Judas apresenta novas canções no Clube do Choro
Marcada pela mistura entre o rock urbano e a viola caipira, a banda brasiliense faz única apresentação no sábado (7/11)
atualizado
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Mais conhecido por histórica e semanalmente abrigar concertos de música instrumental, o Clube do Choro também tem aberto seu palco para bandas de rock da cidade. Nesse clima, o sábado (7/11) será dedicado ao autointitulado “hard roça” do Judas. A noite terá abertura dos conjuntos Maria Sabina e Protofonia.
Depois de marcar presença na cena da cidade com o álbum “Nonada” (2014), o Judas se prepara para voltar ao estúdio. Desta feita, o líder do grupo, Adalberto Rabelo Filho, pretende lançar um EP de composições inéditas, com o título “Casa de Tolerância nº 1”, e na sequência um disco cheio.
Três músicas da nova safra já estão consideradas prontas o suficiente para a banda apresentá-las, em primeira mão, no Clube do Choro. “Oroboro”, “De Rocha” e “Cada Cidade, um Porto” reafirmam a sonoridade peculiar do Judas, trazendo a viola caipira para dentro de um formato de pop-rock urbano, num imaginário inspirado em iguais medidas por Bob Dylan e João Guimarães Rosa.
Sob nova formação
Violeiro do Judas desde os primeiros ensaios, Fábio Miranda atualmente se divide entre Brasília e a cidade de São Paulo, onde faz mestrado e leva adiante uma ascendente carreira solo. De modo que agora a banda conta com um segundo violeiro, o goiano Pedro Vaz, que também esmerilha uma percussão (atabaques e congas), trazendo novo elemento para o som do grupo.
Nos concertos em que Fábio Miranda pode estar presente, como o desta semana, Pedro Vaz e ele se alternam nas violas. A formação que sobe ao palco do Clube do Choro conta ainda com Bruno César Araújo (guitarra, bandolim, violão), Carlos Beleza (guitarra), Pedro Souto (baixo), Hélio Miranda (bateria, teclados) e, claro, Adalberto Rabelo Filho (voz, violão).
São todos músicos já rodados na cena da cidade. B.C. Araújo tocava com os Móveis Coloniais de Acaju. Carlos Beleza e Pedro Souto também fazem parte do Almirante Shiva. Hélio Miranda, dos Rios Voadores. E Pedro Vaz ainda está ligado às suas bandas de Goiânia, o Cega Machado e o Calango Negro.
Epifania e expiação
Adalberto Rabelo Filho, por sua vez, é paulistano e cumpriu larga trajetória na cena roqueira de sua cidade. Esteve à frente da banda Numismata e agita constantes parcerias como compositor e letrista com os grupos Vespas Mandarinas e Vivendo do Ócio.
Esta sua banda candanga, o Judas, surgiu de uma crise pessoal e artística. Quando se mudou de São Paulo para Brasília, há sete anos, por razões exclusivamente profissionais dentro da empresa em que trabalha, ele sentiu que algo estava se perdendo. “Não fazia sentido eu continuar compondo as músicas que eu compunha por lá se agora eu estava morando em uma cidade com outra paisagem”, ele se recorda. “Seria uma mentira se minha nova banda reproduzisse a sensibilidade de uma metrópole.”
A aridez e a solidão do cerrado, e de Brasília, para Rabelo inviabilizava o som que já conhecia. A saída para essa crise artística surgiu numa manhã de sábado na 403 Norte. O músico estava de bobeira em casa quando entrou pela janela um timbre que ele não reconheceu de imediato. Ficou tão curioso que desceu para baixo do bloco e foi seguindo a melodia até a comercial. Ali encontrou o barbeiro da quadra tirando uma moda de viola nos fundos de um boteco.
Quando Rabelo cruzou com o violeiro Fábio Miranda, pouco tempo depois dessa epifania caipira, estava resolvido o bloqueio criativo que o Planalto Central lhe tinha imposto. E voltando aos textos de João Guimarães Rosa, um intelectual urbano que soube recriar por escrito a poesia oral do sertanejo, ele encontraria a chave lírica para suas novas composições.
“Daí esse nome de Judas”, explica Adalberto Rabelo Filho, chamando para perto de si a imagem mais controversa do cristianismo. “Tem a ver também com o Judas do Bob Dylan, o Judas que ele se tornou quando eletrificou o folk de seus primeiros discos. O Judas é o meu bode expiatório, o animal que eu sacrifico para expiar minhas aflições e minhas culpas.”
Deus esteja, diria Guimarães Rosa.
Sábado (7/11), às 21h, no Clube do Choro (Setor de Divulgação Cultural, bloco G, 3224-0599). R$ 20 e R$ 10 (meia). À venda no site www.clubedochoro.com.br e na bilheteria (seg. a sex., 10h às 22h; sáb., 19h às 21h30). Não recomendado para menores de 14 anos.