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Jukebox Sentimental: primeiro álbum de country rock completa 50 anos

The Gilded Palace of Sin, do The Flying Burrito Brothers, inaugurou o estilo à sombra de Gram Parsons

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Flying Burritos Brothers
1 de 1 Flying Burritos Brothers - Foto: Reprodução

Quando morreu de overdose, em 1973, aos 26 anos, o cantor Gram Parsons teve o corpo raptado e levado pelo roadie Phil Kaufman para o deserto de Joshua Three, onde foi incinerado. Segundo o amigo, era o desejo do artista. Parsons, um maluco de pedra, até teria curtido tamanha loucura para homenageá-lo, mas ficaria meio tonto hoje em dia diante de toda a idolatria em torno de sua figura por ter sido, entre outras coisas, o inventor do country rock.

Parsons não só foi um dos melhores representantes do gênero – criado no final dos anos 1960 – como também ninguém o superou. O auge desse talento está registrado no sensacional álbum The Gilded Palace of Sin, dos Flying Burrito Brothers, que, neste mês, completa 50 anos. Embora um fracasso retumbante de vendas na época, o disco influenciou toda uma geração de artistas – entre eles, os gigantes do gênero, Eagles –, sobrevivendo às teias do tempo.

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Flying Burritos – The Gilded Palace of Sin

 

“Gram Parsons era uma espécie de Jimi Hendrix branco do country”, diria, em 1991, o amigo e músico Terry Melcher.

E era mesmo. Filho de abastada família produtora de frutas cítricas da Flórida, Parsons, a princípio, seria um homem dedicado a Deus. Mas a experiência de seis meses como estudante de teologia, na Universidade de Harvard, mostrou que ele estava no caminho errado. Corria o ano de 1965, os Beatles e os Stones estavam no auge. Parsons, que já havia subido num palco antes como músico, embarcou numa viagem musical chamada Internacional Submarine Band.

Dois compactos e um disco de música country depois, ele abandonaria o “barco” para ocupar a vaga de David Crosby no mítico grupo californiano The Byrds, contribuindo na nova sonoridade da banda com o marcante registro de 1968, Sweetheart of the Rodeo. Com as canções Hickory Wind e One Hundred Years from Now, as únicas originais do álbum escritas por ele, plantou a semente do country rock.

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Gram Parsons

 

Sementes essas disseminadas nas andanças com os Stones após a sua saída dos Byrds, por não concordar em tocar na África do Sul racista. Responsável pelo arranjo da faixa Country Honky, sua presença no seio do grupo – como parceiro de farras musicais e hedonistas de Keith Richards –, são sentidas, indubitavelmente, nos álbuns Beggars Banquet (1968), Let It Bleed (1969) e Sticky Fingers (1971).

“Música cósmica americana”
Embora o rótulo produzisse urticárias em Gram Parsons, o Flying Burrito Brothers foi a primeira banda a fazer country rock na história da música. A essência desse gênero está impregnada no cinquentão The Gilded Palace of Sin (1969), que também trazia pitadas de soul e sutis ondas psicodélicas nirvânicas. Mas Parsons não queria saber dessa bobagem patusca denominando seu novo estilo “cósmico americano”.

Seja lá o que isso signifique, parece transparecer na capa viajadona em que os integrantes da banda, acompanhados de duas belas mulheres seminuas, usam modelitos da badalada loja de Hollywood Nudie’s Rodeo Taylor. Parsons, por exemplo, aparece vestindo uma jaqueta com estampas de… maconha, papoulas e cruzes flamejantes. O título lascivo do álbum, norteado por harmonias vocais angelicais, dá conta do que viria por aí…

Na faixa de abertura, Christine’s Tune, escrita por Parsons e Chris Hillman – também ex-Byrd – a steel guitar sinuosa de Sneaky Pete Kleinow norteia a história dessa “garota disfarçada de diabo que conta mentiras sujas num mundo cheio de inveja e dúvida”. Sin City, como o título entrega, lança o ouvinte numa jornada de pecado e perdição pelas ruas de Los Angeles.

Esse é mais ou menos o tema da melancólica Dark End of the Street, da dupla Chips Moman e Dan Penn, que também assinam a sentimental Do Right Woman, imortalizada por Aretha Franklin numa versão feminina em 1967. Há quem diga que a gravação do Flying Burrito é melhor do que a da diva do soul, mas há controvérsias. De qualquer forma, as duas faixas colocam em evidência o potencial vocal de Parsons como cantor romântico amargurado.

Depois dos countries genuínos My Uncle e Do You Know How It Feels, o tal som cósmico americano começa a se desenhar em sua plenitude em faixas como Juanita, Hot Burrito Nº 1 e Hot Burrito Nº 2, além da deslumbrante Wheels, baladona lambuzada de psicodelia selvagem e niilismo passional. “Venha sobre rodas fazer este menino um homem/Não temos medo de andar/Não temos medo de morrer/ Vamos, me levar para casa hoje”, clama.

Hippie Boy, a derradeira faixa deste fascinante palácio dourado de pecado, traz discurso demente e junkie de um personagem marginal falando, entre outras coisas, sobre bomba atômica, Chicago e a tumultuada Convenção Nacional Democrata de 1968. Quando partiu, em 1973, Parsons, não mais no Flying Burrito, tinha gravado dois discos solos, um deles lançados postumamente, Grievous Angel (1974), bastante cultuado pelo jovem Renato Russo…

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