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Jukebox Sentimental: “Stranger Things” traz o melhor dos anos 80

Assim, entre um susto e outro, é possível relembrar faixas soturnas como “Atmosphere”, do Joy Division, passando por “Elegia”, do New Order

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Não olhe agora. Mas coisas estranhas andam acontecendo no mundo do entretenimento. Culpa dos irmãos Duffer, os gêmeos, Matt e Ross, criadores da série de ficção científica e terror de maior sucesso do momento: “Stranger Things”. Estamos falando de um fenômeno.

O seriado, que conta as aventuras para lá de surreais de amigos em uma cidade de Indiana (EUA) ambientada nos anos 80, cada vez mais vem conquistando uma legião de fãs. Mal acabou a primeira temporada e milhares de seguidores das sombrias histórias passaram a roer as unhas à espera da próxima edição dos episódios — que estreia dia 27. Até a Chiquinha do seriado “Chaves” anda fazendo lobby a favor.

A ideia é boa e colou. Pelo menos para muita gente. Uma miscelânea de tramas retrô arrepiantes que fazem referências explícitas (ou não) aos filmes, séries, livros e desenhos animados da década que marcou o surgimento da IBM, da Apple, da febre dos walkmans e videocassetes e também da redenção de cineastas como Spielberg e John Hughes, escritores cult, na linha de Stephen King, e o sucesso “Caverna do Dragão”. É nostalgia pura.

Trilha sonora arrepiante
E, claro, nesse turbilhão de impressões proustianas saudosistas, não poderia faltar uma trilha sonora de responsa calcada no que teve de melhor e mais marcante nos anos 80. E olha que estamos falando apenas da primeira temporada. Assim, entre um susto e outro, é possível relembrar faixas soturnas como a tristonha “Atmosphere”, do Joy Division, passando pela épica “Elegia”, do New Order, e a espectral “Nocturnal Me”, do Echo & The Bunnymen.

“Faça ou morra/O que está feito está feito/Verdadeiras belas mentiras/No horizonte azul/ Oh, me leve internamente/Seu para sempre/Meu eu noturno”, canta, um sensual Ian McCulloch, em “Nocturnal Me”.

Como se vê, as canções escolhidas para a trilha da primeira temporada de “Stranger Things” sempre têm uma referência, mesmo que sutil, não apenas ao clima de pesadelos das histórias da série, mas certo sabor de nostalgia no ar que remete o espectador a enredos cheios de conflitos familiares, histórias de amizade, enfim, o rito de passagem na adolescência. Ou ninguém viu “E.T.”, “Os Goonies” e “Conte Comigo”?

“E se um ônibus de dois andares colidisse contra nós/Morrer ao seu lado/Que jeito divino de morrer/E se um caminhão de dez toneladas matasse a nós dois/Morrer ao seu lado/Bem, o prazer e o privilégio seriam meus”, suspira um romântico Morrissey no clássico dos Smiths, “There Is a Light That Never Goes Out”.

Os ouvintes mais espertos podem reviver na playlist disponível no Spotify pérolas marcantes como a gostosinha, “I Melt With You”, dos britânicos do Modern English, e o cover estiloso das meninas do Bangles para o sucesso da dupla, Simon & Garfunkel, “Hazy Shade of Winter”. É só comparar. E se o lance é comparar, que tal lembrar, em meio às peripécias sobrenaturais da turma de “Stranger Things”, a versão perturbadora que o ex-Genesis Peter Gabriel criou para o massacrante sucesso de David Bowie, “Heroes”.

Mas não só de canções dos anos 80 são embalados os personagens de “Stranger Things”. As escolhas mais certeiras dos irmãos Duffer para os episódios da série são duas músicas emblemáticas dos anos 60. Cavadas direto do turbilhão que foi a cena psicodélica no auge do verão do amor em San Francisco, as faixas “She Has Funny Cars” e “White Rabbit”, ambas registradas por Jefferson Airplane, no disco, “Surrealistic Pillow” (1967), sintetizam com perfeição a união fantástica entre o ordinário e o extraordinário das tramas da série.

“Uma pílula deixa você maior/E uma pílula deixa você pequeno/E as que sua mãe te dá
Não fazem efeito algum/Vá perguntar a Alice/Quando ela estiver com dez pés de altura”, ironiza a bela Grace Slick em “White Rabbit”, uma releitura pop bem apropriada e delirante do clássico “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll.

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