Críticas políticas marcam lançamentos de bandas locais após pandemia
Suíte Super Luxo e Carne Doce estão entre os grupos que driblaram obstáculos para presentear fãs com novos trabalhos e composições atuais
atualizado
Compartilhar notícia
Apesar dos desafios impostos pela pandemia do novo coronavírus, representantes da música local têm apostado em novas estratégias de produção e lançado trabalhos com temáticas bastante atuais.
As bandas Suíte Super Luxo, do Distrito Federal, e Carne Doce, de Goiás, ambas com forte presença na cena local, por exemplo, acabam de disponibilizar novas canções e videoclipes nas plataformas digitais. Além de influêcias musicais como o rock, os lançamentos têm em comum o viés crítico, evidenciado por letras carregadas de reflexões sobre contexto político e social.
Todo Império Um Dia Cai é o primeiro single do terceiro álbum da Suíter Super Luxo, que completa 18 anos em 2020 e se mantém fiel às influências de punk, garage rock, psicodelia e guitar bands dos anos 1980 e 1990. Segundo Lucq, a música reflete “sobre mudanças, ilusões de poder que transitam e se sucedem na história do planeta e das pessoas em geral”. “
“De certa forma, também fala sobre o estado atual de mazelas no país promovido pelo projeto secular do ‘grande acordo nacional’”, comenta o vocalista, com uma referência ao famoso diálogo entre o senador Romero Jucá e o empresário Sergio Machado, em 2016.
O vídeo que acompanha a estratégia de lançamento também explora a temática, com memes, imagens históricas de protesto e impérios que caíram ao longo da história. “Dinamizamos nossas ações para ampliar o contato com o público nas redes sociais. Temos recebido bons feedbacks”, conclui.
Já a banda Carne Doce, comandada pela cantora e compositora Salma Jô e pelo guitarrista Macloys Aquino, apresentou na última sexta-feira (18/09), também pelas redes sociais, o álbum Interior. São 12 faixas permeadas por assuntos que alcançam das relações afetivas às várias problemáticas da sociedade atual, como a cultura do cancelamento.
Enquanto Temporal, faixa que abre o disco, aborda o fim do mundo e a arrogância humana ao lidar com o risco de destruição do seu habitat, a canção seguinte, que dá nome ao álbum, fala sobre resiliência. “Um tema inédito para o grupo, num tom quase religioso ou de auto-ajuda”, descreve o banda.
“Todos os nossos discos têm canções com temas políticos, culturais, comportamentais. Isso vem da forma de compor da Salma, que escreve as letras, de se inspirar por esses movimentos, na tentativa de compreender essa realidade objetiva, mas não só por eles, ela acerta também quando escreve sobre questões íntimas, psicológicas e, agora no “Interior”, até filosóficas e espirituais. Salma se instiga com toda complexidade humana”, explica Macloys.
Produção na pandemia
A mesma pandemia que distanciou público e artista, tem proporcionado às bandas tempo para se dedicar aos lançamentos e descobertas que simplificaram o processo de produção.
“Tem sido desafiador porque com o distanciamento físico não estamos podendo nos reunir e tocar, tivemos que achar outras formas formas de fazer trabalho. Por outro lado, a produção on-line tem nos permitido fazer as coisas sem pressa”, diz Lucq Albano, da Suíte Super Luxo.
Das 14 faixas que integram o trabalho, apenas quatro ainda precisam passar por mixagem e a maior parte da produção foi feita a distância. “Iniciamos a pré-produção e as gravações em estúdio, mas com a pandemia tivemos que adotar o trabalho remoto. No final, estamos bastante satisfeitos com o resultado, que tá tomando forma e soando no álbum”, completa.
Já Salma, Macloys e demais integrantes da Carne Doce gravaram Interior praticamente todo entre março e agosto deste ano. “Isso fez com que fôssemos mais criativos”, diz o músico.
“Ocorreu que essa dificuldade para reunir a banda nos fizesse encontrars caminhos interessantes. Em termos de letra, todas as canções já estavam compostas antes do isolamento, mas muito da sonoridade tem a ver com esse momento. Não reunimos toda a banda desde o dia 15 de março, então o João Victor, nosso produtor, tirou as baterias de algumas faixas e produziu beats com samples. Em Sonho, por exemplo, aquela bateria não foi tocada, mas tem elementos sampleados de ensaios antigos, gravados com iPhone”, completa.
O maior desafio que o grupo tem enfrentado, na opinião de Macloys, foi a suspenção dos shows. “O que aprendemos de melhor nesses seis anos de banda foi fazer apresentações para divulgar os discos. Somos uma banda de ao vivo, é no show que demonstramos nossa potência”, destaca.
“Acreditamos muito nas nossas gravações, mas muito da nossa forma de fazer música vem dos ensaios, dos shows, de tocar junto e ter resposta de público. Eu não acredito na sustentabilidade de lives, elas nunca vão substituir a experiência real, física, do ao vivo. Então o que podemos fazer agora é tentar divulgar da melhor forma possível, ressignificar as novas músicas e o Interior nas redes, tentar criar expectativas para quando pudermos voltar a nos apresentar, conclui Macloys.