Jukebox Sentimental: livro conta a fulminante trajetória de Elton John
Captain Fantastic – A Espetacular Trajetória de Elton John Nos Anos 70 chega ao Brasil pela Benvirá Editora
atualizado
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Nos anos 1970, Elton John era o rei da praça, a estrela do momento brilhando no “mais alto ponto do mais alto pico do mundo”, a ponto de emplacar sete discos consecutivos nas paradas americanas, além de 14 singles, realizando sonhos quase impossíveis como o de compor e gravar com o ídolo John Lennon, no sucesso Whatever Get You Thru The Night.
O ápice desse encontro seria a participação do ex-beatle num show do artista no Madison Square Garden, em 1974, no dia de Ação de Graças. Os dois haviam se conhecidos no ano anterior, período conhecido como o “fim de semana perdido” de Lennon que, separado de Yoko, andava para cima e para baixo em Nova York com uma turma da pesada.
Certa noite, os dois estavam entupidos de cocaína na suíte do hotel Sherry-Netherland, na Quinta Avenida, dividindo piadas surreais e destilando comentários venenosos sobre Deus e o mundo. De repente, batem na porta e quando Elton dá uma espiada pelo olho mágico se desespera. “É o Andy Warhol”, sussurra ele, incrédulo, para um John Lennon apavorado que devolve: “Puta que pariu, não deixe ele entrar!”.
Eis uma das hilárias histórias do sensacional livro, Captain Fantastic – A Espetacular Trajetória de Elton John Nos Anos 70, de Tom Doyle, que acaba de chegar às livrarias pela Saraiva Editora. A patente do título é uma referência ao disco de 1975 do artista, Captain Fantastic and The Brown Dirt Cowboy, talvez o ponto alto de sua carreira. O capitão da história nós já conhecemos, mas o vaqueiro sujo castanho trata-se de Bernie Taupin, seu eterno letrista.
Elton e Elvis
Aclamado jornalista musical britânico com passagem por importantes publicações do gênero, como Mojo e Sound on Sound, Tom Doyle já lançou no Brasil livro similar contando, por exemplo, a trajetória de Paul McCartney pós-Beatles em Man On The Run.
Captain Fantastic, como se propõe a ser, é uma minuciosa radiografia de Elton John sobre sua fase mais cintilante. Começa em meados dos anos 1960, contando as peripécias de um adolescente gorducho e míope, meio desajeitado, que se transformava em uma figura estelar, quando se sentava atrás do piano. Aliás, essa relação de amor com as teclas teve início ainda bebê: a criança só parava de birra ao ser colocado na baqueta do instrumento.
Aos 15 anos, com a separação dos pais, não vacilou. Apaixonado por música e dono de uma coleção de vinis de dar inveja a qualquer loja de discos, já sabia o que ser na vida: astro de rock. As inspirações, claro, para atacar no piano, eram as ofuscantes estrelas Jerry Lee Lewis e Little Richard, de quem copiou seu estilo espalhafatoso de vestir, o superando, inclusive. Mas como todo jovem da época, o jovem Reginald Dwight se apaixonaria pelo fab four.
Ver os Beatles foi mais ou menos como ver Deus
Elton John
Tocando em pubs imundos e ganhando uns trocados como compositor da Disc James Music, em Londres, viu sua carreira alçar os primeiros voos quando se juntou a um jovem louco por filmes de cowboys, amante de poesias, Bernie Taupin. Antes de se conheceram pessoalmente escreveram 20 músicas juntos, até o dia em que toparam pelos corredores da empresa. O resto é lenda. “Bernie se tornou o irmão que eu sempre quis ter”, revelaria.
Escrito num ritmo alucinante, tal qual a carreira meteórica de Elton nessa década espetacular, Captain Fantastic é uma leitura gostosa que te hipnotiza do começou a fim. Abre as paginas do livro, aciona o Spotify na discografia do artista e esqueça o mundo. Quando vê, já leu tudo!
Os seminais anos de artista profissional acompanhando o bluesman inglês Long John Baldry, a origem do nome Elton John, o estrondoso sucesso inicial nos Estados Unidos, quando aos 20 e poucos anos quase colocou abaixo, em Los Angeles, a casa de show Troubadour, a luta pela conquista do respeito em casa, ou seja, o mercado britânico, o auge com os clássicos discos Honky Château (1972) e Goodbye Yellow Brick Road (1973), os excessos do sucesso.
“Foi o meu ápice. Era uma época em que você não conseguia ligar o rádio sem ouvir uma das minhas canções”, lembraria com orgulho Elton John. “É melhor morrer do que não ouvir Elton”, estava estampada numa das camisetas de um dos mais de 6 mil fãs que foram prestigiar o artista na inauguração de sua calçada da fama, em Hollywood, em 1975.
E era mesmo. Foi uma época, como bem destacou o autor, de “conquistas gigantescas e fracassos esmagadores” para Elton. Os detalhes nas entrelinhas, entre um capítulo e outro, é que são a cereja do bolo, condensadas em passagens marcantes, como a sorte que o artista teve com a solidificação das FMs, as duas tentativas de suicídio e o encontro inesquecível com o rei Elvis Presley, então um zumbi balofo de quase 200 quilos perdido na própria lenda.
“Foi muito triste, desajeitado, o que dizer numa situação dessas? Ele era o homem que tinha começado tudo”, lamentaria.