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Jukebox Sentimental: Psicoacústica é o incompreendido álbum do Ira!

O disco desagradou a gravadora, mas foi bem recebido pela crítica

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1 de 1 banda-ira - Foto: Reprodução

É sempre assim. Salve algumas exceções, boa parte da arte vanguardista esta fadada a ser maldita antes de se tornar clássica. Um bom exemplo é o álbum “incompreendido” do Ira!, Psicoacústica completa este mês completa 30 anos. Talvez um dos trabalhos mais originais e ousados do BRock, o disco cult arregimentou legião de fãs. Um deles, o pernambucano Chico Science, que incluiria a faixa Advogado do Diabo no repertório de sua Nação Zumbi.

Lançado após o sucesso do segundo registro da banda paulista, o elogiado Vivendo e Não Aprendendo (1986) – cheio de hits como Envelheço na Cidade, Dias de Luta e Flores em Você –, o então novo trabalho do grupo dividiu opiniões e azedou a relação da turma com a gravadora, que não sabia como vender o peixe. A provocação já começava no visual, com hologramas na capa e, nas primeiras tiragens, óculos tridimensionais encartados.

Conceitual até o osso, o trabalho chama atenção pelo ecletismo sonoro de grooves e loops do rap, funk com rock e hip-hop – vibe que andava fazendo a cabeça do vocalista Nasi e do baterista André Jung –, com as guitarras mods sessentistas de bandas como The Who e Jam, fortes influências de Edgard Scandurra. Nessa diferença caótica musical, misturava-se passado e presente, nostalgia e modernidade. Assim surgiu uma pérola do rock nacion

Reza a lenda que, incomodado com o flerte fatal do vocalista Nasi e do baterista André Jung pelas quebradas do hip-hop, Scandurra escreveu a raivosa e irônica Farto do Rock ‘n’ Roll. Deu certo.

Incomodado, Nasi não topou gravar a faixa. Mesmo assim, o vocalista exibiu seus talentos como DJ na picape, fazendo scratches no meio da canção, enquanto ouvia, a contragosto, os versos:

“Eu fico tentando me satisfazer/Com outros sons, outras batidas, outras pulsações…”.

“Bandido da Luz Vermelha”
Uma das grandes novidades de Psicoacústica foi o pioneirismo na utilização de samplers no disco, até então, algo pouco comum no rock nacional. Fascinado na época pelo clássico O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla, Nasi não titubeou e foi até o cineasta marginal em busca de autorização para o uso de frases do filme nas faixas Rubro Zorro e Pegue Essa Arma. Ele topou, desde que gravasse um clipe para a banda.

Tudo corria as mil maravilhas, até a gravadora Warner barrar a participação de Sganzerla que pediu uma fábula em dinheiro pelos seus serviços. Irritado, o diretor ameaçou embargar os trechos de seu filme no disco com ligações desaforadas no meio da madrugada para Nasi. Numa entrevista à revista Bizz, na época do lançamento do disco, sem entrar em detalhes sobre a confusão com o cineasta, o vocalista do Ira! contaria como surgiu a ideia dos samplers.

“Tudo começou com uma pesquisa sobre o ‘bandido nacional’ que acabou se tornando uma mistura de vários personagens, inclusive do bandido da luz vermelha americano – ou seja, um cara condenado injustamente e executado. Encontrei com o Rogério Sganzerla e foi uma sincronicidade de ideias incrível!”, detalhou.

Outra treta famosa envolvendo Psicoacústica foi a acusação de plágio na canção Receita Para se Fazer Um Herói. Segundo denúncia de uma leitora da revista Bizz, a letra foi tirada de um livro escolar.

Resolvidos os imbróglios de bastidores, o álbum chegou ao mercado com rótulo de experimental e difícil, caindo na graça da crítica especializada, mas não no gosto dos fãs e dos diretores da gravadora. Azar da turma da discórdia. Maldito e marginalizado, Psicoacústica, o melhor e mais criativo trabalho dos “meninos da Rua Paulo”, virou símbolo de resistência de uma banda contra o sistema.

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