Hungria: rapper sai da Cidade Ocidental e ganha o Brasil com a música
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o artista contou sobre a infância no Entorno e a ascensão no mundo da música
atualizado
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“Eu cantava no quarto. Fechava os meus olhos e conseguia enxergar todo o público. Conseguia vê-los nitidamente. Deus me colocou no meio de pessoas grandes para mostrar que a minha fé me torna um gigante também”, diz Gustavo da Hungria Neves, 26 anos, ao lembrar da infância na Cidade Ocidental (GO), no Entorno do Distrito Federal. As rimas bem escritas levaram o artista a virar um dos rappers mais influentes no Brasil. Parceiro de nomes consagrados, como Lucas Lucco e Gusttavo Lima, o fenômeno da internet coleciona recordes no YouTube e, recentemente, virou trilha sonora da novela “Malhação”.
O interesse pelo movimento hip-hop começou cedo. Desde pequeno, escutava e acompanhava movimentos que despontavam na periferia do DF. Era uma geração de ouro, que contava com o DJ Jamaika, GoG e os grupos Os Pacificadores e Tribo da Periferia. Hungria, então, passou a conviver com essas pessoas em festas e na ruas.
“Eu pegava o ônibus, ia para Planaltina e Samambaia. Era aquele molequinho que estava o tempo todo atrás dos caras, querendo aprender, saber como eles faziam. Quando comecei, o rap estava em ascensão e aquilo mexeu muito comigo. Tinha muita vontade de cantar”, contou Hungria, em entrevista ao Metrópoles. Assim, o artista abandonou o curso de administração, estágio em um escritório e apostou na música. Arriscou tudo e, com apoio da família, principalmente da mãe, estourou.
Atualmente, Hungria vive entre Brasília e São Paulo. Na capital, mora com a família em um apartamento na Asa Sul. Na Terra da Garoa, o rapper passa dias fazendo apresentações, gravando e ensaiando. Os shows do artista são um espetáculo à parte, marcados por hits e homenagens a outros nomes da música, por exemplo, Chorão. Ele gosta de surpreender o público com efeitos visuais e sonoros nas apresentações. Bailarinos também marcam presença com passos de break.
Sempre que sobe ao palco, Hungria realiza aquele desejo de menino. “Vejo muitos sonhadores atrás de uma mesa, de um balcão. Não importa a remuneração, mas acredito que é um trabalho infeliz se eles não vivem o sonho”, opina.
Recordes no YouTube
Lembranças dos 16 anos que viveu na Cidade Ocidental se tornaram músicas e até mesmo uma tatuagem. As brincadeiras de criança também são revisitadas nas canções. “É uma letra de verdade, da minha vida. Por isso atinge um número maior de público”, opina.
Gravado da Cidade Ocidental, o clipe da música “Lembranças” retrata bem a história de Hungria. A produção, com pouco mais de quatro minutos, mostra a trajetória do artista e coleciona mais de 100 milhões de visualizações.
Só no YouTube, o canal do cantor tem 3 milhões de inscritos. Número superior a rappers como Projota e Emicida. O sucesso do brasiliense na internet é mesmo surpreendente. Em pouco mais de um mês após a divulgação, o clipe “Coração de Aço” somou mais de 26 milhões de visualizações.
A consagração não veio de mão beijada. Até alcançar o sucesso, Hungria enfrentou preconceito dentro do próprio estilo musical. “As pessoas criticavam muito. Perguntavam: o que esse playboy quer cantando rap? Playboy porque eu não falava da violência que tinha na sociedade, não fazia protestos políticos. Eu respeito quem vem dessa raiz porque o gênero é, culturalmente, a voz da sociedade, da periferia. Só que conseguimos mostrar que não é só isso. Temos uma visão maior”, conta.
Sobre parceria com astros do funk e sertanejo, o cantor enfatiza:
Essa troca de musicalidade e de ritmos é muito bacana, só agrega para o artista. Eu não levanto a bandeira do rap, luto pela música.
Hungria
A mente aberta e o profissionalismo catapultaram a carreira de Hungria. Sua última parceria foi com o sertanejo Gusttavo Lima, no clipe “Eu vou te buscar” — gravado em Pirenópolis (GO) e com participação de Cléo Pires.
Futuro
O céu parece mesmo ser o limite para o jovem de Brasília. Os planos do artista para o futuro envolvem a gravação de um DVD, em fase de planejamento, e uma turnê internacional na Europa e no Japão.
Com relação às composições, a capital federal segue tendo espaço garantido. “Pretendo continuar com essa referência a Brasília. Às vezes, as pessoas pensam que sou de São Paulo, mas tenho orgulho de dizer que sou daqui. Quero levar a bandeira do nosso Planalto Central para fora”, conclui.