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Entenda as referências de This is America, clipe de Childish Gambino

Alterego do ator Donald Glover lançou inspirado vídeo dirigido por Hiro Murai, parceiro de projetos do artista

atualizado

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this is america childish gambino
1 de 1 this is america childish gambino - Foto: Reprodução

Na América, o horror se instalou como pano de fundo, mas a mídia nos mantém distraídos com bobas tendências: essa é uma das mensagens de This is America, single e videoclipe de Childish Gambino. O cantor, alterego do ator e roteirista Donald Glover, denuncia o racismo e a violência policial em obra visual dirigida por Hiro Murai, realizador que faz parcerias com o artista desde o seriado Atlanta.

Com o lançamento do clipe, a internet está em polvorosa em torno das inúmeras referências cuidadosamente escolhidas para cada detalhe dos quatro minutos de vídeo. Bino, como é chamado pelos fãs, utiliza-se de imagens racistas e referências à brutalidade com a qual a polícia – e muitos brancos – tratam a população negra americana.

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... uma figura caricata da cultura americana do século 19: comediantes faziam <i>blackface</i> e encarnavam um personagem burro e maltrapilho que dançava com movimentos bobos. As Leis de Jim Crow valeram de 1876 a 1965 e institucionalizaram a segregação racial no país
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Toda a movimentação e principalmente a pose que Childish Gambino assume nesta primeira cena do clipe é uma referência a Jim Crow...

YouTube/Reprodução
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... uma figura caricata da cultura americana do século 19: comediantes faziam blackface e encarnavam um personagem burro e maltrapilho que dançava com movimentos bobos. As Leis de Jim Crow valeram de 1876 a 1965 e institucionalizaram a segregação racial no país

Wikipedia/Reprodução

 

Em dois momentos do vídeo, é possível ouvir (e no segundo, ver) um coral cantando uma música alegre e tranquila quando Gambino puxa uma arma e mata os indivíduos em cena. O clima imediatamente fica sombrio, e ele afirma: “Esta é a América”. Em seguida, entrega o armamento a um homem bem-vestido, que cuidadosamente embala o objeto em um tecido vermelho. Ao fundo, cadáveres esquecidos como coisas. A mensagem é clara: nos Estados Unidos, onde cada estado regula o porte e a comercialização de armas, é mais importante cuidar de um revólver do que de pessoas.

O massacre do coral, inclusive, é uma referência ao ataque sofrido pela população em Charleston, nos EUA, em julho de 2015. Na ocasião, um supremacista branco abriu fogo na Igreja Metodista Episcopal Africana Mãe Emanuel, comunidade histórica que lutou contra a escravidão na região. O terrorista matou nove pessoas.

Bino não se furta, no entanto, de criticar a juventude negra. No clipe, ele retrata a moçada presa a distrações bobas, como gírias, passinhos de dança que estão na moda, preocupações excessivas com a aparência e a compulsão por celulares. Enquanto isso, um mundo de violência, assassinatos e suicídio se apresenta no pano de fundo.

Talvez uma das imagens mais fortes e emblemáticas do clipe seja uma figura de preto nas costas de um cavalo enquanto o grupo de adolescentes reproduz coreografias-tendência. Em um país majoritariamente cristão, esse pode muito bem ser o simbolismo do primeiro cavaleiro do apocalipse, com o branco simbolizando as falsas ideias de paz e religião.

No imagético cristão, o segundo cavaleiro simboliza a morte e a destruição. Não por acaso, no vídeo, quem segue o cavalo é… um carro de polícia.

Reprodução
Ao fundo, os dois cavaleiros do apocalipse: a falsa religião e, na figura da polícia, a morte e a destruição

 

No final do videoclipe, o mesmo músico que Bino mata nos primeiros segundos aparece em meio a carros dos anos 1980. A mensagem tem sido interpretada como a resiliência da arte e da militância negra. Por fim, o único momento de silêncio na obra é quando o cantor, sozinho, acende um baseado. A cena representa um escape, o entorpecer-se para descansar a cabeça de todo racismo e violência institucional sofridos pela população.

O clipe já tem mais de 20 milhões de visualizações no YouTube.

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