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Jukebox Sentimental: Sam Cooke é revisitado em documentário

O cantor e ativista é um dos grandes nomes do movimento negro dos Estados Unidos

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As duas mortes de Sam Cooke 3
1 de 1 As duas mortes de Sam Cooke 3 - Foto: Divulgação

Cantor negro de voz mágica e sensual, para muitos o pai do soul moderno, Sam Cooke era o número dois das paradas musicais americanas em 1961, atrás, veja só, apenas de Elvis Presley. Em maio daquele ano, no entanto, ao ser convidado junto com outros artistas para tocar em Memphis, terra do Rei do Rock, indignou-se ao saber que as “pessoas de cor” só podiam ficar no fundo do teatro ou no mezanino. “Então não posso me apresentar aqui”, rebelou-se.

Noutra ocasião, em turnê na Carolina do Sul junto com a jovem Dionne Warwick, Sam e suas amigas cantoras são proibidos de comer numa lanchonete. Indignada, Dionne manda a garçonete às favas e lhe dá as costas, voltando para o ônibus. Dez minutos depois, um policial branquelo cheio de soberba racista sobe as escadas do veículo perguntando sobre as duas “garotas” que haviam tumultuado o lugar ali atrás. Revoltado, Sam reage:

“Em primeiro lugar não temos ‘garotas’ aqui. Temos damas e cavalheiros. Em segundo, este é meu ônibus. É uma propriedade particular, então eu vou pedir gentilmente que você se retire”, o homem de fardas nem titubeou. Deu meia-volta, passando uma borracha no caso.

Os dois episódios dão conta da dignidade e personalidade dessa grande voz da América silenciada, trágica e precocemente, em dezembro de 1964, aos 33 anos, envolto numa nuvem sombria de mistério repleta de intriga, violência, preconceito e descaso. Tudo isso pode ser conferido por você agora no documentário da Netflix As Duas Mortes de Sam Cooke, uma das estreia deste mês da plataforma.

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Mais um projeto da série original ReMastered – que traz à tona o lado polêmico da vida de astros da música, assim como acontecimentos trágicos envolvendo o mundo do pop –, já debruçou sobre a trajetória de nomes como Bob Marley e Johnny Cash, do rapper Jam Master Jay, além do bardo chileno Victor Jara, assassinado em 1973 pela ditadura de Pinochet.

Ídolo de toda uma geração como cantor, Sam Cooke também emergia como ativista de peso na luta contra a segregação racial. “Se não tivesse morrido, teria causado um enorme impacto na próxima geração de artistas, pensadores e ativistas”, lamenta um dos entrevistados do filme. Participam  amigos próximos, artistas atuais, fãs e estudiosos da música e da questão racial nos Estados Unidos.

À sombra de Spike Lee
Nascido em 1931, no Mississipi, assim como Aretha Franklin, Sam Cooke era filho de um pastor. Para se tornar um cantor gospel foi um pulo e sua voz angelical agradava ao Senhor e as meninas que iam à igreja só para ouvi-lo. Mas, naqueles anos, o clima no Sul profundo dos EUA estava pesado – lembranças da escravidão, injustiças sociais, segregação, Ku Klux Klan – e o destino de Sam e sua família foi Detroit, onde ele despontou como artista pop.

Era o boom do rock ‘n’ roll e logo Sam, com seu estilo inconfundível, estava disputando as paradas de sucessos com titãs do gênero graças à sua mistura sensual de R&B e pop rock, que resultou na criação do Soul. O primeiro hit, You Send Me, vendeu 2 milhões de cópias, mas, inconformado com as injustiças históricas contra o seu povo, resolveu mudar, irritando muita gente.

“Ele estava se arriscando. Poderia se machucar ou ser morto naquela época”, lembra um dos entrevistas do filme dirigido por Kelly Duane.

E estava mesmao. Não demorou muito para Sam Cooke, mesmo que inconsciente, virar um ídolo afro-americano e um dos pioneiros do movimento Black Power, ao confabular com uma galera de peso que ia desde ao radical líder negro Malcolm X, passando pelos esportistas Jim Brown e Muhammad Ali, além do escritor James Baldwin.

Foi nesse contexto que nasceu a politizada e reflexiva canção A Chance Is Gonna Come, um dos maiores sucesso de Cooke, inspirada, entre outras coisas, pela balada de protesto de Bob Dylan, Blowin’ In The Wind e o emblemático discurso I Have a Dream, de Martin Luther King Jr. “Já faz muito, muito tempo/Mas sei que uma mudança acontecerá/Ah, sim, acontecerá”, canta ele com fervor gospel.

Tudo isso e muito mais é mostrado em ReMastered: As Duas Mortes de Sam Cooke que, com uma pegada Spike Lee, além de ressuscitar a polêmica circunstância da morte ainda não solucionada do cantor e o julgamento atrapalhado do caso, aproveita o tema para falar de feridas dos EUA.

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