Jukebox Sentimental: Ramones representa o surgimento do punk rock
Após o disco inaugural do grupo, a cena do gênero surgiu nos Estados Unidos e na Inglaterra
atualizado
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One, two, three, four! Hey ho, let’s go! Isso mesmo, encerrando o mês do rock ‘n’ roll, não poderia deixar de falar dos Ramones, uma das bandas seminais do punk. Para entender a importância que o grupo teve para o movimento, a dica é o documentário “End Of The End”. Lançado em 2003, o filme, facilmente encontrado em DVD ou no YouTube (sem legenda), é a história oficial e nada chapa branca da turma.
“Se os Ramones não tivessem lançado aquele disco (o primeiro, em 1976), não sei se poderíamos construir uma cena aqui (na Inglaterra). O álbum preencheu uma lacuna essencial entre a morte da antiga cena de rock em pubs e o surgimento do punk”, admite em entrevista Joe Strummer, líder do Clash.
E é verdade. Quer ver? Tudo começou em 1974, quando quatro adolescentes desajustados e sem rumo do distrito de Queens, Nova York, resolveram juntar os trapos de sua delinquência juvenil e insatisfação com a vida montando uma banda cuja sonoridade desafiava, na época, a era das pomposas e barrocas orquestrações progressivas. O minimalismo melódico da banda era de arrepiar, assustava.
A simplicidade das canções curtas, com letras cheias de humor bizarro, cantadas numa velocidade visceral foi urdida a partir de um caldeirão de influências tão improváveis quanto oportunas. Para começar, eles eram influenciados pela crueza sonora dos Stooges de Iggy Pop e pelo deboche visual do New York Dolls. O som sujo e underground do Velvet de Lou Reed e John Cale também era constante na vitrola do grupo.
Joey (vocais), Johnny (guitarra), Dee Dee (baixo) e Tommy (batera) – da clássica formação da banda – tinham paixão pelo rock dos anos 1950 e o som solar dos californianos Beach Boys. O resultado? Talvez o primeiro disco de “punk” da história.
Tal qual o flautista de Hamelin, a banda fisgaria uma legião de jovens que, fascinados pelo som cru e autêntico que faziam, começaram também a tocar. Foi assim com o Dead Kennedys, Black Flag, Sex Pistols e The Clash.
Lavando roupa suja
A banda só aconteceu com a chegada do jornalista Danny Fields, que conseguiu um contrato com a Sire Records, em 1976. Com pouco mais de 90 minutos, o documentário “End Of The Century” mostra como foram esses primeiros passos dos Ramones, trazendo imagens raríssimas de apresentações no mítico CBGC, mas também os conflitos internos entre os integrantes. A tensão era tanta que a impressão que se tem é que eles vão sair no braço.
Mas, antes que isso aconteça, a mãe e irmão de Joey Ramone, o carismático e desengonçado vocalista, revelam a infância e adolescência problemática do artista, que sofria de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e foi diagnosticado pelos médicos como um débil mental incapaz de viver em sociedade pelo resto da vida.
A partir de depoimentos sinceros e carregados de rancor do baixista Dee Dee e do guitarrista Johnny Ramone, vem à tona os detalhes da briga de poder entre os integrantes — enlaçados num enredo digno de Shakespeare com traição, ciúmes e muito ódio. A gota d’água seria a chegada do polêmico e genial Phil Spector para a produção do álbum “End Of The Century”.
“Estava na cara que a vinda dele não ia dar certo”, desabafa um amargo Johnny, que apesar de responsável e bom gestor nas finanças da banda, tinha fama de ser autoritário no palco. “Quando Phil Spector chegou foi o começo do fim da banda”, diz num surto de sobriedade o baixista Dee Dee, morto dois meses após a finalização do documentário vítima de overdose de drogas.