Crítica: Emicida usa afeto para seu grito de protesto em AmarElo
No disco, lançado nesta quinta-feira (31/11/2019), o rapper mostra seu talento como cronista do contemporâneo
atualizado
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No mundo atual – e, principalmente, no Brasil atual –, está cada vez mais pesado conviver. É briga, conflito, embate… o termo pouco importa, afinal, conviver com uma metralhadora de absurdos tornou-se complicado demais. Num cenário desses, Emicida parece trazer resposta. Em AmarElo, o rapper procura no afeto respostas para os duros tempos.
Essa ideia está escancara no título: AmarElo, uma brincadeira com a cor e com a proposta de que o amor é o elo, capaz de unir diferenças e anular o ódio.
Principia abre o disco dando o tom da proposta de Emicida: em meio a uma melodia calma, ele fala das questões sociais, da diversidade religiosa e de um Brasil que convive lado a lado com a violência (urbana, estatal e econômica). “Paz é reparação, paz não se constrói com tiro”, talvez seja um dos versos mais importantes do Brasil de 2019.
Emicida, então, adentra no cotidiano. Em meio ao turbilhão, todo mundo precisa trabalhar, comer e amar. É disso que fala A Ordem Natural das Coisas: “O som das criança indo pra escola convence. O feijão germina no algodão, a vida sempre vence”, diz o rapper.
Cotidiano
Para viver em paz, a amizade é elemento crucial. Por isso, Emicida canta Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo), parceria com Zeca Pagodinho. A vida cotidiana, que mistura amor, violência e preocupação, segue por Paisagem, Cananéia, Iguape e Ilha Comprida e 9nha.
A questão racial volta com força em Ismália: “Ela quis ser chamada de morena. Que isso camufla o abismo entre si e a humanidade plena. A raiva insufla, pensa nesse esquema. A ideia imunda, tudo inunda”. A faixa ainda conta com declamação de Fernanda Montenegro.
Duas faixas trazem um lado mais pop e radiofônico do disco. Eminência Parda, por exemplo, usa batidas mais características do rap, além de vocais de Dona Onete, Jé Santiago & Papillon. AmarElo, música-título, é mais pop de todas: o single já havia sido lançado, com vocais de Majur e Pabllo Vittar.
Emicida se mantém firme em seu estilo: usa o que há de mais importante na música brasileira para trazer sua mensagem. Porém, ao invés da raiva, ele se indigna com afeto.
Avaliação: Ótimo