfação de Quincy Jones, que fez do disco um sucesso arrebatador.

Depois da consagração como arranjador de jazz, foi estudar composição clássica em Paris com a erudita Nadia Boulanger. Após firmar amizade e parceria com Frank Sinatra, nos anos 1960, percebeu que o mercado de trilhas sonoras em Hollywood não tinha muitos compositores negros. Mais uma vez quebrou a barreira do preconceito, se impondo pelo talento ao escrever músicas para filmes como A Sangue Frio (1967) e No Calor da Noite (1967).

Daí veio os anos 1980 e a consagração como o produtor número 1 do Pop ao trabalhar com Michael Jackson no fenomenal álbum Thriller (1982), até hoje o disco mais vendido na história da música. Para Michael Jackson, aliás, com quem consolidou uma mítica parceria, Quincy Jones seria mais do que um mentor, mas também figura paterna.

Produtor de filmes como A Cor Púrpura (1985), dirigido por Steven Spielberg, Q, como é conhecido entre amigos, foi responsável pela carreira de astros como Oprah Winfrey e Will Smith, que se diz eternamente grato ao mestre: “Um dia o telefone toca e é o Quincy Jones me dizendo que quer me dar um futuro”, conta o astro das telonas exibindo famosa gargalhada.

Autor de mais de 2.900 músicas e 300 álbuns, além de centenas de prêmios conquistados – dos quais se destacam os 27 Gammys na estante –, Quincy Jones também se sobressaiu como diligente ativista social, sobretudo da causa negra. Atividade que o fez ganhar respeito de grandes personalidades mundiais, de Nelson Mandela a Bill Clinton. Grande lenda da música, chama atenção pela simplicidade com que encara sua trajetória vitoriosa.

“Ser humilde por sua criatividade e grato pelo seu sucesso”, resume.

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