Jukebox Sentimental: Raul Seixas é a síntese do baião com o rock
Artista baiano, que moreu há 28 anos, é um dos maiores nomes da música brasileira
atualizado
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Outro dia fez 28 anos que morria o maior ícone do rock brasileiro. E o pior é que as novas gerações, ocupada, olhando para o outro lado, curtindo artistas fakes, nem se deram conta dessa importante efeméride da música nacional.
Raul Seixas morreu em 21 de agosto de 1989, no mesmo mês que também nos deixaria o maior ídolo do rock de todos os tempos: Elvis Presley. Coincidências à parte, o fato é que um não existiria sem o outro. Isso porque, embora o primeiro ídolo do baiano tenha sido Luiz Gonzaga, foi Elvis quem o influenciaria para vida toda. Fundador do Elvis Rock Club, em Salvador, Raul era o dono da carteirinha Nº 1.
Passados os anos de efervescência adolescente, tempos depois, antes de decidir se seria professor de inglês ou burocrata da indústria fonográfica, ele conquistaria crítica e público com uma mistura inusitada de blues, folk, música country e gospel, além de ritmos regionais brasileiros, lançando, em 1973, seu primeiro disco como artista: ‘Krig-Há, Bandolo!”. A síntese que criou entre o rock de Elvis e o baião de Luiz Gonzaga tornaria a marca registrada do artista cuja letra “A” tinha seu nome.
O impacto que Raul Seixas teve no cenário musical, com sua enorme capacidade de se comunicar com as massas, foi impressionante. Numa época em que ser polêmico e escancarar o que pensava em letras debochadas, irônicas e críticas, era dar um tiro no pé, o artista não se deixava intimidar. No auge da carreira, defendeu temas controversos como uma tal de “Sociedade Alternativa”, movimento libertário anárquico meio riponga inspirado nas ideias do bruxo inglês, Aleister Crowley.
“Faça o que tu queres, pois é tudo da lei”, dizia a letra. “Para falar sério com as pessoas você não precisa falar difícil. Ao contrário, quanto mais simples você for, mas sério pode ser. Fazer música é escrever em vinte linhas uma história que a pessoa pode ouvir dez vezes sem ficar com o saco cheio”, era o mantra que gostava de repetir para o parceiro de letras, Paulo Coelho.Rauzitos e Jerry Adriani
Aos dezoito anos, Raul Seixas fazia sucesso na Bahia como líder da banda Os Panteras. Um belo dia de outubro de 1967, Rauzito e seus amigos foram convocados às pressas para acompanhar o ídolo da Jovem Guarda, Jerry Adriani, por um motivo absurdo. “A banda que você contratou tem vários músicos pretos e preto não entra no Clube Bahiano de Tênis”, disse um funcionário do espaço. A parceria improvisada deu tão certo que o cantor famoso chamou a banda para acompanhá-lo durante a turnê pelo Norte e Nordeste do país.
Raul Seixas e os primeiros registros
O primeiro compacto de Raul Seixas foi gravado em setembro de 1972 trazendo a canção “Let Me Sing, Let Me Sing”, com letra em português, refrão em inglês. Uma mistura de rock e baião
Raulzito e Dom Paulete
O mago Paulo Coelho foi o mais bem-sucedido parceiro de letras de Raul Seixas. Juntos, escreveram mais de 40 sucessos, entre clássicos como “Gita”, “Medo da Chuva”, “Al Capone”, “Sociedade Alternativa” e “Meu Amigo Pedro”, um deboche sobre o pai do autor de “Brida”. Os dois se conheceram em 1972, unidos pela paixão por discos voadores e astrologia. Paulo Coelho lhe apresentou as drogas, as sociedades secretas e o ocultismo. Raul retribuiu abrindo as portas da comunicação de massa.
Na capital
O último show de Raul Seixas foi em Brasília, no dia 13 de agosto de 1989, ao lado do parceiro Marcelo Nova. Oito dias depois, o artista morreria sozinho em seu modesto apartamento em São Paulo. A apresentação fazia parte da turnê de lançamento do disco “Panela do Diabo”, lançado pela dupla naquele ano. Mas o roqueiro baiano se apresentou na cidade em maio de 1974, durante a Festa das Nações.