Em “Triplicate”, Bob Dylan fecha trilogia de clássicos do jazz
Um ano após “Fallen Angels” e dois depois de “Shadows in the Night”, Bob Dylan navega pelo songbook americano e reinterpreta 30 canções
atualizado
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“Triplicate”, novo (e 38º) disco de estúdio de Bob Dylan, talvez fique na história como o primeiro trabalho lançado pelo cantor e compositor após ter recebido o prêmio Nobel de Literatura. A melhor maneira de abordar esse fato é perceber como o prêmio foi incapaz de mudar a abordagem do músico em relação à carreira.
Dylan tratou o Nobel com um misto de mesura e indiferença. De volta ao estúdio, gravou o primeiro álbum triplo da carreira — três CDs com 10 canções cada. Um ano após “Fallen Angels” e dois depois de “Shadows in the Night”, ele navega mais uma vez pelo rico e frutífero songbook americano de canções de jazz e do chamado traditional pop.
Em “Triplicate”, o americano fecha uma espécie de trilogia que, não por acaso, pode ser batizada de Bob Dylan Canta Frank Sinatra. Muitas dessas canções ganharam suas melhores ou mais conhecidas versões na voz de Sinatra, mas também renderam interpretações brilhantes de outros artistas.
“That Old Feling”, por exemplo, virou hit com Sinatra, mas recebeu um tratamento distinto por meio da melancolia incurável de Chet Baker. Agora, a canção também “pertence” a Dylan. Antes, “Shadows” trouxe o encanto da redescoberta desse cancioneiro e “Fallen” reuniu covers (ou “uncovers”, como definiu Dylan) secos e ásperos.
Até pela extensão do trabalho (95 minutos), “Triplicate” parece consolidar um songbook segundo Dylan, como fizeram Sinatra ao longo da carreira e Ella Fitzgerald em sua série inigualável de álbuns lançados entre 1956 e 1964.
Um crooner há anos transitando nas fronteiras entre jazz, folk e rock, Dylan consegue se apropriar desse material extensamente tocado e, de um jeito simples, torná-lo também seu. Até por isso, “Triplicate” é a parte mais pop da trilogia, revisitando “Stormy Weather”, “As Time Goes By” (do filme “Casablanca”), “The Best Is Yet to Come”, “Stardust” e outros tantos hits atemporais.
Aos 75 anos, Dylan viaja no tempo, mas à sua maneira. Inquieto, aberto à invenção e com uma capacidade imensa de se comunicar com públicos de todas as épocas. De ontem, hoje e amanhã.