Entenda o rapnejo: novo estilo é aposta do mainstream mundial
O ano de 2019 tem sido frutífero para as parcerias musicais de artistas do sertanejo e hip-hop, dentro e fora do Brasil
atualizado
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Por muitos anos, uma barreira formada de preconceitos dividia as opiniões de fãs de dois dos gêneros musicais mais populares do país, o sertanejo e o rap. Era improvável imaginar a mistura do grave e da métrica veloz dos rappers das periferias aos sons violados cultuados no interior do país. Em 2016 – com os mais de 107 milhões de views do hit Quebra Cabeça –, Hungria e o cantor Lucas Lucco deram o primeiro passo para romper essa fronteira e mostraram que beats e modões podem criar uma só melodia. Nasceu ali o rapnejo, que em 2019 vive a sua fase mais frutífera.
No último dia 20 de setembro, uma parceria inusitada surpreendeu os fãs dos Racionais MC’s, grupo que se manteve por muito tempo fechado dentro do cenário hip-hop. Edi Rock lançou em sua página oficial no YouTube o clipe de Uq Cê Vai Fazer, no qual divide os vocais com a nova aposta do sertanejo, Lauana Prado. O vídeo já superou a marca de 2 milhões de visualizações e tem conquistado a aprovação dos seguidores do paulista. “Revolucionário sem perder a essência”, comentou um fã.
Um dia antes, a cantora Marília Mendonça apresentou aos fãs o resultado de Conspiração, música em parceria com a banda formada em Planaltina (DF) Tribo da Periferia. A faixa já alcançou mais de 7 milhões de views. Quem esteve presente no show da Rainha do Feminejo em Brasília em maio deste ano sabe que o flerte da goiana com o gênero não vem de hoje. A composição escolhida para a capital federal no projeto Todos Os Cantos, Insano, conta com versos do rapper paulista Gaab. Ainda sem videoclipe, o áudio da canção no canal Boteco Sertanejo possui 5,4 milhões de acessos.
Versão gringa
Em abril, a versão gringa do rapnejo chegou ao topo da parada da Billboard. O country rap Old Town Road, do norte-americano Lil Nas X, de 20 anos, se tornou o maior hit dos Estados Unidos em 2019. A música une temas urbanos e rurais ao som de banjo e batidas do trap, subgênero mais arrastado e eletrônico do rap. Além de contar com um dos ícones do country americano dos anos 1990, Ray Cyrus (hoje mais conhecido como “o pai da Miley Cyrus”).
A combinação fez Lil Nas X ficar durante três semanas no primeiro lugar da Hot 100, a principal parada americana. Também chegou em segundo lugar no ranking mundial do Spotify.
Brasilienses precursores
Os brasilienses da Tribo da Periferia e Hungria são os rappers mais abertos ao rapnejo. Os principais sucessos do estilo, que ainda engatinha no mercado fonográfico, contam com participação dos músicos de dentro e do entorno do quadrado.
Depois de assinar rimas para a canção de Lucas Lucco em 2016, Hungria voltou a apostar nas parcerias com sertanejos. Em Eu Vou Te Buscar (Cha la la la la), de Gusttavo Lima, o artista, criado na Cidade Ocidental (GO), entrou de cabeça no som universitário e conquistou mais de 122 milhões de views. Em 2018, a Tribo da Periferia também já havia topado o casamento sonoro com a dupla Cleber & Cauan. Eles lançaram É Tudo Nosso, hit que ultrapassou a marca de 1 milhão de visualizações.
A prova de que o rapnejo veio para ficar no Brasil é que Marília Mendonça já prepara um novo featuring. Ao menos é o que indica uma troca de tweets entre a goiana e o rapper mineiro Djonga, conhecido por letras que retratam a violência e o racismo de forma direta.
Aconteceu em maio, após Marília fazer citação a trecho de música do Djonga no Twitter. A cantora recebeu uma proposta como resposta. “Vamo gravar uma música!!!”, disse o MC. “Onde eu assino?”, respondeu a sertaneja. A colaboração ainda não tem data definida para sair das redes sociais e chegar às plataformas digitais.