Crítica: “Lemonade” é o álbum mais visceral e importante de Beyoncé
Lançado de surpresa no sábado (23/4), o novo disco mostra a cantora com domínio total de suas origens
atualizado
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No sábado (23/4), o mundo da cultura pop passou por uma turbulência: Beyoncé lançou, pela segunda vez consecutiva, um álbum de surpresa. E mesmo que houvesse algum sobreaviso, ninguém estava totalmente preparado para o que estava por vir. “Lemonade”, sexto registro de estúdio da cantora, é, seguramente, seu álbum mais provocativo e marcante.
Lançado em conjunto com um vídeo conceitual com quase uma hora de duração, ambos os trabalhos narram detalhadamente a história tempestuosa de um casamento marcado por acusações de traição e mágoa. Mas o novo projeto da cantora norte-americana vai muito além de uma briga de casal. A ferida mais tocada por Beyoncé é a da questão racial, onde ela aponta para temas importantes como racismo e violência policial.
Num mundo dominado por singles, “Lemonade” é um álbum de verdade. As faixas seguem uma sequência de acontecimentos e formam um conjunto coeso. A música é cinemática. Beyoncé narra vividamente cenas de um casamento em ruínas e o ouvinte sente como se estivesse presenciando o momento. As letras, ao mesmo tempo em que são extremamente pessoais, têm apelo universal.
Musicalmente, o disco é também o conjunto mais diversificado já apresentado pela cantora. As músicas vão do pop ao country (“Daddy Lessons”), passando por R&B, rock e blues. Um dos destaques, a faixa “Don’t Hurt Yourself”, tem participação do ex-vocalista da banda The White Stripes, Jack White.Com sample de Led Zeppelin, a música traz Beyoncé atacando os versos de uma maneira não vista antes. No fim da faixa, ela afirma: “Este é o seu aviso final. Você sabe que eu te mantenho vivo. Se você tentar essa merda de novo, vai perder sua mulher”. Na voz há ao mesmo tempo raiva e desespero. Esse contraste entre vulnerabilidade e força é constante no álbum. Em “Sorry”, ela diz: “Ele só me quer quando não estou lá. É melhor ele chamar a Becky com o cabelo bom”.
Racismo e violência policial
O disco é fortemente permeado por uma questão da qual Beyoncé se tornou defensora árdua: a violência contra negros. Em “Formation”, primeiro single lançado pela cantora, ela explora o assunto com um clipe protagonizado só por negros e negras. Já em “Freedom”, Beyoncé está acompanhada de Kendrick Lamar, um dos principais nomes do ativismo norte-americano. Ao lado dele, ela brada: “Eu mesma vou quebrar as correntes. Não deixarei minha liberdade apodrecer no inferno”. “Lemonade” pode ser uma experiência universal, mas é decididamente feito do ponto de vista de uma mulher negra.
A parte mais forte do álbum é a inicial, onde Beyoncé coloca para fora todas as mágoas de forma pungente. A sequência de “Hold Up” a “6 Inch” talvez seja a melhor da carreira dela. À medida que o álbum vai avançando em direção à reconciliação do casal, o disco perde um pouco da força, mas não deixa de ser excepcional. A lista de colaboradores também é invejável: além de Jack White e Kendrick Lamar, o disco tem participações de James Blake e The Weeknd. Assinam a produção nomes conhecidos como Diplo e Hit-Boy.
Mas este é o show da Beyoncé. Por todas as faixas de diferentes ritmos e cadências, é ela quem segura o álbum como um todo unificado. Este é claramente o trabalho de uma artista no topo de sua forma, mostrando uma Beyoncé mais segura de si e das suas origens. No fim das contas, se a história que inspirou o álbum é realidade ou ficção, realmente não importa: o talento e as emoções ali presentes não poderiam ser mais reais.
Avaliação: Excelente
Ouça: “Hold Up”, “Don’t Hurt Yourself”, “6 Inch”, “Formation”
“Lemonade” está disponível para streaming no aplicativo Tidal e para download no Itunes.