Jukebox Sentimental: Fleetwood Mac completa 50 anos com coletânea
Um dos titãs do rock setentista, grupo é revisitado com sucesso na abertura da novela O Sétimo Guardião, da TV Globo
atualizado
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Se você é bom de ouvido, então já percebeu que a canção de abertura do novo folhetim da Globo, O Sétimo Guardião, é um dos petardos do Fleetwood Mac, banda ícone anglo-americana dos anos 1970. The Chain, com sua pegada blues atrelada à aura pop medieval, tem tudo a ver com o clima de mistério e ocultismo da trama escrita por Aguinaldo Silva.
“Ouça o vento soprar / Veja o Sol nascer / Corra por entre as sombras / Dane-se o seu amor, danem-se as sua mentiras”, dizem os versos iniciais da faixa, que dança entre os créditos iniciais. “Eu ainda posso ouvir você dizer / Que nunca quebraria a corrente”, canta o quinteto em uníssono na formação clássica, composta por Stevie Nicks (vocal), Mick Fleetwood (bateria), John McVie (baixo), Lindsey Buckingham (vocal e guitarra) e Christine McVie (teclado, vocal).
Para comemorar os 50 anos da banda – que gravou seu primeiro disco em 1968 –, foi lançada a coletânea 50 Years – Don’t Stop. São 50 faixas que resumem a trajetória do grupo, iniciado em 1967. Foi quando o guitarrista virtuose Peter Green e o baixista John McVie deram adeus ao bluesman britânico John Mayall e aos seus Bluesbreakers para criar, com o guitarrista Jeremy Spencer e o baterista Mick Fleetwood, a Peter Green’s Fleetwood Mac.
Vale a pena conferir o material se você quiser entender o som de um dos titãs do rock setentista, mesmo concordando com o colunista de que coletâneas, salvo alguns raros casos, sejam uma bobagem ululante. Bom, em 1969, Peter Green, de saco cheio do blues autêntico e surfando nas ondas do misticismo, abandona o barco, deixando a peteca para o resto da banda, que também seria desfalcada em 1971 pelo guitarrista Jeremy Spencer.
A fase gloriosa da banda começou a ganhar contorno em 1974, com a chegada do casal norte-americano Lindsey Buckingham e Stevie Nicks. Ele, um guitarrista de talento com longas madeixas encaracoladas, deu uma arejada no som blues rock da banda, trazendo a sonoridade melodiosa da costa oeste dos EUA. Ela, uma espécie de Fata Morgana do rock, dona de voz marcante e autora de versos místicos, como os da letra de The Chain.
Sem rumo
Já no primeiro disco com essa formação, um sucesso estrondoso. Fleetwood Mac, de 1975, emplacou três singles no top 20 dos EUA e hits como Warm Ways, Monday Morning, Rhiannon, Say You Love Me e a comovente balada Landslide, com elegante arranjo de violão de Buckingham. “Oh, espelho no céu, o que é o amor? / Pode a criança no meu coração crescer mais?”, diz a letra escrita pela feiticeira da banda, Stevie Nicks.
O auge viria com o clássico Rumours, que ficou 31 semanas nas paradas americanas, abiscoitando o Grammy de Álbum do Ano de 1977. Paradoxalmente, foi um trabalho feito entre atritos, com cocaína rolando solta no estúdio e os casais Joe e Christine McVie e Lindsey e Stevie Nicks entre tapas e beijos, entre uma faixa e outra. Mais tapas do que beijos. Mas geralmente é nos escombros que nascem as mais belas flores.
Além de The Chain, entre as mais belas espécimes do jardim estavam Dreams, uma reflexão sobre amizade, as doloridas Never Going Back Again e Don’t Stop, além da rancorosa Go Your Own Way, em que o guitarrista Lindsey solta os cachorros em cima da ex com violência e virulência. “Me diga por que / Tudo mudou / Arrumar as malas / E fazer sexo é tudo o que você quer fazer”, desanca.
“Go Your Own Way era desagradável e cheia de ódio e, na minha opinião, muito desrespeitosa”, reclamaria Stevie Nicks em 2009.
O último ato desse fenômeno que vendeu mais de 100 milhões dos 16 álbuns de estúdio, coletâneas e registros ao vivo foi a demissão, em abril deste ano, do guitarrista Lindsey Buckingham, indeciso entre sua carreira solo e sua participação na banda. A pendenga foi parar nos tribunais, gerando mais um capítulo dessa grande novela que é o Fleetwood Mac.