Crítica: o álbum “Joanne” é o ápice da reinvenção de Lady Gaga
Lançado na última sexta (21/10), o quinto trabalho de estúdio da cantora norte-americana explora sons distantes dos que a tornaram conhecida
atualizado
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A Lady Gaga que protagoniza “Joanne”, quinto álbum solo de estúdio da cantora lançado na sexta-feira (21/10), não é a mesma que capturou nossa atenção por sua excentricidade há quase uma década. Longe estão os tempos de figurinos extravagantes, pop eletrônico, e videoclipes que se assemelham a grandes produções cinematográficas. A estética do novo álbum é crua, marcada pela simplicidade e pela falta de artifícios.
Não se pode dizer que essa mudança foi repentina. Desde que o seu último disco, o “ARTPOP”, de 2013, ficou abaixo das expectativas comerciais e de críticos e fãs, tem sido evidente o esforço de Gaga para transformar sua persona. O primeiro passo foi dado em 2014, quando ela se juntou com a lenda do jazz Tony Bennett e juntos gravaram um disco inteiro de duetos, o “Cheek to Cheek”.Já em 2015, muita expectativa foi criada em volta da apresentação que ela faria na cerimônia do Oscar daquele ano. A performance, de uma canção do musical “A Noviça Rebelde”, acabou sendo muito mais simples do que se esperava, com foco principal na voz da cantora. As aparições públicas também se tornaram mais discretas, as referências musicais foram mudando, e Gaga ficou cada vez mais distante da postura provocativa pela qual ficou conhecida. “Joanne” é o ápice dessa reinvenção.
Novos colaboradores
A mudança já fica bem clara na lista de colaboradores do álbum. De fora ficaram parceiros antigos e conhecidos da música eletrônica, como Zedd e Madeon. RedOne, o responsável por moldar o som dos primeiros discos de Gaga, tem apenas créditos de composição na faixa “Angel Down”, que é bem diferente dos trabalhos que a dupla já produziu.
No lugar deles entram nomes ecléticos e mais alternativos como o produtor Mark Ronson, responsável pelo sucesso de 2015 “Uptown Funk”, e o novo queridinho do pop alternativo, BloodPop. Os dois produzem todas as faixas do disco. A cantora britânica Florence Welch, Father John Misty, Beck e até o líder da banda de rock Queens of the Stone Age, Josh Homme, também aparecem como colaboradores do disco.
Do pop ao country
As marcas dos parceiros de trabalho aparecem por todo o álbum, que passa por pop, blues, jazz, rock e principalmente country. “AY-O”, “Sinner’s Prayer” e “Million Reasons” são apenas alguns exemplos de faixas com fortes elementos e referências ao estilo. A última é destaque: uma verdadeira balada country, com todo o sentimento e poder que uma música do tipo requere.
Partes da Gaga excêntrica ainda aparecem, seja na forma como ela pronuncia algumas palavras, na entonação de voz em certos momentos ou em canções que remetem ao antigo estilo. “Dancin’ In Circles” lembra “Alejandro”, do “The Fame Monster”, de 2008. Já “John Wayne” parece uma síntese das duas versões de Gaga, misturando uma base de rock e country com a entonação particular da cantora.
Canto teatral
Esses resquícios, ao invés de suavizarem a transição entre as duas personas da norte-americana, acabam enfraquecendo um pouco o novo álbum. A forma teatral como ela canta contrasta com a simplicidade de alguns arranjos e acaba soando mais como emulação de emoções do que a expressão de sentimentos verdadeiros.
Apesar de tudo, há mais acertos que erros em “Joanne”. O dueto com Florence Welch em “Hey Girl” é uma ode ao companheirismo entre mulheres e evidencia a química entre as duas. Até o primeiro single “Perfect Illusion”, que decepcionou vários dos fãs da “mother monster”, faz muito mais sentido dentro do conjunto do álbum do que avulso, como foi liberado inicialmente.
O novo álbum representa uma real evolução do trabalho de Lady Gaga. Diferente do pop competente, mas já com cara de repetição apresentado em “ARTPOP”, o trabalho arrisca e, em grande parte, tem sucesso. O maior mérito de “Joanne” é apresentar uma verdadeira nova faceta de Lady Gaga, uma que também vale a pena explorar.
Avaliação: Bom
Ouça: “Joanne”, “John Wayne” e “Hey Girl”