Elton John desafia a queda dos setentões em novo álbum
A voz, transformada pelos graves, caiu das regiões mais altas mas ganhou força
atualizado
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Há uma crença que Elton John quebra desde 2001, disco após disco. Aos 68 anos, casado com David Furnished, pai de dois filhos gerados em um ventre de aluguel, Elton desenha em sua carreira uma curva ascendente com lampejos de genialidade. Sua produção nos estúdios é das mais altas dentre a turma dos setentões, suas turnês são emendadas umas às outras e ele segue dizendo o que quer dizer. A voz, transformada pelos graves, caiu das regiões mais altas mas ganhou força, drive, ataque. A crença de que artistas que estejam em seu patamar compensam a falta de brilho do presente com diamantes do passado não lhe serve.
Elton acaba de entregar seu 33º álbum, ‘Wonderful Crazy Night’. Há nele um certo contraponto aos anteriores, o introspectivo ‘The Diving Board’ (2013); o belo e sombrio ‘The Union’, com Leon Russel, (de 2010), e o nostálgico ‘The Captain and the Kid’ (2006). Os anteriores, outras surpreendentes janelas por onde entraram luz e ar fresco na carreira de um homem que poderia estar se acolhendo nas memórias afetivas, são ‘Peachtree Road’ (de 2004) e ‘Songs From the West Coast’ (de 2001), fechando duas décadas de uma retomada ao piano orgânico que havia se perdido nas superproduções das décadas de 1980 e 1990.
‘Wonderful Crazy Night’ retoma a força de criação vigorosa com a qual Elton criou músicas como o soul ‘Philadelphia Freedom’, nos anos 70, ou o rythmn and blues ‘I Guess That’s Why They Call it The Blues’, nos 80. É o outro extremo do suicida em potencial que tentou dar fim à própria vida colocando a cabeça dentro do forno de sua cozinha para depois compor ‘Someone Saved My Life Tonight’, que fez ‘Empty Garden’ em prantos para a memória do amigo John Lennon ou que traficou ‘Candle in the Wind’ de sua inspiradora original Marilyn Monroe para imortalizar o funeral de Lady Di.
A capa do novo álbum diz o que esperar: cores, movimento, despudor e groove. Não haverá um novo hit, mas o peso de seu piano está ali, fresco e sem recursos de autoplágio. A primeira canção, que batiza o disco, é um chamamento suingado às perdições das festas de 1970. “Um rádio zumbindo em todos os carros / E a sensação de que os relógios pararam”, diz a letra de Bernie Taupin. Seu parceiro em todas as canções que o ajudaram a vender 450 milhões de discos pelo mundo volta para assinar as letras. ‘In The Name Of You’, outro rock and roll de pegada dura, fala com pesar, querendo reivindicar o sucesso ao pobre músico de rua: “Eu poderia ir em frente e reivindicar em seu nome”. ‘Looking Up’ é outra para as pistas, mas fecha um conjunto que deixa evidente uma fragilidade na poesia de Taupin. Ele não cria mais personagens cinematográficos como fez brilhantemente nos anos 70 e 80. Apenas fala a seu modo metafórico o que já foi dito.
Elton tem a seu lado o baterista Nigel Olsson e o guitarrista Davey Johnstone, estranhamente festejados como se estivessem retornando ao berço. O fato é que nunca deixaram de tocar com Elton. Olsson, considerado pelo mutante Arnaldo Baptista como “o melhor baterista do mundo” provavelmente pela forma pura como conduz o tempo de Elton valorizando cada toque de caixa, sem enfeites, está ali desde o primeiro disco, ‘Empty Sky’, de 1969. O novo álbum está sendo vendido tanto em versão padrão, CD com dez faixas, quanto na edição de luxe, que traz duas canções adicionais: ‘Free and Easy’ e ‘England and America’. Outro modelo é o super de luxe, com um CD e um LP com quatro faixas extras, além de um livro de 20 páginas com fotografias e as letras das músicas. O material está no site oficial de Elton John.