Jukebox Sentimental. “As You Were” marca retorno de Liam Gallagher
O ex-Oasis lança primeiro disco solo que chega como grata surpresa ao mundo musical
atualizado
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O marrento mais carismático do rock está de volta. Liam Gallagher, o vocalista do Oasis, acaba de lançar o seu primeiro disco solo passados oito anos do fim do popular grupo de Manchester. Antes disso, ele havia se aventurado como líder do Beady Eye, formado com o que restou do principal movimento do britpop.
Assim como outros trabalhos do Oasis e do Beady Eye, “As You Were”, lançado em 6 de outubro, soa à nostalgia sessentista pura, com sonoridade retrô que remete aos velhos ídolos da banda de sempre, ou seja, Stones, Who, Jam e, claro, Beatles. Grande admirador de John Lennon, Liam evoca o ídolo em citações musicais e textuais. O estilo é direto e seco.
“Amanhã nunca se sabe/Os ventos da mudança devem soprar/Eu hiberno e canto/Ao juntar minhas asas/(…) Eu tenho tudo que preciso e mais”, canta cheio de autoestima o artista em “I’ve All I Need”, a faixa mais cativante do álbum, citando um clássico dos Beatles, escrito por Lennon.
“For What It’s Worth”, que bem caberia num álbum da antiga banda de Liam, e a bluesy “Wall of Glass”, com sua áurea stoneana, são outros trabalhos de peso desse registro que chegou ao topo das paradas britânicas. Em sua primeira semana de lançamento, “As You Were” vendeu mais do que a soma de todos os outros do Top 20, desbancando medalhões como A-Ha e Marilyn Manson. Que début!!
Alguns críticos desatentos apressaram em dizer que “As Were You” seria o melhor trabalho de um ex-Oasis lançado até então. Balela, já que “Noel Gallagher’s High Flying Birds” (2011) desmente isso. O desempate dessa disputa velada entre os irmãos, num embate digno de Caim e Abel, acontecerá em 24 de novembro, quando Noel, o cérebro por trás do Oasis, lançará seu terceiro álbum solo: “Who Built The Moon?”.Em pé nos ombros do gigante
Aos 45 anos, Liam Gallagher parece estar com a corda toda. A voz que já foi considerada uma das melhores do rock, não é a mesma. Mas, mais maduro, o cantor se esforça para não parecer tão hooligan e casca grossa como no auge da Oasismania, quando, ao lado do irmão Noel, reinava soberanamente na Inglaterra, como se, citando o título de um dos álbuns da banda fenômeno dos anos 1990, parecia estar em pé nos ombros de um gigante.
Prova disso, foi a dobradinha que fez com Chris Martin no “One Love Manchester”, evento realizado em homenagem às vítimas do ataque terrorista acontecido em maio deste ano. Liam que, na melhor linha “Big Mouth”, já tinha falado poucas sobre o Coldplay, não apenas pediu desculpa à turma, como cantou junto com os colegas de palco uma versão épica do clássico: “Live Forever”. Um homem mudado?
A formação deste novo indivíduo começou a ser desenhada com o próprio fim do Oasis. Longe da sombra do irmão Noel, a mente criativa por trás da banda, Liam sacudiu as poeiras do tombo que levou dos ombros desse gigante da arrogância e foi à forra. À frente da Beady Eye lançou dois discos maneiros, “Different Gear, Still Speeding” (2011) e “Be” (2013), evidenciando lado compositor já revelado em hits hipnotizantes como “Songbird”. Lembra?
Generoso à sua maneira, Liam interpreta com personalidade passional duas canções que não assina no álbum, ambas escritas pela dupla, Michael Tighe e Andrew Wyatt. Uma delas é a doce “Paper Crown”. A outra é “Chinatown”, uma crônica social que nos brinda com um arrepiante loop psicodélico.