Do clássico às ruas: DJ Raffa Santoro celebra 35 anos no rap
No próximo dia 1º de novembro, o produtor musical vai promover uma superfesta comemorativa com 26 nomes importantes do hip-hop nacional
atualizado
Compartilhar notícia
Quando o assunto é hip-hop, o Distrito Federal tem lugar de destaque no país. Um dos responsáveis por colocar Brasília no mapa do rap nacional, Claudio Raffaello Santoro, o DJ Raffa, comemora 35 anos de dedicação ao movimento. No próximo dia 1º de novembro, o produtor musical celebrará a data na companhia de 26 importantes artistas do gênero. A festa acontece das 19h às 21h, no Complexo Cultural Funarte (Eixo Monumental), e conta com nomes como Viela 17 (DF), Crônica Mendes (SP), Dudu do Morro Agudo (RJ) e F-Dois (RO), entre outros.
No palco, o brasiliense irá relembrar momentos especiais de sua trajetória. Desde os tempos de b-boy com a crew The Break, em 1984, passando pelo lançamento do grupo DJ Raffa e os Magrellos, em 1987, até os dias atuais como produtor e arranjador musical de diversos artistas relevantes da cena nacional.
Como parte das celebrações de aniversário, DJ Raffa Santoro acaba de lançar novo álbum com 14 faixas. A coletânea conta com músicas de artistas produzidos por ele nos últimos anos, e, também, com parcerias inéditas. Rapadura Xique Chico, DJ Jamaika, Markão Aborígini, Dree-k e Crônica Mendes são alguns rappers presentes no CD.
“O interessante de estar nesse movimento há mais de 30 anos é conseguir atravessar as barreiras do tempo e continuar trabalhando, tanto com a velha quanto com a nova escola. É hora de unir gerações”, acredita o produtor.
Respeitado nacionalmente desde 1987, DJ Raffa juntou as influências da música clássica e da bossa nova — que ouvia em casa com os pais, o maestro Claudio Santoro (aquele que dá nome ao Teatro Nacional) e a bailarina Gisele Santoro — ao som marginal que reverberava nas ruas periféricas do DF. Com o lendário grupo DJ Raffa e os Magrellos, gravou o terceiro LP de rap do país, A Ousadia do Rap de Brasília, e foi o primeiro a romper a barreira do eixo Rio-São Paulo e conseguir trazer visibilidade para o hip-hop feito na capital federal.
Nova geração
Atualmente, a sua história e seu peso para o rap nacional, por vezes, assusta e faz jovens terem receio de abordarem o artista. Segundo ele, um medo infundado e que dificulta o elo com os recém-chegados. “Tento mostrar que eu sou um cara acessível. Na verdade, a cada dia quero trabalhar mais com a juventude, eles me rejuvenescem e me ensinam muito”, considera o produtor.
Para Raffa, produzir discos é o mesmo que construir sonhos, já que, na maioria das vezes, ajuda músicos independentes a darem os primeiros passos na carreira. “Trabalhei com muita gente e é sempre recompensador ver onde alguns deles chegaram”, ressalta. O músico só não gosta quando tentam rotulá-lo como rapper old school, prefere surpreender a todos com os instrumentais arrojados que cria. “Mantenho o desejo e a necessidade de me atualizar intactos”, esclarece.
De pai para filho
O talento para a criação sonora do DJ corre nas veias. Filho do grande maestro Claudio Santoro e da bailarina Gisele Santoro, Raffa teve o estudo de dança e música como matérias obrigatórias em casa durante a infância. “Eu fiz aula de violino, piano, jazz, balé… Era uma obrigação boa, cumprida ciente de que seria algo importante para mim”, recorda.
Apesar de seguir por caminhos musicais tão distintos dos do pai, Raffa acredita ter contado com o apoio do maestro – morto em 1989. “Sempre tive a liberdade de escolher ser o que quisesse. A lição básica do meu pai era: ‘Faça o que for fazer, mas faça seriamente’. Infelizmente, ele faleceu enquanto eu ainda dava os primeiros passos na carreira, mas ele adorava que eu estava me transformando num cara de criação. Ia até o meu quarto, ouvia minhas composições, comentava, criticava e dizia onde eu podia melhorar”, conta o DJ.
O rigor na formação deu a Raffa habilidades difíceis de se encontrar em profissionais do rap. “Hoje sou um DJ que sabe ler partitura”, ressalta. Aptidão essa que lhe foi útil quando, ao lado do grupo Patubatê, foi convidado para se apresentar com a camerata do maestro João Carlos Martins, nas Paraolimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.
“O maestro indicava um compasso e a gente seguia direitinho, porque os integrantes do Patubatê também são formados em percussão clássica. A gente surpreendeu todo mundo. Eles olhavam para a gente, um DJ e um bando de percussionistas malucos que sabiam ler partitura, e não acreditavam. No final vieram todos nos parabenizar”, recorda orgulhoso.
O preconceito a que Raffa se refere é a imagem generalista da qual DJs são apenas reprodutores, e não criadores de música. “Colocam todos no mesmo patamar e não é assim. Muitos são e devem ser chamados de músicos, sim, profissionais que compõem as sonoridades do zero. Achar que DJ só serve para dar play em festa é um grande engano”, conclui.