Crítica: Bob Dylan relê o pop de Frank Sinatra no CD “Fallen Angels”
Um ano após “Shadows in the Night”, o astro folk mostra mais versões de clássicos americanos gravados originalmente por Frank Sinatra
atualizado
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Quando Bob Dylan resolve cantar músicas originalmente famosas na voz de Frank Sinatra, chamar o resultado de um mero disco “cover” pode parecer um tanto simplista. Pouco mais de um ano após “Shadows in the Night” (2015), o crooner folk revisita e relê o pop romântico de Sinatra no álbum “Fallen Angels”, que será lançado oficialmente nesta sexta (20/5).
Mais que um tributo, o 37º disco de estúdio do artista é a segunda parte de um projeto memorial e sentimental dedicado às tradições da música americana do século 20. Dylan escolheu canções como “Come Rain or Come Shine” e “Young at Heart” para gravá-las à sua maneira.
Com voz rouca e a secura melódica bem própria das suas últimas duas décadas de carreira, o cantor retorna às décadas de 1930, 1940 e 1950 para resgatar composições imortalizadas por Sinatra.
Abaixo, listamos mais impressões sobre “Fallen Angels”:
Dylan intérprete: relaxado e despretensioso
É interessante a sincronia histórica. Na semana em que sai “Fallen Angels”, o revolucionário “Blonde on Blonde” completa 50 anos. Há uma distância considerável entre esses dois Dylans. Desde que se reinventou mais uma vez com “Time Out of Mind” (1997), ele tem gravado discos de blues e folk cada vez mais cerebrais e alegóricos.
Ao vivo, toca seus clássicos sem seguir as melodias originais. O artista pop deu lugar ao poeta blueseiro. Aqui e ali, Dylan descansa seu espírito para cantar clássicos da música americana. Fez isso com temas de natal em “Christmas in the Heart” (2009), sem muito sucesso.
Na sequência de “Shadows”, Dylan dispensa orquestrações dramáticas ou firulas sonoras. Ele reencontra Sinatra da maneira mais relaxada possível, como se estivesse numa gravação entre amigos, jogando cartas e bebendo vinho. Nem por isso deixa de emprestar sua identidade a gemas do pop tradicional.
Dylan, um Sinatra rústico
“Come Rain or Come Shine”, “It Had to Be You” e “Young at Heart” são os melhores exemplos da leveza de “Fallen Angels”: revelam um ar de gravação ao vivo, com precisas e mínimas notações de guitarra, baixo e bateria. Sem ambicionar a dramaticidade das versões de Sinatra, Dylan recorre aos seus próprios atributos para verter a levada pop original em canções folk.
Nesse sentido, é até curioso que “Skylark”, única música nunca gravada por Sinatra, exiba a produção mais fantasista de todo o disco. Quando lançou “Shadows”, ele se referiu aos covers como “uncovers”. Versões desnudas de músicas extensamente tocadas e reproduzidas por outros artistas. Na voz de Dylan, elas recebem uma atmosfera algo caipira e rústica, mas ainda assim sofisticada e jazzística.
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“Fallen Angels” sai oficialmente nesta sexta (20/5)