Crítica: Bluesman de Baco Exu do Blues é crítica de um Brasil racista
Rapper brasileiro entrega um dos discos mais fortes do ano e fortalece o debate político do país
atualizado
Compartilhar notícia
Baco Exu do Blues é daqueles nomes da música que começam como um sussurro entre pessoas de um nicho e, de repente, viram um grito impossível de não se escutado. Essa potência toma forma em Bluesman (2018), disco de rap, lançado no fim do ano, com fortes chances de se tornar o melhor do ano.
Baco Exu, nome artístico do baiano Diogo Alvaro Ferreira Moncorvo, já havia causado boa impressão com seu disco de estreia: Esú (2017) – eleito um dos melhores do ano pelo Metrópoles e vencedor do Prêmio Multishow.
Na atual obra, Baco rompe definitivamente qualquer barreira e se consolida como um dos mais frutíferos novos nomes da música brasileira. A ponto de conseguir chamar atenção de Beyoncé e Jorja Smith.
Musicalmente, o som proposto pelo artista brasileiro entra no contexto do que vem sendo produzido no mercado internacional. Suas rimas e versos trazem crítica racial, mistura de ritmos, sons eletrônicos, verve caribenha… Tudo isso empacotado numa releitura autoral e extremamente criativa.
A faixa-título é um soco no estômago de um país no qual o racismo segue sendo um marca mesmo 130 anos após a abolição da escravatura. Em Bluesman, o rapper dispara:
Eles querem o preto com a arma pra cima, num clipe na favela gritando ‘cocaína’, querem que nossa pele seja pele do crime, Pantera Negra seja só um filme. Eu sou a porra do Mississipi em chama. Eles têm medo pra caralho de um próximo Obama
Baco Exu do Blues
O cantor e compositor segue subindo o tom nas outras faixas do disco, sempre com associações a elementos atuais da cultura pop. Em Kanye West da Bahia, parceria com DKVPZ e Bibi Caetano, ele diz: “Ser preto não é só ter pele”.
A crítica racial ganha ainda mais impacto graças à força musical de Baco Exu. Mesmo para um ouvinte pouco afeito ao rap (como eu), o disco é cativante, trazendo uma poética e estética quase impossível de ser abandonada.
Além das músicas, o artista lançou um curta-metragem de oito minutos sobre Bluesman. Veja:
O disco surge em um momento de intensa mudança (e, também, apreensão no Brasil). Deve ser ouvido várias vezes, até enjoar – se é que isso pode acontecer.
Avaliação: Excelente