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Jukebox sentimental: mulher de Chorão quebra silêncio em livro pessoal

Com ares de desabafo, publicação escrita por Graziela Gonçalves abre o jogo sobre seu relacionamento com o líder da banda Charlie Brown Jr.

atualizado

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Chorão e Graziela
1 de 1 Chorão e Graziela - Foto: Divulgação

Em 2012, aos 42 anos, depois de levar o Charlie Brown Jr. ao sucesso e reconhecimento, Chorão, o intempestivo vocalista e líder da banda, surtou. Queria ser bombeiro. “Vou largar tudo, Tiri. Preciso encontrar outro sentido pra minha vida. Quero fazer alguma coisa que me preencha, alguma coisa que faça eu sentir vivo de novo”, disse à mulher, poucos dias antes de sair de casa num rompante e ir a uma sede da corporação mais próxima.

A decisão delirante fora motivada após não aguentar mais, entre outras coisas, viver o inferno da dependência química. Poucas horas depois, quase derretendo em lágrimas, o artista volta e desaba nos braços da amada ao descobrir que era preciso muito mais do que boa vontade e determinação para vestir um uniforme militar.

“Ele me abraçou chorando, desolado, e pude sentir a intensidade do desespero dele”, narra Graziela Gonçalves, a Grazon, no livro Se Não Eu, Quem Vai Fazer Você Feliz? – Minha História de Amor com Chorão.

Lançado cinco anos após a morte do marido, vítima de overdose de cocaína, a biografia, uma obra bem pessoal, chega às livrarias com ares de desabafo e até mesmo como um exercício de cura. “Quando me senti suficientemente bem comigo e com a minha história, finalmente aceitei o convite para escrever sobre a minha vida ao lado do Alexandre. Mal sabia eu que essa empreitada se tornaria o meu maior desafio e minha melhor terapia”, conta no livro.

DivulgaçãoComo o subtítulo entrega, é a história de amor entre dois jovens de Santos apaixonados que batalharam muito, seguraram alguns trampos pesados, conquistando o topo do mundo de suas ambições. É o conto de fadas de uma menina que encontrou seu príncipe encantado num rolê à beira-mar e fez dele o grande amor de sua vida. Mas não se trata de um enredo piegas agridoce e sim de uma trama da vida real cheia de altos e baixos com desfecho trágico.

Bem escrito e envolvente, Se Não Eu, Quem Vai Fazer Você Feliz? narra a trajetória de um ídolo da juventude e de uma das bandas mais relevantes dos anos 90 contado do ponto de vista doméstico, mas não menos instigante. Isso porque traz detalhes de uma vida a dois construída com muito afeto e amor, mas também de colaborações e contribuições decisivas para uma carreira vitoriosa. Mesmo que isso implique uma reflexão feminista da autora.

“Relutei para expor o que de fato vivi, como se não fosse permitido ter uma parcela de participação verdadeira em tudo o que ele realizou”, escreve Graziela nos últimos capítulos. “Ainda é difícil lidar com a percepção de que grande parte da dinâmica do nosso relacionamento se dava num contexto machista”, avalia.

Eterna musa
Está tudo lá. A origem do apelido Chorão, a sina de brigão e marrento de Alê, como a mulher o chamava – apelido que veio de seu nome verdadeiro, Alexandre –, os tempos em que dividiam um cachorro-quente para matar a fome, as paixões musicais que ambos compartilhavam, enfim, os bastidores do encontro que deu origem ao maior sucesso da banda, Proibida Pra Mim, a primeira das várias canções que Chorão escreveu para sua eterna musa.

“Em todos os discos têm faixas que falam do nosso relacionamento”, entrega Grazon, como era carinhosamente chamada pelo marido. “Aos poucos fui percebendo que, por trás de toda aquela atitude e jeito de durão, existia um menino frágil. Fui sacando que ele era o tipo de pessoa que ostentava a aparência de bruto para manter as ameaças afastadas, mas no íntimo era extremamente sensível e, às vezes, até inseguro e carente”, revela.

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No livro, Graziela conta, ainda, como o som do Planet Hemp, de Marcelo D2 e BNegão, foi determinante para moldar uma nova identidade à banda santista antes do sucesso, quando eles faziam um som pesado cantando em inglês, cristalizando a imagem do quinteto entre os skatistas. Uma influência, diga-se de passagem, que contou com grande empurrão da mulher. Ela conseguiu, inclusive, que eles ainda abrissem o show dos caras.

“Não é exagero dizer que esse show do Planet Hemp foi fundamental na nova direção que o CBJr iria tomar. E admito que tenho muito orgulho de me lembrar da minha participação em tudo”, gaba-se a autora, que ganha a vida como estilista.

Com coragem e parcialidade, Graziela revela, sem fugir da raia, os detalhes das tretas do marido com o líder do Los Hermanos, Marcelo Camelo, assim como o clima de hostilidade e ciúmes que se instaurou dentro do Charlie Brown Jr., culminando, em 2005, na separação da banda. Entre os motivos da confusão interna estavam a personalidade centralizadora e explosiva de Chorão. Segundo os amigos, ele se sentia o dono do grupo.

“Cheguei a ouvir muitas queixas dos outros músicos, inclusive a de que eles se sentiam empregados, e não parceiros, do Alexandre”, lembra Graziela.

Se Não Eu, Quem Vai Fazer Você Feliz? – Minha História de Amor com Chorão
De Graziela Gonçalves. Companhia das Letras/Paralela, 262 págs, R$ 49,90

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