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Jukebox Sentimental: Chester conduziu a salada de som do Linkin Park

O líder do grupo morreu na última quinta-feira (20/7)

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1 de 1 chester-rip - Foto: Guilherme Primola/Metrópoles

Há certo toque de mistério niilista/existencial na bíblica frase do jornalista e dramaturgo, Nelson Rodrigues (1912 – 1980), que disse certa vez: “Deus ama os suicidas”. E a julgar pelas inexplicáveis mortes trágicas de duas estrelas do rock contemporâneo, que tiraram suas vidas num prazo de dois meses, deve ser mesmo. Primeiro foi Chris Cornell, do Soundgarden, em maio, e na última quinta-feira (20/7), Chester Bennington, do Linkin Park.

As estranhas coincidências que cercam as duas recentes baixas da música internacional surpreendem. Grandes amigos, Chester idolatrava Cornell e era padrinho dos filhos dele. O líder do Linkin Park também sofria de depressão e se matou no mesmo dia em que Cornell completaria 52 anos.

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Mas os estilos dos dois artistas divergiam. Enquanto Cornell ainda surfava como sobrevivente da cena grunge — junto com Eddie Vedder e o Pearl Jam –, Bennington emergia no início de 2000 como uma das grandes sensações do rock à frente do Linkin Park. Isso porque, quando menos se esperava, a banda inaugurou mais um dos segmentos do gênero, com a inovadora mistura de hip-hop, rap, metal e música eletrônica, mais influências de hard rock.

“Não somos um grupo de mainstream: o mainstream é que veio até nós”, disse o guitarrista rapper, Mike Shinoda, em 2003, tirando onda.

Metaleiros pop…
E o Linkin Park começou a virar tendência e cair na moda quando gravou o primeiro disco em 2000, “Hybrid Theory” (algo como “Teoria Híbrida”), curiosamente, como a banda se denominava na época. O atual nome é uma brincadeira-homenagem ao Lincoln Park, localizado em Santa Mônica, na Califórnia, ponto de encontro dos integrantes do grupo.

Mas a cruzada do Linkin Park rumo à fama não foi nada fácil. Rejeitado zilhões de vezes por várias gravadoras em meados dos anos 1990, o grupo só conseguiu uma oportunidade graças ao feeling e à influência do produtor Jeff Blue, que indicou a banda para a Warner. Jeff já havia acertado antes, quando sugeriu o nome de Bennington como substituto do primeiro vocalista da banda, Mark Wakefield.

O momento não poderia ser mais oportuno. Em meados dos anos 2000, quando o grunge do Nirvana e Cia. andava em marcha lenta e o britpop, desgastado, o nu-metal (subgênero do heavy metal) estava na crista da onda — tendo então na linha de frente do rap/metal, nomes como Korn e Limp Bizkit. O Linkin Park se sobressai nessa cena densa ao abraçar uma combinação de ritmos originais com clima metaleiro/pop.

Destacava nessa inovadora salada de sonoridade do Linkin Park, a voz potente e versátil de Chester Bennington que, corpo franzino tatuado, na maioria das vezes isolado na imensidão do palco entre os outros cinco integrantes da banda, traduzia as angústias, anseios, solidão e individualismo de milhares de adolescentes de toda uma geração.

“É difícil te deixar partir/Eu sei o que é preciso para seguir em frente/Eu sei qual é a sensação de mentir/Tudo o que quero fazer é trocar a minha vida por algo novo/Segurando-me ao que não tenho”, desespera-se, ironicamente, o artista, em “Waiting For The End”, faixa do álbum “A Thousand Suns” (2010).

Nascido em Phoenix, nos Estados Unidos, em março de 1976, Chester Benninton trazia no íntimo a sina trágica dos grandes ídolos do rock. Aos 7 anos, foi molestado por um amigo mais velho, trauma que carregaria pelo resto da vida. Aos 11, foi morar com o pai após um divórcio e, aos 16, já era PHD em todo tipo de drogas e álcool. A música era uma válvula de escape em que externava seus fantasmas por meio de gritos lancinantes e letras impetuosas.

 

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