Especialistas apontam qual é o peso de popstars nas eleições nos EUA
Famosos e seus fãs têm usado o período de eleições nos EUA para se posicionar politicamente. Como isso impacta a disputa?
atualizado
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Nas últimas cinco eleições presidenciais dos Estados Unidos, cantores norte-americanos se posicionaram a favor de algum candidatos: como Beyoncé, que apoiou Barack Obama, em ambas corridas eleitorais; Katy Perry fez um comício para Hillary Clinton em 2018; Lady Gaga cantou o hino dos EUA na posse Joe Biden, em 2020, após virar cabo eleitoral do democrata; e Kanye West com o boné “Make America Great Again”, slogan do Donald Trump, em 2020.
Mais do que estar presente em comícios e campanhas nas redes sociais, o apoio pode ser visto de forma mais discreta, com a liberação dos direitos autorais de uma música para uma campanha. O uso de importantes figuras da cultura é uma forma de candidatos buscarem se aproximar de eleitores-fãs das celebridades, segundo apontam especialistas ouvidos pela reportagem. Na linguagem da diplomacia, o termo é conhecido como soft power (ver mais abaixo).
Na eleição presidencial dos EUA este ano, a candidata Kamala Harris, do partido democrata, está usando a música Freedom, de Beyoncé, sobre empoderamento feminino e luta racial, discurso que se aproxima dos ideais expostos na arte da cantora, que agrada os fãs dela. Além disso, entusiastas da política usaram o disco Brat, de Charli XCX, para divulgar as ideias da ex-senadora.
Enquanto Donald Trump, do partido republicano, conta com o apoio de Billy Ray Cyrus, cantor de country e pai de Miley Cyrus, e da rapper Azealia Banks – ambos foram a um comício dele. Porém as campanhas do político vem recebendo uma série de repressão de outros artistas, que não querem ser vinculados ao candidato.
Trump parou de usar músicas do grupo ABBA em comícios e em vídeos da campanha, a pedido da própria banda. O ex-presidente também usou uma imagem de deepfake de Taylor Swift para tentar atrair os Swifties, nome do grupo de admiradores da popstar. O resultado foi o contrário: milhares de fãs da voz de Shake it Off, incluindo figuras culturais e políticas, se reuniram em um comício virtual, com objetivo desmentir o republicano, segundo reportagem do The New York Times.
Com a data da votação se aproximando, em 5 de novembro, é esperado que artistas se posicionem daqui para frente, principalmente em incentivo ao voto, que não é obrigatório nos EUA. Assim, o primeiro “benefício” do uso de famosos é chamar os jovens para a votação, seguido por estabelecer uma relação com determinado candidato, como pontua Thiago Soares, que é pesquisador do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Música e Cultura Pop na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Soft power
A tentativa de usar cantores e músicas nas campanhas está ligada ao conceito de soft power, ou poder brando, das Relações Internacionais. “É usar aspectos culturais como uma forma de estabelecer poder e influência”, define Fabrício Pontin, professor de Direito e Relações Internacionais na Universidade LaSalle (Canoas/RS), e professor titular no Programa de Pós-Graduação em Educação, .
“Quando se usa música, ou trecho de filme, ou personagens, é uma forma de fazer referência a determinar o poder cultural dentro daquele grupo político, né?”, comenta Fabrício. Como exemplo, além da música, ele cita a participação dos atores Tony Goldwyn e Kerry Washington, que faziam um casal na série Scandal, para uma conferência Democrata.
“Os democratas conseguem fazer isso de uma forma que os republicanos não conseguem. Por exemplo, os republicanos têm o apoio de vários influenciadores, que tem sim muito alcance dentro das redes sociais. Eles acabam apelando a um diferente tipo de soft power”, pontua.
Política na música
Enquanto o apoio pode ser positivo pros políticos, o posicionamento pode ter impactos negativos na carreira do cantor, por uma possível rejeição à visão política do artista. Um exemplo foi o grupo country Dixie Chicks, que se posicionu contra a guerra do Iraque, afirmando ter vergonha do ex-presidente George W. Buch, que era republicano. Esse movimento gerou um cancelamento da banda, que nunca retomou aos números que tinham.
Esta é a justificativa de muitos artistas para não se posicionarem, entre eles, Taylor Swift, que não se envolveu em política por muito tempo. Assim como a Dixie Chicks, ela veio do country, gênero com tendência a apoiar candidatos republicanos.
Quando mudou o rumo da carreira para o pop, Taylor começou a expressar mais opiniões políticas. A bolha de consumidores de música pop está bastante ligada a causas LGBTQIAP+, pautas raciais e das mulheres, o que está mais próximo dos ideais defendidos por democratas, explica Soares.
No entanto, há cantores que fogem do padrão e não têm medo da falta de identificação do público com o posicionamento político. Como Kanye West, que é do meio do rap, e apoia Donald Trump.
Mas o apoio vai mudar o resultado?
Apesar de entender a influência de cantores em movimentos pontuais, o apoio de artistas a um candidato tem um impacto “relativamente baixo” nas urnas, diz Fabrício. “A dúvida é: será que uma declaração direta de uma de uma figura com Taylor Swift, que tem todo apoio dos Swifties, conseguiria engajar essa população em favor da candidatura dDemocrata? A gente não sabe muito bem isso”, pontua.
Como exemplo, ele usa o público-alvo de Taylor Swift, que são “mulheres brancas jovens do meio-oeste dos Estados Unidos”. “Não é um público que de forma geral se engaja em eleições”, conclui.