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Jukebox Sentimental: Eagles é dono do disco mais vendido dos EUA

Nem Elvis, nem Beatles ou Michael Jackson: a obra musical mais comercializada é da banda de country e folk

atualizado

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Eagles com uma de suas primeiras formações clássicas
1 de 1 Eagles com uma de suas primeiras formações clássicas - Foto: Divulgação

O voo da águia ofuscou o brilho de Michael Jackson. Pelo menos naquele que é o maior mercado fonográfico do planeta, ou seja, os Estados Unidos. Isso porque a coletânea Their Greatest Hits 1971 – 1975, da banda de country rock Eagles – sensação musical nos anos 1970 – é, oficialmente, desde a última semana, o disco mais vendido da história na terra do Tio Sam. São 38 milhões de cópias contra 33 milhões do fenomenal Thriller, do Rei do Pop.

“Tem sido uma viagem e tanto. Somos gratos a nossas famílias, empresários, equipe, pessoas das rádios e, acima de tudo, aos fãs leais que continuaram conosco ao longo dos altos e baixos destes 46 anos”, celebrou o baterista e uma das vozes do Eagles, Don Henley.

Ironicamente, o maior sucesso da banda de Los Angeles, Hotel California, não está entre as 10 faixas da compilação, lançada em 1976. Hit interplanetário, a canção só seria gravada naquele ano, quando saiu o disco homônimo, por sinal, o terceiro na lista dos mais vendidos do país, com 26 milhões de cópias. O levantamento foi feito pela Associação da Indústria de Gravação da América, levando em conta álbuns físicos e streaming.

Ao todo, foram sete álbuns de estúdios entre 1972 e 1979 – o último foi lançado em 2007, após reencontro da banda –, mais de 121 milhões de discos vendidos em todo o mundo e uma média de 255 ouvintes por dia nos quatro cantos do planeta, segundo o Spotify. Os números dão uma ideia do prestígio dos velhinhos, basta dizer que Elvis Presley não chega a 8 milhões…

Vocais oníricos e mediúnicos
É fácil entender o sucesso e prestígio da banda nos Estados Unidos. Nascida no ceio da Costa Oeste do país, berço do mais genuíno country rock, os Eagles captou, com suas harmonias vocais oníricas, sonoridade mediúnica e letras simples, o estado de espírito do homem do interior norte-americano. Ao ouvir suas canções nos lembramos de bacon com ovos, Paul Newman em Hud (1963), carcaças de gados e o frescor dos ventos nas palmeiras.

O gozado é que nenhum dos integrantes da banda nasceu na Califórnia. Uma dica para conhecer esse fenômeno tipicamente americano é o documentário exibido na Netflix History Of The Eagles. O projeto de 2013 dividido em duas partes revela tudo. O início nos anos 1970, com Glenn Frey e Don Henley – fundadores e principais compositores e vocalistas –, o auge do sucesso, tretas com gravadoras e brigas de egos internas que culminaram no fim em 1979.

Tudo começou com Elvis e os Beatles, ídolos do grupo, mas a gênese dos Eagles remonta aos anos de estrada como banda de apoio de Linda Ronstadt: Glenn Frey, guitarrista, Don Henley, baterista. Aos saírem, recrutam Randy Meisner (baixista) e o guitarrista Bernie Leadon, então remanescente de bandas ícones do country rock como Byrds e Flying Burritos Brothers. O nome Eagles nasceu de uma viagem coletiva de peiote no mítico deserto de Joshua Tree.

Com produção do britânico Glyn Johns – então engenheiro de som dos Beatles e produtor de bandas como The Who e Led Zeppelin – o primeiro álbum dos Eagles, de 1972, sintetizaria na sua essência sonora um híbrido de bluegrass, country e rock. De cara, eles emplacaram os hits Witchy Woman, Peaceful Easy Feeling e Take it Easy, essa última, o cartão de apresentação de ouro que qualquer banda estreante sonharia em tirar da cartola.

Desesperado (1973), o segundo álbum, tinha proposta conceitual em torno do universo dos foras-das-leis do faroeste. O disco foi aclamado pela crítica, mas incompreendido pelos fãs. Os trabalhos seguintes, On The Border (1974) e One Of These Nights (1975), serviram de base para a maturidade criativa da banda que resultaria no clássico Hotel California (1976).

“Nós nunca imaginamos que tivéssemos tanto sucesso e que duraria por tanto tempo”, profetizaria um deslumbrado Don Henley, no auge da banda.

Acrescidos de novos integrantes, Don Felder (guitarra) e Joe Walsh (guitarra), o disco simbolizaria o ápice de trajetória marcada por vendas exorbitantes e críticas elogiosas, mas também por excessos de droga e hedonismo em farras homéricas pós-shows que terminavam em sacanagens numa banheira cheia de Budweiser. “Uma música sobre o lado sombrio do sonho americano”, resumiria o baterista Henley, sobre a faixa-título e todo o álbum.

Desgastados pela exposição do sucesso e egos inflados, a banda se agonizaria com um derradeiro álbum de sua fase de ouro, “The Long Run” (1979), retornando em turnê mundial milionária só em 1994, gravando um derradeiro registro em 2007, “Long Road Out of Eden”. Com a morte em 2016, de Glenn Frey, um dos fundadores da banda, a imponente águia do rock pode ter dado fim em seus voos pelos palcos, mas não nas vitrolas e corações dos fãs.

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