Entenda a polêmica em torno do algoritmo das playlists do Spotify
O favoritismo por certos cantores tem capacidade de quebrar o modelo antigo de acensão à fama dos músicos
atualizado
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Nicki Minaj recebeu muita atenção nas últimas semanas. Após o lançamento de seu álbum Queen, segundo colocado na Billboard 200, ela decidiu atirar contra o artista que ocupava a liderança, Travis Scott. A rapper também lembrou seus fãs do lançamento do álbum de Drake Scorpion, quando Spotify mudou as capas de grande parte de suas playlists para terem a imagem do canadense, provocando uma onda de reclamações.
O jornal norte-americano Washington Post questionou o posicionamento da plataforma ao coroar a faixa In My Feelings como a “canção do verão” – determinada pela popularidade da música no período de 1 de junho a 20 de agosto: Ela apareceu em várias playlists por que é realmente popular ou se tornou popular por que apareceu em várias playlists?
Spotify put drake’s face on every playlist but told me they’d have to teach me a lesson for playing my music 10 mins early on #QueenRadio. Even tho they’ve been giving away my music for free for years & I am one of the top Spotify artists of all time.
— QUEEN (@NICKIMINAJ) August 19, 2018
Tradução: “Spotify colocou o rosto de drake em todas as playlists, mas me disse que estavam ‘me dando uma lição’ por eu ter tocado minha música 10 minutos antes [do lançamento oficial] na #QueenRadio. Mesmo que eles estejam dando música de graça há anos, eu sou a artista número 1 do Spotify de todos os tempos”.
Muitos acreditam que Nicki estava somente procurando razões para justificar um lançamento frustrado. O Spotify respondeu às alegações, reiterando o apoio à cantora. No entanto, questionado pelo Metrópoles sobre a política de lançamento de Drake, a empresa afirmou: “não [vamos] comentar casos pontuais”.
Como funciona a curadoria?
Segundo o Spotify, há 100 editores ao redor do mundo com a missão de formular diversas playlists diferentes. A gigante Rap Caviar – com 10 milhões de seguidores – contava com curadoria de Tuma Basa até março deste ano. O sucesso dela foi tão grande que o serviço de streaming montou uma turnê homônima.
Em entrevista à Wired UK, o desenvolvedor responsável pela construção do algoritmo, Edward Newett, conta que o sistema surgiu em meados de 2013, quando o time de TI da empresa teve a ideia de criar a playlist Descobertas da Semana. Segundo ele, a popularidade ocorre por conta da extrema personalização – através das artes das capas e artistas já conhecidos pelo usuário, o Spotify “seduz” e influencia o consumidor escutar àquela seleção musical.
Mas quando o assunto são as playlists desenvolvidas para todos, como a Descobertas da Semana, o Spotify usa três modelos de filtração. Dessa forma, é difícil para artistas menores divulgarem seu som. Os únicos capazes de atravessar essa barreira são aqueles ligados a grandes gravadoras ou que se tornam virais por conta de algum meme ou polêmica.
De acordo com o Spotify, artistas novos e desconhecidos não devem se sentir descorajados: “A plataforma está presente em 65 países no mundo, portanto ao entrar no nosso serviço, o músico já tem acesso a todos esses mercados”.
No entanto, apenas o terceiro modelo de filtração julga as faixas somente com base na canção em si. Os outros dependem da percepção pública sobre um artista para botá-lo no mapa. Aumentando o peso da popularidade e da força econômica.
Em um estudo feito no livro The Digital Critic: Literary Culture Online, Michael Bhaskar descobriu que 20% das faixas no Spotify não têm nenhuma reprodução, enquanto 0,1% das canções dominam as playlists. Essa disparidade inspirou serviços como o Forgotify, que reúne todas as músicas nunca antes reproduzidas.
Embora as playlists curadas pelos times do Spotify proporcionem uma chance a artistas menores, não há como negar que popstars de grandes gravadoras ganham mais visibilidade apenas pelo fato de serem mais conhecidos e do maior acesso ao mercado publicitário.