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Jukebox Sentimental: quando Claudette Soares cantou Gil, Chico e Caê

Polêmico disco cult que homenageia tríade mágica da música brasileira mostra versatilidade da cantora

atualizado

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Claudette Soares no auge da carreira
1 de 1 Claudette Soares no auge da carreira - Foto: Divulgação

Ruy Castro é categórico quando o assunto é Claudette Soares: “A vida não lhe deve nada”. É o que o respeitado jornalista e biógrafo costuma dizer ao enfatizar trajetória, diversidade e fôlego da artista na MPB. Uma carreira que começou aos 10 anos de idade, quando, num ato de rebeldia, ela pisou pela primeira vez num palco para cantar Escandalosa, sucesso na voz da eterna “Rainha do Rádio”, Emilinha Borba.

“Pensei que minha mãe fosse me matar”, lembraria, anos depois, a artista.

Aos 19 anos, ela estreou no rádio cantando Baião da Despedida, de Américo Castro e Ary Vieira. O que valeu de Luiz Gonzaga o título de “princesinha do baião”, mas com uma bronca de embrulho do “Velho Lua”. “Claudette, você jamais vai ser a rainha do baião, você é muito metidinha a besta, pertence a essa turminha da Bossa Nova”, disse o cantor, chateado com as andanças da cantora com a turma de Ronaldo Bôscoli.

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Capa do disco de Claudette Soares
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Claudette Soares nos dias de hoje

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Capa do disco de Claudette Soares

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Admiradora de cantores como Frank Sinatra, Doris Day e Sarah Vaughan, Claudette Soares começou a carreira quando substituiu a amiga Sylvinha Telles na famosa boate Plaza, no final dos anos 1950, dividindo o palco com nomes como Luiz Eça, João Donato, Milton Banana e Baden Powell, de quem foi vizinha no bairro das Laranjeiras, Rio de Janeiro, onde nasceu.

“A gente improvisava muito, mas de forma bem amadora, com ele pequenininho no banquinho tocando cavaquinho”, disse em entrevista a Charles Gavin em O Som do Vinil.

Dona de versatilidade singular e ginga na voz, a artista passou a cantar também sambas e Bossa Nova, mas, em 1968, resolveu radicalizar. No alto de seu 1,49m e com muita energia, peitou tudo e todos para lançar o polêmico Gil, Chico e Veloso por Claudete Soares, assim mesmo, com um “t” só. Não deu outra.

Arrojado e diferente de tudo realizado até então em sua carreira, o disco mexeu com fãs e críticos. Muitos não entenderam o que ela, que começou flertando com Luiz Gonzaga e a Bossa Nova, estava fazendo no meio daqueles “malucos”. Pior, o trabalho era visto como uma jogada oportunista da cantora, que estaria querendo surfar no sucesso da Tropicália. Uma bobagem, já que Chico Buarque nem era do movimento que sacudiu o país entre 1967 e 1968.

Outros, como o diretor da gravadora Philips, João Araújo (pai de Cazuza), farejava problema com a censura. Tanto que foi pragmático quando a cantora apresentou o projeto. “Você vai pagar tudo, viu? Músico, estúdio… porque esse trabalho não vai sair, a censura não vai deixar”, avisou.

“Personalidade vocal”
Ledo engano. Com produção de Manoel Barenbein e arranjos de três nomes de peso da música na época, Rogério Duprat, Júlio Medaglia e João Camargo Mariano, o disco sobreviveu à cegueira autista dos censores, mas não à patrulha de críticos e fãs. “A gente deve cantar o que quer. O válido é ter uma personalidade vocal. Eu tenho a minha voz, não imito ninguém”, defendeu-se Claudette em entrevistas.

Foram registrados no álbum quatro músicas de cada um dessa tríade mágica da nossa MPB que, embora no início da carreira, já tinha prestígio no meio musical. Chico Buarque foi homenageado em Januária, Desencontro, Lua Cheia – composta em parceria com Toquinho – e no crème de la crème Bandolim, até então um chorinho inédito escrito por ele aos anos 15 anos de idade e descoberto por Barenbein.

De Gilberto Gil, Claudette gravaria e dividiria os vocais em Iemanjá, escrita junto com o ator Othon Bastos, Mancada, Domingou, clássica parceria com o poeta Torquato Neto, e Frevo Rasgado, sucesso do disco psicodélico de 1968 do cantor, composto em colaboração com Bruno Ferreira.

Sem dar a menor pelota para os amigos que a avisavam sobre Caetano Veloso ser um sujeito “muito doido”, Claudette Soares gravaria Lia, Remelexo, Clara, cantada em dueto com Gilberto Gil, e Deus Vos Salve Essa Santa Casa, uma parceira de Caê com Neto.

Hoje um trabalho cult e respeitado na música brasileira, o disco Gil, Chico e Veloso por Claudete Soares é motivo de muito orgulho para a cantora. Tanto que, no auge de seus 80 anos e ainda na ativa, pretende lançar em 2018 um projeto celebrando as cinco décadas dessa pérola da nossa música. Aguardem…

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