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Em “Damn”, Kendrick Lamar equilibra crônica social e rap de raiz

O quarto disco do rapper reprisa a crônica pessoal e social de outros álbuns enquanto mostra uma faceta mais lúdica do artista

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Kevin Winter/Getty Images for Coachella
Coachella Valley Music And Arts Festival – Weekend 2 – Day 3
1 de 1 Coachella Valley Music And Arts Festival – Weekend 2 – Day 3 - Foto: Kevin Winter/Getty Images for Coachella

“Damn”, novo disco de Kendrick Lamar, representa o que existe de mais inventivo e divertido no cenário do rap atual. Ainda que Drake seja tão popular quanto Beyoncé e Kanye West, é nos discos de Kendrick que o rap se desenvolve de um jeito autêntico e expansivo, misturando uma crônica do presente a um olhar atento às batidas do passado.

Não à toa, “Damn” chegou às paradas e aos serviços de streaming destronando Drake, Ed Sheeran e quem mais costuma frequentar os ouvidos das pessoas hoje em dia. A popularidade ajuda a perceber o nível de sofisticação das canções do novo disco, todas batizadas de sentimentos e conceitos que resumem os temas do rapper – “Blood” (sangue), “Fear” (medo), “Pride” (orgulho).

Essa frontalidade ao nomear cada faixa também revela uma vontade de Kendrick de reler a própria obra. Aos 29 anos, ele desbravou a crônica social em “Section.80” (2011), remexeu memórias no álbum “Good Kid, M.A.A.D City” (2012) e abraçou o jazz para comentar as injustiças raciais da América no disco “To Pimp a Butterfly” (2015).

A discografia de Kendrick Lamar:

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"To Pimp a Butterfly" (2015): um balanço urgente, mas profundo sobre as injustiças raciais nos Estados Unidos
"Good Kid, M.A.A.D City" (2012): memórias pessoais misturadas a uma renovação do rap da costa oeste, sobretudo de Compton (terra de Dr. Dre e N.W.A.)
"Section.80" (2011): primeira tentativa de Kendrick de forjar um álbum conceitual a partir de mazelas sociais
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"Damn" (2017): uma coleção de crônicas sociais, autoanálises e rap de raiz

Interscope/Divulgação
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"To Pimp a Butterfly" (2015): um balanço urgente, mas profundo sobre as injustiças raciais nos Estados Unidos

Interscope/Divulgação
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"Good Kid, M.A.A.D City" (2012): memórias pessoais misturadas a uma renovação do rap da costa oeste, sobretudo de Compton (terra de Dr. Dre e N.W.A.)

Interscope/Divulgação
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"Section.80" (2011): primeira tentativa de Kendrick de forjar um álbum conceitual a partir de mazelas sociais

Top Dawg/Divulgação

 

 

O passo adiante: autoanálise, crônica e diversão
O que faltava a Kendrick, então? Talvez, num disco nem tão conceitual quanto “Butterfly”, nem tão autobiográfico quanto “Good Kid”, articular as ideias faixa a faixa, como um álbum de fotografias confuso, sem datas marcadas, mas ainda assim instigante.

E assim, música a música, Kendrick modula com uma facilidade natural, como se estivesse dando uma volta no parque enquanto compõe novas canções. “DNA” é o rap de raiz que poucos fazem com eficiência hoje em dia. Mas ele consegue voltar aos anos 1990, visitar Compton, seu berço, e saudar Dr. Dre, conterrâneo e grande influenciador, sem parecer saudosista.

“Element” funciona como um balanço dos sacrifícios que levaram Kendrick até o estágio atual. “Feel” retorna ao jazz de “Butterfly” e ao clima meditativo da compilação de sobras “Untitled Unmastered” (2016), espécie de disco bossa nova do rapper. Ele também é esperto o suficiente para cravar “Humble”, hit tão inesquecível quanto “Bitch, Don’t Kill My Vibe” (gravado em “Good Kid”).

O que surpreende em “Damn” é o quanto o rapper consegue soar pop sem terceirizar suas crônicas sobre raça, paixão e memória. “Loyalty” arregimenta Rihanna e “XXX” emplaca uma improvável colaboração com a banda U2, em nova reflexão sobre as contradições dos Estados Unidos. Nas 14 novas faixas, fica claro que Kendrick só pode ser superado por ele mesmo.

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