Jukebox Sentimental: Mark E. Smith liderou com primazia o The Fall
Oriundo da efervescente cena musical de Manchester, o líder do Fall foi uma das mais marcantes influências do rock indie
atualizado
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É bem capaz hoje em dia mencionar o nome The Fall e alguém pensar se tratar da série policial produzida pela BBC irlandesa de sucesso no Netflix. Mas não muito distante do nosso recém-chegado 2018, uma banda homônima liderada pelo irascível Mark E. Smith sacudiu os estertores da cena musical pós-punk com uma mistura de ritmos e letras marcadas por anárquicos jogos de palavras.
Smith, que nos deixou na última quarta-feira (24), aos 60 anos, após lutar contra problemas respiratórios, era uma espécie de anti-herói do rock. Nascido em março de 1957 em Manchester, berço de grandes bandas do rock britânico, ele montou o grupo em 1976, após assistir a um show dos Sex Pistols. “As pessoas costumavam classificar o Fall como uma banda de punk, mas a gente sempre ficou fora desse movimento”, implicava.O nome da banda foi uma homenagem ao livro A Queda do escritor franco-argelino Albert Camus, lançado em 1960. Fã de bandas de garagens na linha dos Seeds e Stooges, Smith manteve-se, ao longo de mais de 40 anos de carreira e 32 discos gravados, como o eterno e único integrante permanente do grupo, que estreou em 1979 com o álbum, “Live At The With Trials”.
“Eu não canto, eu apenas grito”, costumava debochar.
Influência para rock indie
Uma compilação dos melhores momentos dos primeiros shows da banda, “Live At The With Trials” fez sucesso logo de cara, tornando o Fall despertar a admiração de figuras de peso como o DJ John Peel (1939 -2004). A partir dos anos 1980, a sonoridade pesada do grupo ficaria mais eclética e abstrata com apropriação de influências vanguardistas. “Perverted By Language” (1983) e “The Nation’s Saving Grace” (1985) são desta fase.
Iconoclasta, rabugento e autêntico, Mark E. Smith, no melhor estilo de Ray Davies, principal compositor dos Kinks, era um perspicaz e corrosivo observador da sociedade britânica, narrando histórias críticas sobre a vida mundana de pessoas simples das ruas de inglesas.
Embora a banda nunca tenha alcançado estrondoso sucesso comercial – o maior hit radiofônico do grupo, ironicamente, foi um cover do Kinks, “Victoria”, gravado em 1988 – o Fall foi uma das mais influentes do rock alternativo. Entre os que beberam na fonte da banda de Manchester e seu líder inquieto estão o Pavement, Sonic Youth, LCD Soundsystem, Elastica, Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e o Blur.
O rock com atitude fica mais pobre com a morte de Mark E. Smith.