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Feminismo inspira “Território Conquistado”, novo CD de Larissa Luz

No álbum, a artista baiana (ex-vocalista do Araketu) canta o empoderamento da mulher negra e homenageia personalidades importantes, como a escritora Carolina Maria de Jesus

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Safira Moreira/Divulgação
Larissa Luz, cantora e compositora
1 de 1 Larissa Luz, cantora e compositora - Foto: Safira Moreira/Divulgação

Larissa Luz começou a cantar ainda criança. A cantora soteropolitana (hoje com 28 anos) lembra que arrastava os móveis da sala para cantar e dançar, como se estivesse diante das câmeras. “Depois comecei a compor, fazer aula de canto e passei a me apresentar em shopping e barzinho”, conta.

Aos 15 anos, Larissa entrou numa banda de rock só de meninas. “Nos apresentamos em alguns festivais e não parei mais”. Durante cinco anos, a cantora rodou o país e o mundo como vocalista do grupo Araketu. “Aprendi muito. Adquiri um bem incrível: experiência! Tive um contato sensacional com um universo percussivo, e conheci muita gente interessante. Foi desafio pesado, mas valeu muito a pena”, avalia.

Em 2012, ela partiu para a carreira solo e, no ano seguinte, lançou o disco “Mudança”, com forte influência da cultura afro-brasileira. Agora, Larissa divulga o novo álbum, “Território Conquistado”, com letras que falam de feminismo negro e do empoderamento das mulheres negras.

Ao Metrópoles, Larissa falou sobre as referências que levou para o CD e explicou como algumas músicas surgiram. É o caso de “Letras Negras”, criada em homenagem à escritora Carolina Maria de Jesus . Confira o bate-papo:

Como nasce o repertório e o conceito de “Território Conquistado”? A ideia do feminismo negro está muito presente…
Quando recebi da Natura a oportunidade de produzir o segundo disco de carreira, parei pra sentir minhas urgências, verdades, vontades e as necessidades de um coletivo com o qual me identifico. Queria externar algo pessoal que tivesse uma conexão forte com o meio que me cerca. Convidei a antropóloga Goli Guerreiro para somar conteúdo a esse processo, que resultou num grito de libertação. As letras foram surgindo junto com a reflexão e pesquisa. De cada lembrança, cada história, cada preciosidade descoberta num universo feminista e negro, brotava uma ideia que virava uma canção.

Qual é a importância de lançar um trabalho que estimula o empoderamento da mulher negra?
Acredito no ativismo artístico. Acho que a arte é um instrumento político poderoso. Vivi a ausência de representatividade e sei da importância de se ter referências quando se é uma mulher negra numa sociedade racista e machista. Sei da relevância de ter uma autoestima acesa e orgulho de ser o que se é! O nosso ciclo começa no reconhecimento, passa pela aceitação para chegar na emancipação e descolonização. Sinto-me contribuindo com um processo extremamente necessário, quando uso a arte como ferramenta.

Quais referências artísticas você levou para o CD?
Betty Davis, Nina Simone, Buraka, Azealia Banks, Elza Soares, Nneka, Ilê Ayê…

Como nasceu a música “Letras Negras”?
Fiz “Letras Negras” para falar de Carolina de Jesus, escritora mineira que escrevia, em cadernos encontrados no lixo, o cotidiano da comunidade onde morava. Ela foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas e seus escritos viraram um livro, “Quarto de Despejo”, publicado e traduzido em 13 idiomas, vendido em mais de 40 países, best seller na América do Norte e na Europa. Carolina escreveu outros livros na sequência e foi hostilizada, desprezada e esquecida. A história dela me inspirou! Quem não conhece, precisa conhecer! Ela é uma referência, é resistência, é a heroína que deveria estar, mas não estava ao nosso alcance. Mais uma que foi apagada pelo preconceito.

Já “Nollywood” surgiu a partir da escritora Chimamanda Ngozi Adichie…
A música “Nollywood” começou com a história da nigeriana Chimamanda e seu discurso arrebatador. Foi de onde surgiu minha parceria com Goli. Ele sugeriu que homenageássemos a autora numa canção, falando do cinema nigeriano e suas produções informais. A Nigéria chegou a se tornar a terceira maior indústria de produção de cinema no mundo, o que me fez refletir sobre a ausência de representatividade nas produções audiovisuais brasileiras.

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