Jukebox Sentimental: Gerson Conrad, dos Secos & Molhados, volta com CD
O disco Lago Azul resgata o talento do cantor e compositor
atualizado
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Foi há 45 anos. Lançado no segundo semestre de 1973, o antológico disco de estreia dos Secos & Molhados – conjunto que projetou nacionalmente o nome de Ney Matogrosso – mexeu com a moral e bons costumes da época, desafiando ditadores sisudos de plantões e famílias conservadoras com rebolados, rostos pintados e músicas de qualidade poética inquestionável.
“Minha vida, meus mortos/Meus caminhos tortos/Meu sangue latino/Minh’alma cativa”, diz a letra de Sangue Latino, um dos maiores sucessos do álbum escrito quase que de forma mediúnica por Paulinho Mendonça e musicada pelo português João Ricardo – o polêmico idealizador do trio.
Ancorados por mistura inusitada de androginia, rock progressivo, glam rock, folclore, folk e blues, até hoje é difícil de explicar o meteórico sucesso do trio e sua sonoridade eclética que batia recordes de públicos por onde passava. Um dos fundadores da banda, Gerson Conrad, apontado como o ponto de equilíbrio naquela explosiva formação, garante: os Secos & Molhados se explica como fenômeno de massa.
“Caímos no chamado gosto popular com aceitação pública de A a Z. Tínhamos uma sonoridade simples e acústica bem elaborada. Não se encaixar em nenhum rótulo ou gênero fazia parte da proposta do grupo que primava pelo ecletismo”, resume o artista ao Metrópoles. Conrad é o autor da música que melhor captou o espírito da banda: Rosa de Hiroshima.
O Vinícius me disse que a minha música eternizou o poema dele
Gerson Conrad
Apresentação antológica dos Secos & Molhados em 1973, no Maracanãzinho:
No lago azul…
Dois discos depois e mais de um milhão de cópias vendidas – superando o imbatível rei Roberto Carlos –, o grupo se rompe abruptamente no auge da carreira, em 1974, entre farpas e ressentimentos. Ney renovaria contrato com a própria Continental, então gravadora dos Secos & Molhados, João Ricardo assinaria com a Polygram e Gerson Conrad fecharia com a Som Livre. Este lançou, em 1975, Trem Noturno, seu primeiro disco solo.
“Com o fim dos Secos & Molhados, vieram as propostas para a carreira solo. Eu vinha de um trabalho de grupo e o espírito de equipe ainda me encantava. Foi uma experiência muito positiva e gratificante ter dividido disco e palcos ao lado de Zezé Motta”, lembra Conrad.
Com letras de Paulinho Mendonça e música de Gerson Conrad, o disco, hoje conceituado como “cult”, teve relativo sucesso a reboque de canções como A Dança do Besouro, Favor dos Ventos, Pop Star e Sempre em Mim. Após a gravação de Rosto Marcado (1981), o artista hibernou por longos 37 anos, gravando só agora, este ano, um álbum de inéditas: Lago Azul, onde apresenta novos colaboradores e revisita parcerias antigas.
“Só não lancei discos nesses anos, mas estive presente em apresentações ao vivo. Além disso, trabalhei como arquiteto”, revela o cantor e compositor.
Lançamento da Deck, o novo projeto é coprodução do artista com o guitarrista do Trupi, Aru Jr., parceiro de duas décadas. São 12 faixas inéditas selecionadas entre as músicas que ia compondo e guardando desde Rosto Marcado. A faixa-título, um primor de delicadeza lírica, traz arranjo que remete aos Beatles. Amar Alguém, doce e leve como uma brisa. Teias, escrita especialmente para Ney Matogrosso, é a canção mais melancólica e tocante do disco.
Clipe da música “Teias”, de Gerson Conrad:
“É um poema de Pedro Levitch que foi composta para que Ney interpretasse. Como isso não ocorreu, resolvi grava-la”, conta Conrad, que pretende lançar no futuro uma ópera-rock escrita junto com o eterno parceiro dos tempos de Secos & Molhados, Paulinho Mendonça. “Já convidei o Ney para gravar uma das músicas”, entrega.