Crítica: The Strokes tenta se renovar e falha em “Future Present Past”

No espaço de 15 anos, os The Strokes parecem ter ido do céu ao inferno. O quinteto revolucionou o rock alternativo em 2001, com a obra-prima “Is This It”: espírito garageiro e experiências urbanas reunidas num disco impecável, tão pop quanto punk.

A mesma banda que inaugurou uma nova era na música indie passa por crises criativas desde o início desta década de 2010. Recém-lançado, o EP “Future Present Past” é mais um testemunho de um grupo que insiste em tropeçar em si mesmo.

Com apenas quatro faixas, o trabalho indica que os Strokes estão trabalhando em material novo há algum tempo. E é sinal de que, em breve, deve vir disco novo por aí. Mas o EP funciona quase como um tímido alarme, o trailer de um desastre: dá para esperar material decente após novas músicas tão frustrantes?

A única boa novidade encontra respiro nos bastidores, já que este é o primeiro produto da banda gravado e lançado por selo próprio, o Cult, fundado por Julian Casablancas.

A chegada do EP, em teoria, ensaia um recomeço. Vale lembrar que o único outro registro nesse formato marcou a estreia dos Strokes. “The Modern Age” antecipava a faixa-título, “Last Nite” e “Barely Legal” , três gemas que formariam a estrutura lírica e melódica do disco “Is This It”.

Nostálgicos e pouco inspirados
O conceito minimalista pensado pelo vocalista, letrista e líder do quinteto nova-iorquino busca refletir sobre a própria mitologia dos Strokes. Como um diário sincero e melancólico sobre dias bons e ruins. A pista óbvia é dada pelo título. Por isso, “Drag Queen” é o futuro, “OBLIVIUS” ilustra o presente e “Threat of Joy”, um flashback do passado.

De um jeito curioso, “Future Present Past” não deixa de ser bastante honesto com os fãs da banda. “Threat of Joy” soa como uma ingênua releitura de poderosas baladinhas que se tornaram canções universais da geração 2000, como “The Modern Age”, “Someday” e “12:51”. É bem possível que cada ouvinte selecione seu par favorito de “Joy”.

Próxima das digressões semi-eletrônicas ouvidas nos fracos discos “Angles” (2011) e “Comedown Machine” (2013), “Drag Queen” revela uma crônica no mínimo confusa sobre as angústias contemporâneas provocadas pelo consumismo. “Não entendo / Seu sistema ferrado / Essa cidade sinistra”, lamenta o narrador.

O vocalista Julian Casablancas: banda em crise criativa interminável

O futuro nebuloso pós-EP
No “presente”, OBLIVIUS surge como a faixa mais aceitável de “Future Present Past”. Uma coleção de guitarras brincantes e um crescendo que grita “de que lado você está?” preenchem a narrativa de um Julian sempre pensativo sobre relacionamentos e as minitorturas que o cotidiano impõe. Essa mesma faixa ganha um remix pouco inspirado do baterista Fabrizio Moretti, fechando o EP.

Banda cada vez mais sabotada por projetos paralelos de seus principais integrantes e novas músicas ensimesmadas e preguiçosas, o Strokes aponta para um futuro um tanto nebuloso. Casablancas criou o grupo The Voidz para reforçar o catálogo de seu selo e gravar um segundo disco solo, “Tyranny” (2014).

O talentoso guitarrista Albert Hammond Jr. lançou em 2015 seu terceiro CD sozinho, “Momentary Masters” (2015), produzido por Gus Oberg, o mesmo de “Future Present Past”. Cada canção inédita, a exemplo de “OBLIVIUS”, entrega uma criatividade frouxa, abrigada em ideias datadas e recicladas. No The Strokes, a separação é mero detalhe.