Crítica: Arctic Monkeys atenuam guitarras em Tranquility Base Hotel
Sexto álbum dos roqueiros ingleses navega por sonoridades do passado, como jazz standard e lounge pop
atualizado
Compartilhar notícia
Os Arctic Monkeys nunca ficaram tanto tempo sem lançar disco novo. Tranquility Hotel Base Hotel & Cassino (2018) interrompe um hiato de cinco anos, desde AM (2013). Algo de bastante significativo mudou na vida dos roqueiros: eles passaram dos 30. E parecem estar um tanto atônitos com esse lance de envelhecer, administrar a fama, remexer o passado e imaginar o futuro.
Pela primeira vez na carreira, o quarteto atenua as guitarras e assume ares de “velhos” homens fazendo música. O disco abre com o verso “I just wanted to be one of the Strokes” (“só queria ser um dos Strokes”) na faixa Star Treatment, apontando pelo menos duas pistas sobre o que se esconde por trás de Tranquility Base – alusão ao nome do lugar onde Neil Armstrong e Buzz Aldrin pisaram na lua, em 1969.
Primeiro, trata-se de uma confirmação de que o disco por pouco não virou um trabalho solo do letrista e vocalista Alex Turner. Desta vez, ele se divide entre notas de piano e órgão e assina a produção de um disco do grupo pela primeira vez.
Por fim, o CD busca refletir de maneira desencantada sobre o que vem depois da eletricidade baladeira de outrora: uma pensata sobre o mundo maluco de hoje, nossa relação com a tecnologia, as coisas que compramos, nossos ídolos. Após a comédia juvenil festiva, irrompe a ficção científica noir.
Turner e companhia buscam no jazz standard, no lounge pop e na tradição de grandes cantores-compositores, de David Bowie a Leonard Cohen, a matéria-prima para narrativas “maduras”. One Point Perspective sentencia que “um cantor deve morrer”. Quando há guitarras, elas surgem arranhadas em Golden Trunks.
O maior acerto dos Monkeys em Tranquility aparece em Four Out of Five, quando os ingleses fabulam sobre o escapismo da tal Tranquility Base, um lugar para relaxar e, quem sabe, se livrar de preocupações sobre nossa distopia terrena cotidiana. “Desde o êxodo, tudo está sento gentrificado”, verifica Turner no coro.
No mais, as faixas representam mais uma fase de transição, quase um álbum limítrofe, de crise, do que um produto conceitual instigante. Lá pelas tantas, não poderiam faltar uma canção intitulada Science Fiction e uma crônica sobre a cultura de aparências, likes e shares das redes sociais, She Looks Like Fun.
Tranquility Base Hotel & Cassino, não à toa, fecha com um versinho de autoironia desiludida que caberia tranquilamente em qualquer outro registro do quarteto. “I might look as if I’m deep in thought /
But the truth is I’m probably not / If I ever was” (“Posso parecer que estou em pensamentos profundos / Mas a verdade é que provavelmente não estou / Se é que eu já estive”).
Avaliação: Regular